Tentativa 5

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Após 2 meses de aulas parece que a linha que dividia os grupinhos da minha sala se diluiu, logo depois do debate que a professora de História passou que à duas semanas atrás eu pensei que não sobraria resquícios dessa sala depois de um tema tão polêmico, parece que fez o contrário, e uniu  algumas pessoas.

Nesse período a Ana Júlia mudou de horário, e Fabiana voltou correndo pra gente e trouxe com ela a Jeniffer a menina que não parava de chorar no começo do ano.
Depois da chegada delas eu percebi que o nosso grupo de dividiu, de um lado Wesley, Marina e Jamille, do outro eu Amanda Fabiana e Jeniffer.

A aula está mais entediante do que nunca, então eu peço a professora licença para ir ao banheiro... Ou melhor pra andar no pátio, mas dei a entender a ela com uma expressão de dor que iria demorar. Desço as escadas, e depois subo a rampa que dá acesso ao pátio principal onde o fica o pessoal de aula vaga, resolvi passar na cantina e comprar mais um Fini, de morango ácido. É a melhor coisa do mundo.
E então resolvi ir para o meu esconderijo, a minha escola tem uma área aberta do lado do pequeno pátio que dá acesso a quadra, onde algumas pessoas ficam, mas eu descobri no final do ano passado um jardim escondido que tem lá, que pra chegar eu tenho que passar por um portãozinho e depois um corredor.

Faço todo o trajeto comendo o meu Fini devagarinho. Apesar de ter vindo aqui varias vezes eu ainda me impressiono com a beleza desse lugar, as flores estão impecáveis, e quem será que cuida? Ainda bem que trouxe minha garrafinha de água pra regar a Carmélia que plantei ao lado de um Mosquitinho, que também tem sua beleza, mas ainda, as Carmélias são minhas favoritas...

Levo um susto, coloco minha mão a boca e deixo o pacotinho cair na grama, percebo que alguém chegou lá antes de mim. Se for alguém da diretoria, estou ferrada. Então me aproximo um pouco mais e percebo  que a pessoa está usando uniforme, e acabo soltado um suspiro de alívio. Por um momento achei que aquele lugar era só meu, que só eu sabia da sua existência, e me perco olhando pra pessoa que está sentada.

- O que é? Porque tá parada aí me olhando?

- Rafael? - Eu não conseguia enxergar direito com o raio de sol nos meus olhos, mas aqueles cabelos loiros eram inconfundíveis. - Tudo bem? Pensei que tivesse faltado, eu... O que você tá fazendo aqui?

- Acho que isso realmente não é da sua conta, né?

- Nossa...- Não consegui esconder minha cara de surpresa com seu tom de voz áspero, sua aparência angelical, o tornava um santo na minha cabeça. Esperei um sorriso ou algo do tipo, ou ele dizer que estava brincando mas isso não aconteceu...

-Você me seguiu até aqui?

- Hã? Porque eu te seguiria? - Quanta prepotência.

-Nada...- Ele revira os olhos e olha pra mim com sarcasmo.- Alguém sabe que eu tô aqui?

- O quê?... Não ninguém sabe, aliás nem você deveria saber que esse lugar existe.

- Porque? - Ele me encara de um jeito selvagem.

-Esse é o meu esconde... Bom...- Não quero parecer uma idiota então falo no mesmo tom que ele. - Esse lugar é meu, e nunca pensei que teria que dividi-lo, pensava que só eu sabia que esse jardim existia, então se continuar me tratando dessa forma é melhor sair.

- Porque? Eu cheguei aqui primeiro!

- Nossa quanta infantilidade... Tá! Se esse é seu argumento, o meu é: Eu cheguei nessa escola antes de você, e tem mais, eu descobri esse lugar antes de você.

- Falou a maturidade em pessoa...- Ele apoiou os braços esticando sobre banco. - Eu não vou tirar os meus pés daqui. Só porque conheceu esse lugar antes isso não te faz dona.

-Ai, aí...- Saio bufando. Passo na frente dele e vou fazer o que me interessa, me ajoelho na grama e começo a olhar minha Carmélia. Parece que vou ter que trazer algum tipo de adubo, ela não está com a aparência saudável.

- Você vem muito aqui, né?

-Porque o interesse?- Olho bem nos seus olhos pra saber qual a sua resposta.

-Nada... É só que sua Carmélia parece receber bastante água... Todos os dias...- Ele fez uma cara de que explicar isso é cansativo, e que eu deveria saber. Praticamente me chamou de burra com os olhos. - O solo está encharcado.

Reviro os olhos e respondo: - Hum, não sabia que homens se interessavam por Carmélias.

-Hum, que feminismo! - Ele para de me encarar para rir da piada.

-Hum, que sem graça! - Quando levanto os meus braços para me levantar acabo derrubando toda a água da garrafinha na Carmélia, e no Mosquitinho. Levo minhas mãos a cabeça sem saber o que fazer e olho para seu rosto, como quem diz: Satisfeito?

- Desse jeito vai acabar matando ela. - O sorriso maldoso surge novamente.

- Você é chato demais, cara! - Saio sem olhar para trás bufando mais que tudo.

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