Chegando em São Paulo eu percebo como o estilo de vida é totalmente diferente do que eu vivia e automaticamente eu me assusto. Procuro no meu celular o número do Carlos, o cara com quem eu dividiria o apartamento. Ele passa o endereço e eu chamo um táxi e vou ao seu encontro, com muito medo, mas precisaria me acalmar, não poderia acontecer nada de ruim.
Desço do táxi, ele está lá embaixo me esperando. Havia imaginado uma pessoa totalmente diferente de quem eu vejo, e me assusto. Ele era alto, cabelo encaracolado, pele escura como seu cabelo e seus olhos e com um sorriso perfeito.
- Bob, né? - Ele vem ao meu encontro e me ajuda a tirar as malas.
- Sim! Você é o Carlos? - Ele concorda com a cabeça e sorri de novo.
- Chegando lá em cima peço que você não se assuste, eu tenho um estilo diferente de vida, eu faço vestidos para drag Queens, não se importa né? Aliás, adorei o cabelo.
- O-obrigado, é... Não me me importo, tô doido pra ver seus vestidos! - e realmente estava.
Subindo o elevador até o oitavo andar, ele me levou para dentro do seu apartamento. Não sei o porquê, mas me sentia bem ao seu lado, não estava com medo. Acho que seria um ótimo recomeço para mim.
- Bom... - Disse ele, abrindo a porta do seu apartamento - aqui que eu moro. Tá uma bagunça porque hoje é noite de apresentação, daqui a pouco minhas amigas chegam. Ali é a cozinha - A cozinha era pequena, tinha um balcão americano que dava visão a sala, com a geladeira, armário e fogão lado a lado, com um microondas ao lado da geladeira e em cima de um pequeno balcão. - Aqui, é a sala, é mais arrumado do que está agora - ele apontou para a sala, que tinha vestidos e manequins por ela, uma tv não muito grande, mas também não muito pequena. - ali fica o banheiro, a esquerda fica o seu quarto, e a direita o meu. - Era um apartamento pequeno, mas me deixava muito a vontade estar nele.
Deixei minhas coisas em meu quarto e me joguei na cama. Encarando o teto eu senti um grande aperto envolver meu peito, gritando o nome do Patrick. Ainda doía, não tinha sido um amor de verão, mas eu precisava esquecer tudo isso. Fui para a sala e observei o Carlos trabalhar concentradamente, como se a vida dele dependesse daquele vestido azul-querubim.
- Gostou? - ele me tirou do transe que estava, observando ele colocar cada pérola igualmente azul no vestido. - Se quiser pode ver esse vestido sendo usado, ele se apresenta hoje numa boate aqui perto.
Pensei um pouco e concordei. Demoraria até a época de provas chegar, eu não precisava me forçar a estudar agora, tinha meses e meses pela frente.
A noite havia chegado, pairava entre 22 horas. Ele chegou ao meu quarto, falou para eu me arrumar pois já iríamos. Concordei, peguei minha roupa e fui ao banheiro. Coloquei supercut da Lorde para tocar e cantei juntamente com ela. Viajava para outro mundo com o canto, me sentia mais feliz, mais inteiro. Depois tocou outras músicas que tentei acompanhar o canto enquanto eu tomava me banho. Fui breve, me troquei e escovei os dentes, precisava me preparar para tudo. Ao sair do banho ele me encarava, com um sorriso no rosto. Sorri nervoso em resposta, não conseguia traduzir o seu sorriso.
- Você canta bem! - Não sabia o que responder, nunca havia tentado nada relativo ao canto, e ninguém havia me ouvido cantar antes. - Tipo, muito bem mesmo, to apaixonado pela sua voz.
Não sabia o que responder, então só sorri. Na verdade nunca soube responder bem a elogios e relativos.
Ele se trocou rapidamente e guardou o vestido em uma capa. Fomos em direção ao sub-solo e entramos em seu carro.
- Sempre que precisar de carona e eu estiver disponível, eu te levo, não hesite em pedir. - Eu sorri e concordei. Havia soltado poucas palavras, pois não estava acostumado a conhecer novas pessoas e era péssimo em interagir com elas.
