Tentativa 2

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No ônibus indo pra escola notei que havia um rosto familiar. Tentei lembrar, não consegui. Acho que deve ser engano meu, um rosto daquele eu não podia esquecer. Ele era loiro, olhos azuis, um pouco mais alto que eu, diria que ele tem 1,70. Surpresa, ele estava vestindo o uniforme da minha escola, ou seja com certeza eu já tinha visto ele... Besteira!

A primeira aula era de matemática tentei me concentrar mas não consegui, aquele professor era muito bom no que fazia, tão bom, que ele tentava explicar as coisas da forma mais difícil possível. Eu só queria conversar com alguém, todos pareciam estar mais interessados em trigonometria, até Gustavo, o menino mais desinteressado do mundo, estava fazendo anotações no caderno conforme o professor explicava. Já eu continuava... Hã?

Finalmente acabou a aula e eu pude conversar, botei todos papos em dia com as meninas, afinal passamos uma semana em casa por causa do carnaval. Amanda assim como eu tinha ficado em casa, com sua mãe e seu irmão, seus pais eram separados. Ela contou que passou o fim de semana inteiro assistindo os desfiles que ela ama. Temos muita coisa em comum, afinal eu tenho muita vontade de desfilar na Beija flor, então de carnaval eu entendo. Fabiana viajou com seus pais pra Minas Gerais, seus parentes todos moram lá. Tenho uma sensação esquisita toda vez que falo com ela, não sinto verdade em suas atitudes, parece que sua personalidade é muito levada para o que os outros sentem e fazem, não parece ser ela mesma.

Enfim, chegou o intervalo. Pude matar minha fome e descansar das aulas, o menino novo parece ter feito amizade, o nome dela era Evelyn. O jeito que ela olhava parecia ter uma quedinha por ele, confesso que quando olhei senti meu coração gelar de leve.

Bateu o sinal, então desci a rampa e subi as escadas que davam para o corredor da minha sala que era a última antes da biblioteca, me sentei e comi minha bolacha, antes que todos entrassem, de repente entrou um amigo meu que era da minha sala do ano passado, o Fred, conversamos bastante, ele contou que finalmente vai se assumir pra família dele, dizer a todos em um jantar aniversário de 90 anos de sua bisavó que é gay, tem data melhor pra isso?

-Quero só ver a cara de todos quando me verem, todo de rosa choque, não vou precisar nem de muitas palavras.
-Bem sua cara Fred - Dei uma gargalhada. - Pensei que sua Família fosse de boa quanto a isso, eles não parecem ser preconceituosos. Lembra quando a Janaína se assumiu?  Ela foi na sua casa contar, e sua avó pareceu estar feliz por ela.
- Só pareceu mesmo Catharina, são "tudo" um bando de maldosos, quando são os de fora eles até respeitam, mas quando é os de casa, aí daquele que se revelar diferente. Com a Jana foi igual, o apelido dela na família é "Janão Sapatão", minha mãe é a única que tratou ela com carinho, porém eu ainda tenho medo do que pode acontecer se eu me assumir, nunca conversei com ela sobre isso, pode ser que ela tenha uma atitude diferente,o meu pai nem comigo mora então, é um a menos...
- É uma pena que você tenha que passar por isso, eu sei que o seu primo, o Misael, vive te ofendendo, com palavras.
- Nem ligo para o que aquele Zé droguinha, acha ou deixa de achar... Ah mulhé nem te conto ele quase chegou a me agredir, mas eu não deixei barato não. Ninguém mais vai me machucar por causa disso. Passei anos sofrendo por não ser quem eu era.
- Eu ainda acho uma pena, preferia que você não tivesse que fazer isso, pra se sentir aceito, queria que você fosse aceito naturalmente, ou pelo menos respeitado.

Fomos interrompidos pela professora de Português que entrou comprimentou eu e Fred,e atrás algo que parecia um casal brincando, eram eles Evelyn e Rafael. Senti uma dor no meu coração, Deus me livre ser amor.

Amanda chegou na sala conversou e fez diversas piadas com Fred, que logo depois foi embora, porque a professora Sílvia pediu que ele se retirasse, ela fez a chamada, e pediu que todos se sentassem de acordo com o mapeamento. Graças a Deus ela me colocou logo atrás de Amanda e na frente de Fabiana. A professora passou uma lista e normas de exercícios. Eu estava em plena concentração no poema de Gonçalves Dias:

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