“O mundo estava em chamas
e ninguém poderia me salvar,
a não ser você...Eu nunca sonhei que conheceria alguém como você...”
(Wicked Game — Chris Isaak)
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Jake acordou com o som abafado das notas si menor, lá e mi sendo repetidos incansavelmente.Levantou, escovou os dentes, trocou de roupa e consultou o relógio: 8h47 da manhã. Geralmente, costumava acordar primeiro que Eliza. Aquilo só podia significar duas coisas: ou ele havia dormido bem demais ou ela estava com insônia de novo. E ele definitivamente não tinha dormido muito bem.
Saiu do quarto. Achou que a encontraria na sala sentada no sofá, mas ela estava do lado de fora.
— Te acordei? Desculpe. — Eliza pediu, parando de tocar. Estava sentada em posição de índio no banco de madeira velha que havia na lateral da varanda.
— Não esquenta com isso... Eu acordei sozinho. — o rapaz se sentou próximo à ela e cruzou os braços. — Nem ouvi você cantar.
— É porque eu só estava fazendo barulho mesmo. Relembrando velhos repertórios. — e sorriu, apoiando o violão no próprio corpo.
— Você está bem? Acordou primeiro que eu hoje.
— Na verdade eu nem dormi. Estou me sentindo estranha.
— Ainda com dor? Talvez seja melhor ir num ginecologista.
— Não é só isso... Mas ainda tenho alguns remédios que me deram na delegacia.
Jake a observou endireitar o corpo, descer as pernas e apoiar as costas na parede enquanto dirigia o olhar para a rua. Parecia perdida e absorta.
O rapaz sabia que o estado em que ela estava agora se repetiria incontáveis vezes, ficaria com esse vazio dentro de si por muito tempo, algo que não poderia ser explicado com palavras.
Precisava de alguma coisa na qual pudesse concentrar seu tempo e atenção. Canalizar a dor.
Jake ficava feliz que ela tivesse seu violão, sua música. Mas achava que aquilo talvez não fosse o suficiente.— Está pensando em tocar no bistrô? — perguntou Jake.
— Sim. Hoje mesmo. — Eliza mantinha os olhos fixos em um ponto qualquer à sua frente.
Jake nada comentou. Cruzou os braços e se pôs na mesma posição que ela, encarando o prédio do outro lado da rua. Também estava se sentindo estranho, de certa forma. Fazia muito tempo que não tinha pesadelos com relação à seu passado e o que mais odiava à respeito disso é que não poderia usufruir do privilégio de simplesmente esquecer.
Pessoas normais sempre esquecem dos sonhos depois de acordadas.
Funcionaria com Jake se ele não estivesse sonhando com coisas que realmente aconteceram.
— A visita da assistente social é hoje. — Eliza falou de repente sem mover os olhos. — Temos que arrumar a casa o máximo que pudermos.
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Tempo
RomanceELIZABETH TINHA PLANOS . . . Estudar mais do que a capacidade humana possibilitava, passar na faculdade e se tornar uma grande engenheira. Mas ainda muito jovem, acaba tendo que assistir seus sonhos escapando como areia entre seus dedos. Sozinha, te...