C a p í t u l o ▪ 3 ▪

36 2 23
                                    

"Vítimas não sabem que são vítimas até precisarem se esconder.

Armadilhas do tempo...

O limbo de horror se repete. 

Além da dor, além da calma...

Feridas expostas,

abismo da alma.

════┵•✾•┲════

Ás 4h05 o alarme soou, tocando Midnight City.

Com um sobressalto, Eliza jogou o braço direito em direção ao relógio acertando o botão de primeira. Costumava sempre acordar alguns minutos antes do despertador, porém como havia tomado remédio para dormir, seu sono acabou sendo mais pesado que de costume.

Olhou para o borrão ao lado— sua irmã dormia pesado e nem sequer se mexeu quando o alarme tocou. Normal, era sempre assim mesmo. 

Elizabeth massageou os olhos e suspirou, sentindo-se exausta. Se arrastou para o banheiro, esbarrando numa coisa e outra e pegando a toalha pelo caminho.

Enquanto lavava os imensos cabelos escuros, cantarolou baixinho uma canção do grupo The Neighbourhood.

 "Diga meu nome quando ninguém está por perto..."

O banho terminou de acordá-la. 

Escovou os dentes. 

Vestiu roupas íntimas e uma camisola por cima.

Consultou o relógio: 4h24. Saiu do quarto e foi bocejando pelo corredor, rumo à cozinha.

Daniel, seu padrasto, dormia e roncava no chão da sala, recostado no sofá. Um litro vazio de whisky jazia ao seu lado, assim como vários outros estavam esparramados por todo o espaço do cômodo. A TV estava ligada; passava Os Simpsons. Elizabeth revirou os olhos e continuou andando até a cozinha.

Seu padrasto era um parasita.

Se recusou à ir embora após a morte de sua mãe, 8 anos atrás. Ela tentou mil e uma formas de mantê-lo longe. Depois de vários confrontos e de ele ter levantado a mão para ela muitas vezes, Eliza desistiu. Não queria recomeçar o limbo de surras e discussões que havia sido sua vida desde que Daniel começou a namorar sua mãe. Então passou a evitá-lo, tentando nunca ficar sozinha com ele. Afinal, o homem era extremamente doente e violento, tratava Eliza como se tivesse algum tipo de poder sobre ela, como se tivesse direito de lhe dar ordens, por exemplo. Exatamente da forma que tratava a mãe. Depois de um tempo, ela percebeu que não adiantaria brigar, Daniel não iria embora nunca.

Então Elizabeth decidiu que seria ela a sair.

As economias cresciam gradativamente a cada 30 dias, enquanto ela trabalhava de domingo à domingo, tendo apenas uma folga por mês. Estava sobrecarregada por escolha própria e não tinha outra alternativa, afinal, sua única família havia partido e jamais iria voltar. Após tantos anos economizando, estava faltando bem pouco para conseguir uma boa casa do outro lado da cidade — bem próxima ao trabalho e o mais longe possível de Daniel.

...

Elizabeth abriu a porta do armário para pegar os potes de café e açúcar, e enquanto colocava água para ferver, escutou um barulho vindo da sala. Seu padrasto havia acordado. Ela suspira e massageia os olhos pela segunda vez em menos de 1 hora. Odiava ter que lidar com ele quando estava sozinha. Quase nunca acabava bem. 

Tempo Onde histórias criam vida. Descubra agora