7. Explorando

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Alice

   Estava na caverna, sabia pelo vento que estava tocando minhas costas e ombro, o que me fez arrepiar, e pelo som da cachoeira, o que indicava que eu ainda estava na área onde eu conseguiria emitir som. Olhei ao meu redor e vi a sombra do corpo de uma pessoa deitada no chão. Cheguei perto pra ver se identificava, e notei que era o Murilo, desacordado. Cutuquei ele até que se mexesse, então ele falou:

- Mais cinco minutos, mãe.

   Comecei a rir muito, não me aguentei, se eu tivesse intimidade e caneta, de birra desenharia em seu rosto, me senti a adulta de 8 anos. Apenas fiquei rindo e cutucando, até ele reclamar:

- Mãe eu disse daqui a pouco.

- Acorda menino doido, não sou sua mãe não. - disse debochando.

   Ele se levantou rapidamente e foi limpar os olhos com as mãos. Ele parecia não estar compreendendo.

- Onde estamos? - disse ele.

- Numa caverna, nem se preocupa não tem nada de perigoso dentro dela.

- Como você sabe? Eu não sei se devo confiar em você. Vou explorar um pouco. - ele foi andando para o meio da caverna.

- Sei porque eu sonho com ela quase sempre. E eu quem não devia confiar em você, não fui eu que invadi a sua casa de madrugada. - estava irritada com aquele comentário - Ah e mais uma coisa, se você adentrar mais essa caverna, você não vai conseguir falar.

   Ele se virou e eu vi os movimentos com a boca, porém não saia nenhuma voz, então o desespero e o espanto estamparam seu rosto. Ele correu até minha direção, quando chegou perto de mim ele conseguiu soltar um grunhido, e suas feições já estavam mais relaxadas.

- Te avisei. - disse dando um sorrisinho de canto, disfarçando o riso.

- Porque não sai som?

- Vou lá saber? Só to aceitando. - Era péssima em física pra tirar alguma  conclusão, só aceitava mesmo, porque doía menos.

- Vamos explorar lá fora então, ou tem algum problema também?

- Não têm nada demais, só umas plantas e a cachoeira, mas se você quer ir, vamos.

   Fomos em direção ao som da cachoeira, passamos pelo lençol d'água, e lá estava aquela paisagem sensacional, aquelas árvores floridas ao som dos passarinhos. Olhei para ver a reação dele perante aquela maravilhosa floresta, seus olhos encheram de lágrimas, talvez estava emocionado, fui perguntando:

- Que houve?

- Esse lugar... - ele se recompôs e continuou - eu passei minha infância inteira aqui com meus avós. Olha a casa deles ali. - ele apontou para uma casinha que ficava um pouco escondida entre árvores cheias de folhas e flores, nunca tinha a visto, ela parecia estar dentro de uma mini montanha, que acima estava coberta de grama verde. Na entrada a porta era redonda, e havia flores de todas as cores rodeando ela. Ao lado da porta havia duas janelas, que no vidro estava desenhado rosas.

- Meu deus, esse lugar existe? - estava muito em choque por ter descoberto que aquele lugar era real.

- Sim, ele existe, só que está diferente. Na minha época não existia a cachoeira, e a caverna era tampada por uma rocha. Meus avós sempre falaram pra eu ficar longe, pois não existia nada bom lá dentro, e eu aceitava, era apenas um menino.

   Eu estava impressionada, sem reação fiquei ali de pé, tentando digerir tudo. Como eu poderia sonhar com um lugar que eu nunca tinha estado, um lugar que eu nunca tinha visto em fotos? Não estava entendendo mais nada, aquilo devia ser parte do meu sonho, que por algum motivo mudou. Olhei para Murilo, que me encarava.

- Que foi? - disse.

- Você tá ouvindo?

   Só porque ele falou eu consegui prestar atenção no som, que vinha da caverna. Era de uma criança rindo. Virei-me para Murilo e falei:

- Vamos descobrir o que é, ou ta com medinho? Qualquer coisa dou a mãozinha. - disse debochando.

- Vamos, tenho medo de boleto de faculdade e de DP, não disso.

Então entramos na caverna.

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