A escolha da profissão é a mais importante da vida de uma pessoa, mesmo que queira apenas ser mãe. Porém interferências em nossa infância, informações e palavras marcam e ficam em nossa consciência.
Não foi diferente com Rafaela. Um dia, quando tinha seis anos, seu pai a levou para um lanche. Enquanto conversavam sobre várias coisas, seu pai lhe perguntou:
- O que você quer ser quando crescer? - Rafaela, linda com seus cachos negros e olhos astutos, respondeu sem pensar.
- Professora!
Crescera no meio de educadores e conhecia o lado deles, apesar de trabalhar com crianças iguais a ela, a fascinar!
—Não faça isso minha filha – falou o pai coçando a testa. - Você tem que fazer algo que te dê dinheiro. Tem que ser médica ou engenheira.
Rafaela olhou para o pai perguntando-se como aquilo teria importância. Saber o valor do dinheiro ainda estava além de sua compreensão infantil. Vendo a confusão da menina o pai completou.
—Não vê a sua tia? Nem um carro ela tem para pegar as compras do mercado em casa. - a tia citada, era a melhor para a menina, que Rafaela via como um exemplo.
Explicado dessa forma, ela deu razão ao pai, mesmo trabalhando em dois turnos, a tia não tinha carro! Chegou a conclusão que professor era pobre. Aquela conversa desaminou-a profundamente, marcando-a naquela escolha. Manteve em sua mente que tinha que ganhar dinheiro.
O tempo passou e Rafaela com doze anos, entendendo um pouco mais sobre essa dinâmica, foi vistar o pai no trabalho. Ele era engenheiro e trabalhava na firma voltada para a engenharia civil. Tentando puxar assunto com a criança, o chefe do pai perguntou a ela.
—Criança, o que você quer ser quando crescer?
—Engenheira civil! - mais uma vez, respondeu sem pensar.
—Quem fez isso com você, menina? - perguntou o rapaz achando graça da resposta, já que na época a área de engenharia civil estava em baixa.
—Não fui eu – falou o pai prontamente, tentando se livrar das palavras do passado, não sabemos se ele esqueceu ou se envergonhou.
Mais uma vez, Rafaela ficou em duvida sobre qual profissão escolher. E agora, qual resposta daria quando perguntassem a ela o que faria? E a confusão estava ali, crescendo com ela. Quando a perguntavam, vinha em sua cabeça o conselho do seu pai, que tinha que fazer algo que desse dinheiro, já descartando as profissões citadas. Deixava a pessoa sem resposta, porque ela mesmo não a tinha.
Completando quinze anos, a situação apertou em casa. Os pais se separaram e para ajudar a mãe com os custos, precisava de um emprego urgente. E sua indecisão lhe pegou mais uma vez. Tinha apenas uma certeza, médica ela não seria. Não conseguiria lidar com a rotina dessa profissão, vendo sangue e ferimentos, crianças machucadas e pessoas sofrendo.
O caminho mais rápido era ingressar na escola técnica, a promessa de um emprego na formatura era a chance que estava precisando. Estudiosa, conseguiu e optou pelo curso de engenharia eletrônica, por conta de um amigo que ganhava muito bem nessa profissão, além das viagens que fazia. Afinal, seu pai lhe dissera que tinha que ganhar dinheiro, não é?
Sua surpresa foi grande ao se deparar com um curso difícil e exato! Diferente de sua primeira opção, os cálculos estavam presentes ali, não teve jeito e mudou de curso. Ao se formar, conseguiu também o emprego desejado, para ajudar a mãe, começou a colaborar nas despesas. Porem as palavras de seu pai não saiam de sua cabeça, apesar de ainda querer dar aulas para as crianças e não trabalhar com números em um escritório cheio de adultos concentrados e por vezes, mecânicos.
Rafaela cresceu, se tornou mulher, mãe, esposa e ainda trabalha na mesma empresa, alcançando cargos altos pelo bom trabalho, mesmo não gostando do que fazia. Era feliz em sua vida pessoal, mas na profissional...
Certo dia se abriu com um colega de trabalho, desabafou a raiva que sentia do pai e não ter seguido o que ela queria estudar e trabalhar. Contou-lhe das dificuldades e o porque do ingresso rápido no mercado de trabalho. O amigo a ouviu e depois de um tempo a tomou sabiamente.
—Não sinta raiva de seu pai, agradeça a ele! - Rafaela o olhou sem entender, e como a criança que fora, precisou de explicação. - Senão fosse ele, você não estaria aqui hoje, não seria o que é hoje. Você não é feliz?
Rafaela piscou ao pensar na resposta, a raiva pelo pai que nutria durante anos, passou a ficar pequena, pensou na carreira que construiu e que lhe proporcionou estabilidade, ajudar a mãe e a independência que tinha naquele momento, além de condições de criar a sua família.
—Sim, eu sou feliz – falou depois de um tempo, dessa vez pensando antes.
—Então. Nunca se sinta velha para fazer o que te faz bem. Hoje com as suas condições, você pode fazer o que quiser. Faça o curso, de aulas, mude de profissão. Hoje você é dona da sua vida e ninguém lhe impedirá!
Rafaela sorriu para o amigo, não havia pensado daquela forma. Ele tinha razão, agora estabilizada e dona de si, poderia fazer o que quisesse.
Faço minhas as palavras do colega de Rafaela. "Nunca se sinta velha para fazer o que te faz bem, ou seja, vá atrás do que você realmente quer. Há momentos na vida que nós podemos escolher, em outros ela escolhe por nós. Então escolha o que te faz feliz, mesmo que esse momento tenha chegado tarde para você, nunca é tarde para a vida. Se no momento não faz o que gosta, calma! Logo o fará...
Até o próximo....
Obrigada TaianebastosMaciel pela inspiração.
(Música: Como nossos pais - Elis Regina)
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Entre Mulheres
PovídkyQuem disse que mulher é o sexo frágil, nunca conviveu com uma. Quem disse que mulher é "bicho esquisito", está chegando perto conhecê-las. Quem disse que lugar de mulher é na cozinha, não sabem que ela pode ser multi tarefas. Mas na verdade, ninguém...