Capítulo 7

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"Queria falar dos sonhos

Dizer os meus secretos desejos

Que é largar tudo

Para viver com você

Este inconfesso desejo"

As palavras lidas começavam a surtir efeito no professor recém-saído do mundo dos sonos. Houve segundos de confusão assim que a sua vista nebulosa se libertou das pálpebras. O ambiente em que se encontrava não era um velho conhecido. Do seu lado direito não estava mais as cortinas de sarja na cor verde militar, e muito menos o seu criado-mudo com o copo de água e o porta-retratos com uma fotografia antiga dos seus filhos. O que ele viu, mesmo que sem um foco nítido, foi uma arara com roupas femininas penduradas.

Esfregou e apertou os olhos pequenos, os sentindo ainda inchados pelas horas a mais que se entregou ao cansaço. Normalmente, Stephen acordava entre sete e meia ou oito horas. A sua primeira aula sempre dava início as dez e seguia até o final do dia na universidade. Apenas nas terças e quintas-feiras ficava até as dez da noite com suas turmas de mestrado e doutorado. Naquele dia acordou quase perto do meio dia, por isso a claridade já tomava conta daquele cômodo úmido.

Espreguiçou-se encarando a janela sobre a cama. O céu límpido lhe brindou, e dessa forma, sentou e encarou o seu destino. Estava em um lugar estranho e sabia exatamente como chegou até lá. Sorriu sem constrangimentos ao recordar o que passou sobre aquele lençol que lhe aconchegava. Apenas não entendia o motivo de estar ali sozinho.

Encarou o lado oposto. Havia uma porta entreaberta. Julgou que ali seria o banheiro. Arrastou-se pela cama, a abandonando logo em seguida. Seus pés tocaram o assoalho de madeira escura e o conduziu até a porta. Um ambiente pequeno e claro se abriu. Havia uma daquelas banheiras vitorianas extremamente pequenas, lembrava uma que a sua família possuía na casa de campo. Ao seu lado, estava a pia e toda a parafernália que as mulheres juntam. Escovas de cabelos – mais de uma e todos os tamanhos possíveis –, secador de cabelos, prendedores, elásticos, materiais de maquiagem e seus utensílios. Stephen nem suspeitava como se nomeava tudo aquilo. Apenas queria livrar-se do mau hálito, e então, veio a constatação de que não poderia fazer aquilo. Não estava na sua casa, e tampouco no seu banheiro bem maior do que aquele, com uma banheira mais moderna e sem toda aquela desordem sobre a bancada de sua pia, local que continha apenas o seu barbeador, escova de dente, desodorante e sabonete.

Abriu a torneira da pia e jogou água sobre o seu rosto. Então, sorveu um pouco do enxaguante bucal, serviria para se livrar daquele gosto ruim que fica na boca ao acordar. Esvaziou a sua bexiga em seguida e retornou para o quarto-sala, seja lá o que fosse aquilo.

Precisava dos seus óculos com urgência. A vista embaçada já estava começando a lhe incomodar. Normalmente, não ficava dessa forma, o astigmatismo não era tão exagerado, apenas tinha se acostumado a ficar com a proteção que aquele vidro lhe oferecia. Os encontrou repousando sobre um bilhete de post-it preso a um livro azulado de capa simples, acomodado sobre a mesa que serviu de primeiro apoio para o que se consumou na cama abandonada.

Pegou os óculos levando-os até o seu rosto, e com a visão estabilizada, leu o que estava escrito no papel amarelo.

"Um presente da minha terra para o professor.

Leia o poema da página 46.

Obrigada pela noite".

O Professor [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora