Dr.Kripter encarava Tyler impaciente.
Em todas as consultas que tiveram, o menino não disse uma palavra se quer, o mais velho já estava ficando nervoso.
- Você não vai falar absolutamente nada? Vai mesmo desperdiçar todo o dinheiro dos seus pais com isso e nem vai ao menos tentar? - O psicólogo perguntou e Tyle apenas deu de ombros.
- Você tinha dito que eu não precisava falar. Se lembra? - perguntou, irritado com a atitude do médico.
- Me lembro do que eu disse, Tyler. Mas nós iriamos progredir mais se você se abrisse.
- O que quer que eu fale? Quer que eu conte como foi o meu dia? Que eu conte sobre tudo que estou pensando? - suspirou, cansado - E se eu te contar que já pensei umas dez vezes em me atirar por aquela janela e essa ideia não sai da minha cabeça? - apontou para a janela que estava aberta, ao lado de uma miniatura da caixa de Pandora, o psicólogo realmente gostava de decorar sua sala com a mitologia grega.
- E o que te impede de fazer isso?
Tudo o que veio na cabeça de Tyler foi somente um nome. Somente um rosto. Somente um cabelo rosa.
Josh.
Josh que o impedia de dar um fim à sua vida? Ele nem conhecia o menino direito e se alguém fosse impedi-lo, essa pessoa deveria ser da sua família e não um desconhecido que o ajudou algumas vezes...
Se calou, novamente, não querendo responder a pergunta do psicólogo.
- Tudo bem. - Dr.Kripter suspirou - Quero que feche os seus olhos, vamos fazer um exercício.
Tyler continuou encarando-o, era óbvio que ele não iria fechar os olhos.
- Vamos, Tyler. Não confia em mim? - O menino continua quieto, encarando o doutor - Temos consultas desde quando você tinha doze anos e ainda não confia em mim?
Era verdade. Pensou.
Tyler não se lembrava o porquê de sua mãe ter o levado ao psicólogo, mas lhe recordava bem de como estava assustado na primeira consulta e de como o Dr.Kripte foi paciente e ouviu tudo que o menino tinha para falar.
Mesmo assim, ele pode fazer alguma coisa contra mim. Alguma coisa ruim.
Não, ele não vai fazer nada contra você, não seja estúpido.
E então, fechou os olhos.
- Ótimo. - escutou a voz do doutor dizendo - Isso é muito bom.
Ouviu o mais velho se levantando da cadeira e chegando perto de si, segurou-se firmemente na cadeira, com medo.
- Quero que imagine que a sua mente seja um barco, ou um navio, tanto faz. Imagine que você está no mar, consegue se alguma coisa?
Joseph fez o que o psicólogo mandou e imaginou. Ele estava no mar, conseguia sentir o cheiro do oceano e bem distante, havia uma ilha.
- Vejo uma ilha, ela parece bonita. - Fez uma pausa, tentando visualiza-la - Está chegando cada vez mais perto.
- Ok. - Dr.Kripter respondeu - Imagine que a sua mente naufragou nessa ilha. O que você vê?
De perto, era horrível. A ilha era violenta, haviam animais para lá e para cá, ela parecia mais violenta que o conteúdo dentro da caixa de Pandora, que Tyler havia visto há alguns minutos atrás.
- A ilha é braulhenta e violenta. Consigo ver leões suicidas loucos correndo em minha direção... Eles querem me comer, são como aqueles nos quadros na sala de espera. - Suspirou, assustado - Dr.Kripter, eu não gosto disso.
- Você pode deixar os leões te pegarem ou você pode lutar contra eles.
- Eu não consigo lutar...
Tyler visualizava em sua mente mais e mais leões vindo em sua direção, enquanto ele tentava fugir.
- Procure alguma coisa na ilha para se... - E então, o menino abriu os olhos.
Desencostou da cadeira rapidamente e assustado, respirando cada vez mais rápido, tentando recuperar o fôlego.
Olhou para o relógio que fazia tic-tac, em cima da mesa do doutor e deu graças a Deus que sua consulta já havia terminado.
- Não tem problema, Tyler. - Dr.Kripter deu dois tapinhas no peito do menino, se levantando - Nós fizemos um bom progresso hoje. Espero conseguir mais na próxima consulta. Te vejo quarta-feira.
Levantou-se da cadeira correndo e saindo do consultório. Chegou até a sala de espera, vendo a sua mãe, que o seguiu até o carro.
Ela fazia todos os tipos de perguntas e ele, não respondia nenhuma. Ainda estava furioso pela discussão que teve com Kelly alguns dias antes, e qualquer diálogo que ele pudesse evitar, já estava ótimo.
Sua mente continuava na ilha. Nos leões... Tyler se perguntava que tipo de exercício havia sido esse, por que o psicólogo o mandou imaginar essas coisas?
Kelly estacionou o carro em frente da casa dos Joseph e Tyler desceu, fechando a porta atrás de si e tendo uma surpresa ao olhar para a varanda de sua casa.
- Josh? - perguntou, exibindo um pequeno sorriso de lado ao ver o de cabelo rosa se aproximando - O que está fazendo aqui?
- Você faltou da escola, não atendeu o celular e nem respondeu mensagens... eu fiquei preocupado.
Tyler encarava Josh, sentindo suas bochechas queimarem.
- Eu estava no...
- Não estava se sentindo muito bem, então eu o levei ao médico, não é Ty? - Kelly cortou o menino, que abaixou a cabeça, concordando. - Você é algum amigo dele? - Continuou, ignorando a presença no filho.
- Ah, sim. - Josh concordou, levantando a mão para cumprimentar Kelly - É um prazer conhece-la, Sra.Joseph. Meu nome é Joshua Dun.
A boca de Kelly então, se formou um perfeito "O" em surpresa.
- Joshua Dun? Filho dos Dun?
O menino assentiu, em concordância.
- Por que não fica para jantar conosco? Eu já ia começar a fazer o jantar de qualquer forma... - Sorriu, convidando Josh para entrar na casa.
O garoto entrou, subindo as escadas junto com Tyler. Quando chegaram ao quarto do mesmo, o menino fechou a porta, a trancando.
- Sua mãe parece simpática. - Joshua falou, enquanto olhava as coisas de Tyler. Já estava familiarizado com o pequeno quarto.
- Ela não é. Acredite em mim. - Respondeu, enquanto caminhava até a janela e a abria.
- O que está fazendo? - Josh perguntou, confuso, com a atitude do menino.
- Vamos sair daqui. - Virou-se para o garoto, falando com confiança.
- Sair daqui? - Josh riu - Ora ora, eu não havia visto o seu lado rebelde ainda.
- Cale a boca e me ajude a descer. - Dun então, apenas concordou, ajudando Tyler a se sentar na janela, e descer até o chão com a ajuda da árvore, fazendo o mesmo sem seguida.
E então, ambos já estavam fora da casa, indo para o carro do mais velho.