"Vítimas não sabem que são vítimas até precisarem se esconder.
Armadilhas do tempo...
O limbo de horror se repete.
Além da dor, além da calma...
Feridas expostas,
abismo da alma.
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Ás 4h05 o alarme soou, tocando Midnight City.
Com um sobressalto, Eliza jogou o braço direito em direção ao relógio acertando o botão de primeira. Costumava sempre acordar alguns minutos antes do despertador, porém como havia tomado remédio para dormir, seu sono acabou sendo mais pesado que de costume.
Olhou para o borrão ao lado— sua irmã dormia pesado e nem sequer se mexeu quando o alarme tocou. Normal, era sempre assim mesmo.
Elizabeth massageou os olhos e suspirou, sentindo-se exausta. Se arrastou para o banheiro, esbarrando numa coisa e outra e pegando a toalha pelo caminho.
Enquanto lavava os imensos cabelos escuros, cantarolou baixinho uma canção do grupo The Neighbourhood.
"Diga meu nome quando ninguém está por perto..."
O banho terminou de acordá-la.
Escovou os dentes.
Vestiu roupas íntimas e uma camisola por cima.
Consultou o relógio: 4h24. Saiu do quarto e foi bocejando pelo corredor, rumo à cozinha.
Daniel, seu padrasto, dormia e roncava no chão da sala, recostado no sofá. Um litro vazio de whisky jazia ao seu lado, assim como vários outros estavam esparramados por todo o espaço do cômodo. A TV estava ligada; passava Os Simpsons. Elizabeth revirou os olhos e continuou andando até a cozinha.
Seu padrasto era um parasita.
Se recusou à ir embora após a morte de sua mãe, 8 anos atrás. Ela tentou mil e uma formas de mantê-lo longe. Depois de vários confrontos e de ele ter levantado a mão para ela muitas vezes, Eliza desistiu. Não queria recomeçar o limbo de surras e discussões que havia sido sua vida desde que Daniel começou a namorar sua mãe. Então passou a evitá-lo, tentando nunca ficar sozinha com ele. Afinal, o homem era extremamente doente e violento, tratava Eliza como se tivesse algum tipo de poder sobre ela, como se tivesse direito de lhe dar ordens, por exemplo. Exatamente da forma que tratava a mãe. Depois de um tempo, ela percebeu que não adiantaria brigar, Daniel não iria embora nunca.
Então Elizabeth decidiu que seria ela a sair.
As economias cresciam gradativamente a cada 30 dias, enquanto ela trabalhava de domingo à domingo, tendo apenas uma folga por mês. Estava sobrecarregada por escolha própria e não tinha outra alternativa, afinal, sua única família havia partido e jamais iria voltar. Após tantos anos economizando, estava faltando bem pouco para conseguir uma boa casa do outro lado da cidade — bem próxima ao trabalho e o mais longe possível de Daniel.
...
Elizabeth abriu a porta do armário para pegar os potes de café e açúcar, e enquanto colocava água para ferver, escutou um barulho vindo da sala. Seu padrasto havia acordado. Ela suspira e massageia os olhos pela segunda vez em menos de 1 hora. Odiava ter que lidar com ele quando estava sozinha. Quase nunca acabava bem.
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Tempo
RomanceELIZABETH TINHA PLANOS . . . Estudar mais do que a capacidade humana possibilitava, passar na faculdade e se tornar uma grande engenheira. Mas ainda muito jovem, acaba tendo que assistir seus sonhos escapando como areia entre seus dedos. Sozinha, te...