Capitulo II

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Estava anoitecendo, eu já estava pronto faz tempo, o problema de ter ansiedade é isso. O desespero. Você fica desesperado se a pessoa se atrasa um minuto e ele não tinha marcado um horário, me fazendo ficar mais desesperado ainda. Eu tentava de todas as formas me distrair, mas a distração era inútil. Eu ainda continuava desesperado, olhava toda hora pela janela e não via ele. Então decidi ficar no celular, mas tudo parecia inútil e irrelevante para mim, pensei em dançar, mas eu me soaria inteiro e eu não queria ir todo suado para o parque.

- Bob! - Ouvi a voz dele me chamando, desci as escadas a ponto de cair, por sorte cheguei vivo lá embaixo.

- Tôindomãenãomeesperaacordadobeijoteamotchau. - Não esperei por sua resposta, sai em disparada pela porta da frente, ele estava na porta, me fazendo brecar para não cairmos.

- Te fiz esperar muito? - Ele disse com um sorriso vergonhoso na cara.

- N-não - Ótimo momento para gaguejar, Bob. - Óbvio que não.

- Estava tentando convencer meu pai para emprestar a moto. - Concordei com a cabeça, ficamos um encarando o outro. - Vamos?

- C-claro. - Decidi não abrir mais a boca.

Após ele montar na moto, já com o capacete em sua cabeça e me entregando um para eu colocar também, subi na garupa, não sabia aonde segurar então segurei na própria garupa.

- Se eu fosse você seguraria em minha cintura. - Ele não deu tempo para eu pensar ou fazer qualquer coisa, saiu em arrancada me fazendo dar o grito menos másculo possível, tirando uma risada dele rouca. - Já pode parar de apertar minha barriga. - Então percebi que estava com a cabeça em suas costas com os olhos fechados e eu apertava com toda a minha força a sua barriga.

- D-desculpa. - Já estava me considerando um gago, porque já era a terceira vez somente hoje.

Após um tempo ele parou em frente ao parque, que estava fechado com uma placa enorme em frente escrita "em reforma", ele deu um suspiro pesado.

- Poxa... Que pena. - Ele realmente parecia chateado. - Conheço outro parquinho, mas é mais simples, topa?

- Claro. - "Com você eu topo tudo" completei mentalmente.

~••~

Chegamos em um parquinho que tinha apenas um balanço e um escorregador para crianças, mas pelo menos estava vazio. Ele parou a moto do lado do balanço, descemos e eu fui o primeiro a ir para o balanço. Balancei e senti o vento no meu rosto, sorri, pois fazia muito tempo que eu não fazia isso. Meu pai nunca esteve presente para me levar em brinquedos quando eu era criança, e eu nem preciso falar sobre o meu padrasto. A única (e a última) vez que eu fui foi no meu aniversário de 10 anos, minha mãe me levou em um parquinho, comprou algodão doce para mim e ficamos a tarde toda lá, foi um dos melhores dias da minha vida.


- Vamos fazer uma brincadeira? - Estava distraído em meus devaneios e não percebi quando ele se sentou no balanço ao meu lado e começou a balançar também. Acenei em resposta. - Vamos ver quem salta mais longe? - Devo ter feito uma cara óbvia de dúvida, porque após ele rir ele me explicou. - Funciona assim, vamos balançar com a maior força que pudermos e saltar do balanço, quem cair mais longe ganha. - Sorri para ele. - Preparado?

- Sim.

- 1... - Já estávamos balanço mais fortemente. - 2... - Me preparei psicologicamente para o salto. - 3... JÁ!

Saltamos o mais longe que conseguimos, atingimos o chão já rindo, rolei para perto dele e me ajoelhei ao seu lado, ele permanecia deitado na folhagem seca.

O Que Meu Coração Me DizOnde histórias criam vida. Descubra agora