C a p í t u l o ▪ 2 ▪

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Elizabeth Medeiros,

* Uma pequena e importante lembrança *

Interior do Rio de Janeiro,
15 anos atrás.

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 Você consegue.  encorajou Joane.

Estavam sentadas no gramado do quintal nos fundos de casa. 

Elizabeth segurava um violão grande demais para seu corpo sustentar, seus pequenos bracinhos deslizavam desajeitadamente pelas cordas do instrumento. Já fazia algumas semanas que a mãe a estava ensinando. A cada erro ela tentava de novo, sem reclamar, nunca desistindo. Joane sentia orgulho da persistência e paciência da filha.

Era fim de tarde e o sol iluminava as flores tão bem cuidadas pela mãe, enquanto o vento soprava uma brisa leve e aromada. Os cabelos da mulher balançavam e seus olhos brilhavam enquanto ela sorria, o som do violão unindo-se ao vento.

Aquela tarde acabou sendo a última vez em que Eliza viu os olhos da mãe brilharem.

A última vez que vira o rosto dela tão calmo e livre de maus pensamentos, o sorriso tão verdadeiro e acalorado...

O último dia de paz.


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8 anos antes do presente . . .


Contando disfarçadamente com o olhar, Elizabeth notou que haviam 78 pessoas presentes para a audição naquela tarde.

Os candidatos se espalhavam ao longo do grande salão, formando uma fila que girava em torno de algumas mesas e se estendia até a extremidade oposta ao palco. Ainda que desajeitados, todos eles cabiam dentro do restaurante. Alguns pareciam realmente intimidadores, mas não a provocavam medo algum. Seu coração e mente estavam vazios demais, não havia espaço para nenhum sentimento, muito menos os desnecessários. 

Não tinha nada a perder, no entanto, trazia todo o pouco que restava de si para oferecer. 

Havia tomado banho e disfarçado as olheiras profundas o máximo que pôde, vestiu uma camiseta e jeans escuros e resgatou seu amado violão azul dos fundos de seu armário.

Até mesmo tentou sorrir.

Havia encontrado aquele lugar alguns dias atrás quando estava mais uma vez andando pelo centro da cidade em busca de trabalho. Exausta e frustrada após entrar e sair de tantos lugares diferentes sem obter nenhuma resposta satisfatória, passou em frente à um restaurante bastante convidativo.

Era fim de tarde e uma placa em neon piscava: "Park's Bistrô — Restaurante & Cafeteria".

Ela decidiu entrar para tomar um café antes de voltar para casa. No balcão, a atendente explicou que o café havia acabado, mas que já estavam fazendo mais. Eliza assentiu e observou o lugar reparando em como era grande e espaçoso, e ao mesmo tempo tinha um ar de aconchego muito expressivo. Havia uma espécie de mini bar numa das extremidade do local, e sentado num dos bancos do balcão estava um cliente que aparentemente parecia estar enchendo a paciência do barman — um rapaz cabeludo e tatuado que secava uma fileira de copos com uma flanela vermelho sangue.

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