Por um sonho -Degustação

Capítulo 8

Eu me sinto tonta enquanto os braços de Gabriel me apertam forte numa espécie de euforia contagiante. E eu só faço soltar um riso nervoso e até meio histérico, o abraçando de volta.

Aquele abraço espontâneo durou apenas alguns segundos, mas naqueles instantes, eu fui capaz de sentir a felicidade quase infantil de Gabriel pela simples possibilidade de eu estar grávida.

E então ele me encara com o mais lindo sorriso no rosto que me faz rir dele.

Eu fungo, passando os dedos por meu rosto ainda com resquícios de lágrimas e suor da minha ânsia.

– Eu não disse que estou grávida, Gabriel. – digo devagar, mas ele continua sorrindo.

– Você disse que passava mal quando estava grávida.

– Mas eu também estava nervosa. – murmuro, sentindo um aperto no peito que ceifa um pouco daquela felicidade contagiante de Gabriel dentro de mim.

Gabriel também parece se lembrar dos motivos de nossa discussão, pois se levanta, passando os dedos pelos cabelos nervosamente.

Eu me levanto também e abro a torneira lavando minha boca, mãos e rosto. E tentando colocar minha mente no lugar, no processo.

Quando enfim termino, saio do banheiro com Gabriel atrás de mim e o encaro na sala.

– Eu sinto muito por toda esta confusão. Eu me sinto péssima por ter mentido para você sobre Joshua e me sinto pior ainda só de pensar em contar ao Josh tudo o que estou fazendo.

– Eu sinto muito que tenha que passar por isto tudo também, Milly. Mas como me disse... Talvez não esteja grávida. – sua voz é cheia de medo e eu me sinto culpada. Ele dá um passo em minha direção me encarando seriamente. – Se você não estiver...

– Não vamos falar sobre isto até ter certeza. – eu o corto, sabendo que ele vai dizer de novo que vamos desistir caso o procedimento não tenha dado certo. E eu não quero pensar nisto agora. De repente me sinto esgotada. Mas também com um certo anseio misturado com medo.

Se eu estiver grávida. Tudo irá mudar irreversivelmente. Gabriel terá seu desejo realizado. Mas todo meu relacionamento com Joshua estará em risco.

E se eu não estiver...

Todo meu breve e estranho relacionamento com Gabriel estará acabado.

Ele vai desistir de ser pai? Ou vai achar uma outra pessoa? Uma outra mulher para ser a mãe de aluguel do seu bebê.

Eu não gosto do sentimento de rejeição que esta possibilidade me traz. Quase como um... Ciúme.

De repente sou tirada de meus devaneios quando escuto um celular tocando. Gabriel pega o aparelho e seu olhar passa de irritado para preocupado, quando ele olha o visor e vira de costa, atendendo seja lá quem for.

– Fala... – silêncio enquanto ele escuta a outra pessoa e eu me pergunto se pode ser a sua esposa.

De repente me sinto uma intrusa e penso em me afastar, mas ele resmunga um "Tudo bem. Estou indo" e desliga voltando a me encarar.

Mas agora ele parece distante.

– Me desculpe, eu preciso ir.

– Claro. – eu caminho até a porta para abrir pra ele, contendo minha vontade de perguntar qual era o problema. Porque, de alguma maneira, eu intuía que havia alguma coisa acontecendo para ele mudar tão drasticamente.

– Eu... – ele passa a mão pelos cabelos na porta, como se procurando o que dizer, mas não encontrando. Como se sua mente estivesse muito longe dali.

– Está tudo bem, Gabriel. Tudo tem o seu tempo. Vá.

Ele apenas me encara por mais um instante, e então parte. Sem olhar para trás.

Eu fecho a porta me encostando nela. O apartamento parece estranhamente vazio e silencioso sem a presença enigmática de Gabriel ali.

E eu me sinto mais sozinha do que nunca.

Me arrasto até o chuveiro e tomo um banho demorado. Não volto a sentir mais enjoo ou qualquer outro sintoma que possa denunciar uma gravidez.

Joshua deixa inúmeros recados na secretária eletrônica. Eu apago todas sem responder.

Durmo sozinha. Acordo sozinha.

Enjoo sozinha.

Me olho no espelho depois de vomitar pela segunda vez e sinto medo.

Sinto esperança.

Mesmo assim, eu deixo os dias passarem. Longos e solitários.

Gabriel não aparece mais. E em algum lugar obscuro dentro de mim, eu sei que é absurdo eu sentir falta dele.

Mas de alguma maneira ele se tornou importante em toda aquela confusão. Talvez seja aquele acordo bizarro e tão intrinsecamente íntimo. Ou o fato de eu me identificar com seu desejo de ter um bebê.

Ou até mesmo aquele momento problemático que eu estou vivendo com Joshua.

Mas a verdade é que eu me sinto tão sozinha como nunca me senti antes. Joshua sempre esteve ao meu lado. Mesmo na época da faculdade, ele me ligava todo dia e eu sabia que estava tudo bem. Os meses iam passar, e nós voltaríamos a ficar juntos de novo como se nunca tivesse havido separação.

Agora...

Agora tudo era incerteza. E isto doía. E me deixava com medo.

Era como se eu não conhecesse aquele Joshua que me deixava sozinha para realizar um trabalho escuso e ilegal em outra cidade. Era estranho não ter controle algum sobre aquele Joshua. E aquilo estava criando um abismo cada vez maior entre nós.

E no meio de tudo tinha Gabriel.

Um cara que eu mal conhecia. Que não sabia praticamente nada de sua vida. Mas que fazia tudo parecer simples e possível quando estava perto de mim.

Até mesmo um acordo de barriga de aluguel.

Coloco a mão na minha barriga plana e encaro minha imagem no espelho. E sei que não posso mais adiar.

Algumas horas depois eu encaro o teste de gravidez na minha frente com os olhos vidrados.

Positivo.

Eu sinto uma enxurrada de sentimentos aflorando em mim. Estou aliviada.

Estou com medo.

Estou feliz.

Caminho de novo até o espelho e levanto minha blusa. Um bebê cresce ali. O bebê de Gabriel.

Um bebê que não é meu. Eu não deveria me sentir infeliz com isto.

Mas ter de novo um bebê crescendo dentro de mim, me faz lembrar do bebê que eu perdi. E de como ainda quero ter um bebê que seja meu.

Mas isto não é para mim agora. É apenas um acordo.

Um acordo que envolve dinheiro para mim apenas. E a realização de um sonho de Gabriel.

Pensar nele me faz imaginar como ele ficaria feliz de saber que dera certo. Que ia finalmente ser pai e isto traz um sorriso ao meu rosto.

– Milly?

Eu levanto o olhar surpresa e meu olhar cruza com o de Joshua parado na porta do banheiro.

E ele está segurando o teste de gravidez me encarando chocado.

– Josh... – eu sinto um calafrio de medo, me virando para encará-lo de frente.

– Você está grávida? – ele indaga com os olhos arregalados e eu respiro fundo, assentindo, e dando um passo na sua direção para começar a explicar. Mas então Joshua está sorrindo e vence a distância entre nós e me abraça.

Oh. Deus!

Como eu ia explicar que aquele bebê não era dele? E muito menos meu?