VIAGEM

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ANA


Inesperadamente meus dias haviam se tornado melhores por culpa de duas pessoas. Nunca pensei que um pequeno atraso me beneficiaria tanto. O resto da semana foi repleto de cafés da manhã com Vitória e Luna e dessa vez eu havia prometido que levaria a pequena a uma obra em breve e Vitória reclamou do quanto eu tenho mimado sua filha ultimamente. Não tenho culpa de ter me apegado a esse serzinho tão pequeno mas tão inteligente e amável.

Não via a hora de passar três dias com Luna na minha casa, se Vitória acha que eu a estava mimando até agora, era porque não fazia ideia do que eu tenho planejado pra passar os dias com ela. A empolgação de Luna chegava a ser engraçada quando sua mãe disse que ela ficaria comigo quando ela fosse viajar. Vitória as vezes tinha algumas crises dizendo que está perdendo a filha dela.

Depois do nosso quase beijo na cozinha, não aconteceu mais nada do tipo, pra a minha infelicidade. O clima entre nós continuava agradável, era como se nada tivesse acontecido, e isso só contribuiu pra me deixar ainda mais confusa a respeito do que Luna me disse sobre meu sentimento ser recíproco. Se bem que, talvez, seja melhor assim, se tivesse acontecido poderia ter feito tudo ficar mais estranho.

Ouvi a campainha tocar e desci pra abrir a porta. Luna estava com uma mochila nas costas e Vitória tinha outra nas mãos. Dei espaço pra elas entrarem.

— Ei, os horários dela no colégio você já sabe, as roupas dela estão dentro dessa mochila e se precisar de algo que não esteja aqui, a chave de casa está aí também. — Ela sorriu.

— Vamos deixar suas coisas lá no quarto, Luna. — Falei pegando a mochila da mão de Vitória. — Mais alguma recomendação, mamãe?

— Que eu me lembre, não. — Subimos pro meu quarto e colocamos as mochilas dela em cima da minha cama.

— Tia Ana, posso ver suas coisas? — Luna perguntou, os olhinhos verdes brilhando como duas esmeraldas.

— Claro. Você já sabe onde elas ficam. — Ela correu pra escrivaninha e abriu a gaveta pegando tudo aquilo que tinha visto no dia do jantar aqui em casa.

— Filha, eu preciso ir. Se comporte e não dê trabalho pra Ana. Vou ligar pra ela pra poder falar com você todos os dias, viu? — Vitória falou ao lado de Luna, mas foi ignorada, ela havia pegado a régua e um lápis e tentava copiar uma das plantas. — Agora eu sou ignorada também. Ana, o que tu fez com a minha filha?

— Eu não tenho culpa de nada. — Me defendi rindo.

— Eu te amo. — Ela falou pra Luna e deu um beijo na testa dela.

— Boa viagem, mama, eu também te amo. — A pequena lhe deu um abraço apertado e um beijo na bochecha e voltou a mexer nos papéis.

A acompanhei até a porta e antes de abri-la, ela se virou pra mim.

— Confio em você, hein, quero minha filha sem nenhum arranhão quando eu voltar.

— Ela vai estar impecavelmente bem, assim como está agora.

— Você vai mimar tanto a criança que não sei o que eu vou encontrar quando voltar. Tô começando achar essa ideia péssima.

— Eu também acho essa ideia de você ficar três dias longe péssima, mas Luna vai estar em ótimas mãos, eu... — Se eu ia continuar a frase, já nem sei. Só sei que senti meu coração disparar quando Vitória colou seus lábios nos meus, me calando imediatamente. Ela iniciou um beijo calmo e doce. Suas mãos apertavam minha cintura deixando nossos corpos colados e passei meus braços em volta do seu pescoço, acariciando sua nuca com as pontas dos dedos. Nossas bocas pareciam já se conhecer, a sintonia era surreal.

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