XIV - Os Méritos da Igreja (Parte 1)

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Os Atos dos Apóstolos resumiram com concisão inigualável a atividade terrestre de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo dele: "Ia de lugar em lugar, fazendo o bem" (At 10, 28). Toda a sua vida terrestre foi bênção e beneficio.

A Igreja Católica é o corpo místico de Cristo, é Cristo continuando a viver entre nós. É, pois, muito natural, que possamos aplicar à sua atividade as mesmas palavras da Sagrada Escritura: "Passou fazendo o bem".

Ouvimos tantas vezes falar de "cultura cristã" e de "civilização cristã", que agora, – em conexão com estas instruções sobre a Igreja, – eu desejaria examinar mais a fundo as bênçãos, os benefícios e os méritos da Igreja relativamente à civilização. O papa Leão XIII, na sua encíclica "Inescrutabili", chamou a Igreja Católica "mãe da civilização". Não será um entusiasmo excessivo? Não será um exagero sem fundamento? Será realmente verdade que não haja uma só instituição no mundo que tenha feito, mesmo aproximadamente, tanto bem à humanidade, no terreno da verdadeira civilização, quanto a Igreja Católica? Acaso não exagerou o escritor que formulou esta asserção:

"Examine-se a questão como se quiser, persiste sempre a verdade: que a Europa ocidental é essencialmente criação da Igreja latina, da Santa Sé, do papado romano" (Jakob Philip Fallmerayer: Gesammelte Schriften II, 202).

Se, na presente instrução, e na seguinte, examinamos de perto os méritos da Igreja, fazemo-lo para intensificar mais ainda a flama do nosso amor para com a nossa Santa Igreja Católica.

Quais são, pois, os méritos da Igreja que obrigam toda a humanidade a lhe voltar gratidão eterna?

1. A Igreja é a guardiã do Ensinamento de Cristo
O primeiro mérito da Igreja Católica – e que relega para a sombra qualquer outro mérito – é que ela guarda na sua pureza integral o ensinamento de Cristo.

A) Ninguém pode negar à Igreja Católica o grande mérito de haver conservado integralmente, e na sua pureza absoluta, em meio às tempestades dos séculos passados, a preciosa herança de Cristo.

a) Sem Cristo não há cristianismo. Observemos à volta de nós, no mundo inteiro: onde achamos o semblante de Cristo sem deformação? Unicamente na Igreja Católica. Para onde quer que volvamos os olhares, a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo está defeituosa: ou lhe tiraram alguma coisa, ou lhe deformaram os traços. Ario nega a divindade de Cristo, Nestório nega a unidade da sua pessoa, Eutíquio nega a coexistência duma natureza divina com uma natureza humana. Sérgio nega que Cristo tenha uma vontade livre, Apolinário nega que ele tenha uma alma humana, Basilido nega a realidade do corpo humano de Cristo. Que lutas encarniçadas travou a Igreja para defender a pessoa de Cristo contra os antigos hereges.

Depois vieram novos adversários, mais perigosos ainda que os antigos. Um proclamou que Cristo nunca existiu que isso não passava duma lenda. Outro, que Cristo era um hábil hipnotizador. Um terceiro, que Ele era um sonhador, um ideólogo. Um quarto, que Ele foi o primeiro socialista... É espantosos imaginar o que teria ficado de Cristo se, no meio das ondas espumantes do ódio e da maldade, a Igreja Católica não tivesse conservado bem alta, para defende-la, a imagem bendita de Cristo.

b) Foi nos nossos dias que sobreveio o adversário mais perigoso, cem vezes mais perigoso que todos os precedentes: a incredulidade; o ateísmo organizado.

Quem ainda não ouviu falar dos assaltos do ateísmo organizado? Quando dois bons Cristãos se encontram, saúdam-se reciprocamente dizendo: "Louvado seja Deus!" e o outro responde: "Para sempre seja louvado". Mas hoje em dia, nos Soviets, quando um Russo encontra outro, deve dizer-lhe: "Não há Deus". E o outro responde: "Não houve nem haverá".

Folheemos as revistas desses Sem-Deus: a quem atacam elas com o ódio mais implacável? O papa de Roma. Basta deitar um olhar nos livros de leitura das escolas primarias russas: sobre quem lançam eles, mais lama mais calúnias? Sobre a Igreja Católica Romana. E por que? Porque sentem que ela é o único obstáculo serio à propagação do comunismo. Sentem que Cristo – que eles querem extirpar da alma humana – vive e age na Igreja Católica, que é nela que se pode achar Cristo todo, sem falsificação, o Cristo que foi predito pelos profetas, o Cristo de que falam os Evangelhos, o Cristo inteiro, com a sua divindade e a sua humanidade, com os seus mandamentos e sacramentos, com suas mãos que abençoam, e o seu coração misericordioso, o Cristo que, no dia da sua ascensão, disse à sua Igreja: "Ide, ensinai todas as nações, batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar tudo o que eu vos mandei" (Mt 28, 19-20).

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