Verão

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"As flores possuíam um encanto e uma delicadeza que me fascinavam. Jamais vi algo que possuísse beleza semelhante à das flores, e acredito realmente que não haja. Algo que exale perfume tão encantador, que possua cores tão intensas, realmente só cabe a elas ter."

 Jamais estive tão errado em toda a minha vida, pois havia sim criatura de beleza encantadora com a uma flor. Não, ela conseguia ser ainda mais encantadora que uma flor. Estava abismado, jamais imaginei que pessoa assim existisse, e estava bem diante de mim, lendo um livro. Era tão surreal que duvidava que fosse verdade. Dei um pequeno beliscão em meu braço só para garantir, e realmente não estava sonhando.

 Devia estar sendo muito indiscreto, pois a tal flor reparou minha presença, voltando seu olhar para mim. No exato momento em que se voltou para mim uma bisa passou por ela, esvoaçando os longos cabelos - cabelos estes que eram tão loiros e brilhantes que pareciam um raio de sol - isso permitiu eu visse sua face. Seus olhos azuis transpareciam uma imensidão tão serena quanto o céu e tão profundo quanto o mar. Seus lábios eram vermelhos como uma rosa e seus traços tão delicados quanto uma flor de cerejeira. Estava em êxtase, como um biólogo que descobre uma nova raça de animal, eu descobri uma nova de flor, e ela era a mais bela de todas. 

Ela pareceu me analisar, tal como ou mais intensamente como eu faço, porém, não ousei fazer o mesmo. Como poderia analisar e nomear tal perfeição que exalava tamanha complexidade, nem os grandes filósofos conseguiram desvendar a intensidade do olhar daquela flor. 

Foi então que, vagarosamente, ela fechou seu livro o pôs sobre a mesa e delicadamente se levantou veio em minha direção. Eu observava atentamente cada pequeno movimento dela. Veio até mim côo se flutuasse sobre as pétalas. Não me surpreenderia que debaixo daquele vestido escondesse um par de asas. Tal criatura só poderia ter sido retirada do paraíso.

 Cada passo que dava era pequeno e cuidadoso, como um predador que analisa sua presa. Ela então pôs seus delicados braços atrás de suas costas – quem sabe atrás de suas asas - e inclinou-se levemente sobre mim. Olhou-me nos olhos e, esboçando um leve sorriso, disse: 

- Olá. Chamo-me Charlote, qual é seu nome? – Sua voz era tão suave e melódica que atordoou meus sentidos. Não sabia o que responder. É como se sua boca houvesse comido minhas palavras e seu olhar penetrante tivesse paralisado minha língua. 

- O que ouve? O gato comeu sua língua? – E riu. Um riso eu aqueceu minha alma trouxe uma alegria e paz nunca antes sentidas por mim. 

Antes que pudesse responder, ou ao menos tentar o mordomo aparece abruptamente – como de costume – e põe-se entre nós.

- Senhorita Charlote, seu pai está a sua procura. Ele requisita sua presença em seu escritório. – Diz em um tom muito cortês e amável, bem diferente do tom seco que usou comigo há pouco.

 - O que papai quer falar comigo?

 - Não sei senhorita, ele apenas me mandou chamá-la. – Disse como que indicasse que estava apenas cumprindo ordens.

 - Bom se é assim – Voltou rapidamente à pequena mesa para pegar seu livro e em seguida voltou com a mesma agilidade. – Mas antes de ir quero saber quem é esse homem, já que parece que perdeu a fala. – Disse em um tom divertido apontando seu delicado dedo em minha direção.

 - Ele é apenas novo jardineiro senhorita. – Disse num tom de que tal informação fosse totalmente irrelevante. 

- Hum. Não é muito falante, não é mesmo,senhor jardineiro? – Disse e deu um sorriso. E que sorriso. Ele possuía tal brilho que só vi igual à noite enquanto observava as estrelas. 

- Nos vemos senhor jardineiro. - Após isso ela apenas passou por mim e seguiu seu caminho. 

Jardineiro. Jamais amei tanto tal palavra, jamais amei tanto tal nome. Nome... Sim, pois assim por ela fui chamado. Para mim já não importava mais meu nome de nascença, o que me importa é que foi assim que ele me chamou, e é assim que me chamarei de agora em diante. Foi assim que minha querida flor me nomeou. 

E foi assim o restante dos dias. Ela lia seu pequeno livro de baixo daquela florida árvore enquanto eu cuidava das flores. O grande "porém" foi que após aquele contato nunca voltamos a telo. Eu só a observava de longe e ela permanecia a ler. Mas observá-la já me bastava, até por que flores são feitas para isso, para serem admiradas, e flor tão delicada e bela quanto aquela deveria ser observada de longe. A flor mais bela do mundo, Charlote.

Ela trazia um brilho para dentro de minha alma que a tempos havia sido apagado, e acalentava meu coração como o sol do verão, quente e intenso. Há tempos meu coração não palpitava como agora, suspeitava até de que ele estivesse parado, como um relógio que esqueceram de dar corda. Agora minha alma reluzia e emanava um brilho sem igual, como se houvesse um pequeno sol em meu interior. Porém, aquele dia percebi que algo mais emitia certo brilho incomum. Este vinha de Charlote, especificamente de sua mão direita. Agucei minha vista e foquei em sua mão, lá havia um pequeno objeto que circundava seu dedo. Ele emanava um brilho dourado com o reflexo do sol em sua superfície. Aquilo era... Uma aliança.

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