Tentativa 1

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As férias foram um saco, como sempre aquela mesma rotina, meus pais sempre acabam me forçando a ir a casa de praia dos padrinhos da minha irmã, Júlia sempre é mais sociável eu sou muito introvertida, ela acaba fazendo amizades facilmente eu acabo ficando sozinha com meu celular, todos parecem não notar minha presença mas as vezes parece que ela incomoda, sempre aquelas mesmas perguntas: " O que você vai fazer quando terminar o ensino médio?", "É o seu último ano, porque ainda não arrumou um emprego?", "E os namorados, tem algum?". Ainda não entendo o porquê de tais perguntas, seria pra quebrar o gelo? Porque só me fazia congelar de vergonha. Me sentia um fracasso!

Eu não sabia se queria continuar naquelas férias monótonas ou se seria melhor encarar mais um ano de escola, não sabia qual das opções era a pior, ainda bem que a última opção era obrigatória, e estava para acabar, se eu podesse fugiria.

O porquê de tanto tédio?
Sempre fui aquele tipo de aluna exemplar, faz um ano que mudei de escola e as coisas melhoraram no quesito educação, porém se na antiga escola eu não era ninguém, nessa eu não passo do cocô do cavalo do bandido, a antiga escola era maior mas a nova é quase do mesmo tamanho só que com o dobro de alunos. É uma escola no centro da cidade vizinha a segunda melhor escola pública do estado, as pessoas lá eram lindas.

Pra piorar minha situação as listas das salas foram alteradas e da minha antiga classe só ficaram apenas 4 alunos, que para ser sincera eu nunca troquei um "Oi", um deles era o comediante da sala, e o queridinho de todos, ele sempre andava com os mais populares, não é querendo julgar ele não, mas também tem cara de que nunca beijou alguém, as gracinhas dele parecem uma forma de defesa contra suas próprias frustrações, fora seu desejo incontrolável de ser conhecido pela escola inteira. Além disso na nossa nova classe, também tem alunos do 2°C, sala inimiga da minha, todo dia tinha uma fofoquinha, e confusão entre as duas salas, também tinham alunos do 2°B, e D.

Então já começo o ano letivo sem expectativas, apenas com desesperança, vai ser só mais um ano no qual eu vou estudar, passar respostas, me iludir, ser excluída. Que venha então o famoso TERCEIRÃO!

*


Aquela última olhada no espelho... Já estou pronta, afinal cortei meus cabelos na altura do ombro pra isso, praticidade. Todos elogiam muito meu cabelo, realmente ele é a parte mais bonita em mim, ele é bem preto, liso, e talvez um pouco bagunçado, mas o que mais impressiona é o brilho, meu cabelo tem um brilho radiante, ele combina com meu tom de pele. Minhas bochechas são avermelhadas, com algumas machas de sol sobre o meu nariz que é fino e empinado, porém um pouco maior que o padrão, minha boca é carnuda, meus olhos são castanhos, a cor deles muda no sol, o que eu amo, tenho 1,65 me acho super grande, mas todo mundo fala que eu sou baixinha, o que me deixa um pouco chateada, mas o que mais me incomoda é ser magra, já tentei diversas vezes mudar isso mas foram apenas tentivas frustadas para adicionar a minha listinha.

Peguei minhas coisas com um incômodo na barriga, a famigerada ansiedade vinha novamente atormentar, carregada de muito medo ou melhor insegurança... Eu não sabia o que estava por vir, tudo era um mistério, parecia tudo novo.

Fui para o ponto de ônibus, parece que eu não estava sozinha nessa, várias pessoas novas, nunca aquele ponto esteve tão cheio, antes era apenas eu. De repente surge uma imagem assustadora, era o ônibus, nunca quis tanto fugir, mas eu entrei. No percurso percebi que ainda haviam mais pessoas novas, o mundo estava diferente.

Cheguei cedo demais, fiquei esperando uma eternidade até que o sinal batesse e as senhorinhas que trabalham lá fossem abrir o portão. Me senti tão só...

Foi uma correria, todos saíram correndo desesperados atrás de suas salas para reservar seu lugar ao sol, ou melhor na parede, e no fundão, afinal quem quer sentar na frente? Eu finalmente cheguei na sala e reservei minha cadeira no fundão, e não deu muito tempo o pessoal da minha antiga sala foram se acomodando ao meu lado, já dava pra sentir o gosto da derrota, aquele ano seria fatídico, eu já sentia o tédio, de repente eis que surgem um grupinho na porta, era o núcleo do 2°C, os que mais causavam e no qual a minha sala (2°A) odiava, mais eu já não participava mais dessa alcatéia, e tinha que me acostumar com minha nova condição. Houve uma troca de olhares, mas nada aconteceu!

Conheci logo de cara uma professora nova. Tinha gente de todas as salas ali, mas ninguém se falava, cada qual no grupinho da sua antiga alcatéia, ninguém fazia questão de se conhecer, tinha gente que era da mesma sala mas não se falava, também tinham alunos novos, esses pobres mortais, acabaram ficando sozinhos. Já podia ouvir sons de choro, pensei que era meu coração ressoando seus sons muito alto, mas não era eu, tinha uma menina do outro lado, com certeza a situação dela era pior que a minha, o Wesley (o comediante do 2°A), perguntou se ela não queria sentar com a gente, ela fez que sim com a cabeça, comprimentou todo mundo, mas continuou caladinha. Percebi os olhares do pessoal novo, eles também queriam ser convidados a se juntar a um grupo, fiquei com dó mas não cabia todo mundo ali.

Resolvi fazer uma "reamizade" com menina do 2°A seu nome era Amanda, ela era super legal e engraçada, porém era tímida, seus cabelos eram loiros, curtos como os meus, mas dava um tom meigo a ela, era mais alta que eu, seu corpo tinha mais curvas que o meu, seus olhos eram azuis, tudo nela estava em seu devido lugar.
Nós passamos o intervalo juntas, e assim foi durante uma semana.

*

Na semana seguinte parecia que tudo ia se repetir, parecia que eu realmente estava certa, tudo começou quando a menina chorou de novo só que dessa vez o pessoal do 2°C foi ajudá-la eles até soltaram algumas risadas, dessa vez eu acabei escutando o motivo de tanto chororo, ela tinha sido separada de seus amigos, no 3°P tinham algumas pessoas de sua sala, mas ela não falava com eles... Ela se sentia sozinha.

No mesmo dia eu e Amanda reparamos na menina nova, tadinha, ela sempre mexia no celular, claro não tinha ninguém pra conversar.

-Podíamos falar com ela o que acha?- Eu disse.
-Verdade, tá meio chato aqui, talvez conhecer alguém novo dê uma animada. Mas você chama.

Eu? Logo eu? Também pra que fui dar essa ideia? Chamei a menina, nós conversamos, porém Amanda não foi com a cara dela, chegou achando que conhecia tudo e todos, sabia fofoca de todo mundo, deu uma lista de garotos na qual ela já tinha ficado (um deles inclusive era da nossa sala), já falava de sua antiga escola como era melhor que a atual, que só tinha mudado porque seus pais não quiseram mais pagar escola particular, era a mais expert com séries e livros.
Apesar de perceber que Amanda não gostou de Fabiana, resolvi dar uma chance a ela, as primeiras impressões são as que ficam, mas deixei esse ditado pra lá, vai que ela só tava querendo impressionar a gente.

Amanda ficou tão chateada que resolveu não ficar no intervalo comigo tive que ficar com a Fabiana, até que o assunto dela melhorou agora, dessa vez ela queria saber mais sobre mim, sobre como era ser modelo, acabei falando de mais, soltei algumas de minhas frustrações, como: " Ser modelo é legal, mas trabalhar com seu corpo não gostando da aparência dele é horrível!". Amanda ficou super curiosa como eu podia não gostar de ser magra? Ela era gordinha, em cima era mais larga que embaixo, seus olhos eram verdes, seus cabelos tinham um tom loiro escuro, ela era linda, tinha um jeito de boneca!

A última aula era a de Educação física, eu nunca fui chegada a esportes, gostava mesmo era de ver os outros jogando, peguei minhas coisas, e desci atenciosamente a quadra sozinha, o professor me esperava no portão, desci as escadas e no último degrau torci meu pé, na hora doía tanto que eu não conseguia pensar em nada, até um menino viu minha cena desastrosas e veio me ajudar, ele era do 3°Q desceu escondido pra jogar com a minha sala, não consegui olhar no seu olho a dor era insuportável.

- Você deve ter machucado o pé, vou buscar um gelo.
- Obrigada. - Respondi quase morrendo.
Até que outro menino veio me ajudar esse era do 3°P (minha sala), perguntou se eu estava bem, o que tinha acontecido, nesse momento eu já estava um pouco melhor já tinha passado o susto, mas meu pé estava inchando. Eu olhei pra ele ainda com olhos lacrimejantes, e consegui ver a face de um anjo, ele era lindo demais, ele era um pouco forte, seu abdômen era definido, seus olhos eram castanhos, seu cabelo era liso, e castanho, seu sorriso era maroto, tinha cara de menino levado. Ficou o tempo todo do meu lado, me ofereceu água, me senti tão bem cuidada...

Mas tarde me levaram até a diretoria e enfaicharam meu pé. Na hora de ir embora Amanda e Fabiana me ajudaram a chegar até o ponto de ônibus, infelizmente não tinha ninguém pra me buscar na escola, e de todo jeito eu iria ter que voltar de ônibus mesmo!

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