Capítulo 12

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Algo interessante aconteceria com o professor nos dias seguintes àquela conversa com a Sra. Smith.

O questionamento levantando por ela, se estava ou não levando aquele relacionamento a sério, vagava em sua mente de forma desconfortável. O fato era que Stephen não sabia como responder aquilo, apenas não gostou de ser questionado.

Houve momentos em que se sentiu um canalha ao constatar que talvez a velha de cabelos brancos e olhos azuis intimidantes estivesse certa. Aquilo era apenas desejo sexual? Uma dúvida constante em sua mente.

Manoela estava sendo, em muitos anos, a sua melhor parceira entre os lençóis. Perdia apenas para o seu primeiro grande amor, a filha de um dos empregados da casa do seu tio Andrew.

Era verão, e todos os verões dos Webers são passados naquela casa imensa, mesmo que os desafetos e amarguras fossem jogados em suas caras, todos permaneciam juntos, debaixo do mesmo teto, até a volta de suas atividades normais.

A avó já tinha ido, o avô fora muito antes. E ali, tentando ficar fora do radar do primo odiado, fez amizade com a jovem Isabel, filha do caseiro. Uma moça delicada, de cabelos castanhos encaracolados até no meio das costas e esguia e quase da mesma altura. Isabel tinha olhos raros, de um tom próximo ao verde. Praticamente uma pintura, que como tal, era admirada por quase todos os jovens rapazes daquele lugar. Mas foi por Stephen que ela se encantou. O Weber mais bonito.

Em um dia quente, refugiados bem longe do lago em que a maioria dos ali presentes se refrescavam, os dois se acomodaram embaixo de uma grande árvore e liam algum romance que fora furtado da biblioteca de sua avó. Isabel lia Madame Bovary de Gustav Flaubert, e quando passara pela tal cena "peculiar", olhou para Stephen com as faces rubras, e um tanto ofegante, sugeriu que transassem.

Stephen, no auge dos seus dezesseis anos – Isabel tinha dezessete – nunca havia feito tal coisa. Seus dois irmãos mais novos já tinham desfrutado dos prazeres carnais, enquanto que o tímido e recluso Stephen viajava em seus romances de outras épocas. Olhou para a garota assustado e ao mesmo tempo excitado com essa possibilidade. Isabel pegou o livro que ele carregava em suas mãos – Charlotte Brontë, a escolhida daquela vez – e o jogou para longe... E então, o beijou.

Nesse instante, aconteceu o primeiro beijo entre eles e durante a noite, escondidos na garagem, Stephen finalmente perdera a sua virgindade. E assim seguiram por todo aquele verão.

O melhor verão da vida do professor. Stephen nunca esqueceu  Isabel e também  a primeira traição enfrentada.

No próximo retorno à casa dos tios, no Natal daquele mesmo ano, um ansioso Stephen viu a sua amada de forma depravada – palavras dele próprio – com seu maior rival nesse mundo: o seu primo. Anos mais tarde, Christopher levou outra mulher do primo, aquela que era mãe dos seus dois filhos, e dessa forma, todos os natais que passou após o divórcio se tornaram penosos.

Ficar ali, sentado na mesma mesa ao lado dos filhos e ouvido a sua ex mulher exaltando as qualidades que o outro tem sobre ele, tinha um efeito derrotado em Stephen. Sentia-se insignificante e incompetente. Esse é um dos motivos de Stephen ter aceitado ser professor do outro lado do país, permitido dessa forma a perder vínculos afetivos com os seus filhos. Stephen tinha certeza que seus filhos o detestavam.

Abominava mais do que tudo aquela família que só lhe infligia humilhação, e tinha mais ódio de si por permitir que fizessem tudo aquilo. O pai o olhava com desdém, não podia acreditar que gerou tal fracasso. O único momento bom eram as conversas na biblioteca com a sua prima. Esta sim com coragem suficiente de assumir o seu relacionamento com uma mulher formidável, a mesma que ofereceu a Stephen esse cargo na universidade. Eram as suas únicas e verdadeiras amigas, e agora ele tinha Manoela. E como ela lhe lembrava de Isabel em algumas atitudes e posições.

O Professor [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora