Um amor puro

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—Me ajude, por favor! - a mulher entrou aos prantos na delegacia, na noite de sexta feira. - Por favor!

—Em que posso ajudá-la, senhora? - perguntou a atendente atrás do balão, com a expressão vazia.

—Meu filho! - ela soluçou. - Meu filho desapareceu! - mais lágrimas caíram em seu rosto, não havia vergonha, apenas desespero.

Elisa era uma mulher comum, morena de cabelos escovados e o corpo curvilíneo. Trabalhava o dia inteiro como vendedora na loja de roupas femininas, enquanto o seu filho de dez anos estudava pela manhã e fazia os cursos à tarde. Como muitas mães, criava o menino sozinha e teve que fazê-lo amadurecer rápido demais.

Sem família próxima, contava com a senhora vizinha para olhar o seu filho, porém confiava no menino. As ordens eram dadas todos os dias pela manhã, antes dela sair para o trabalho, e os horários respeitados. Vitor ligava para avisar que havia chegado em casa da escola ou do curso de inglês, sempre havia uma recomendação da mãe e se ele não respeitasse, ela o levava para o trabalho para ficar sentado em uma cadeira enquanto cumpria o seu horário. Assim o menino aprendeu a obedecer. Há dois anos estavam assim e nunca havia acontecido nada. Até agora.

—Ele sumiu – falou Elisa mostrando a foto do filho moreno e bonito. - Traga-o de volta!

—Senhora, quando ele desapareceu?

—Cheguei em casa e ele não estava. Passei no curso e me disseram que ele faltou. Liguei para o seu celular e ele não atende! - ela soluçava a cada palavra dita.

—Senhora, deve esperar para prestar queixa, assim...

—Não quero esperar! Vão procurá-lo agora! Traz ele de volta para mim – Elisa se abraçou enquanto o pranto continuava, atraindo a atenção de todos da delegacia. Alguns detentos esperando transferência, outros prestando queixa policias fardados.

Daniel vendo onde aquilo podia chegar, se aproximou devagar, mais um grito da mulher ela seria presa por desacato.

—Senhora, poso ver a foto? - falou calmo e sua colega o agradeceu pelo gesto. Apesar de sempre ver o desespero das pessoas, nunca podia fazer nada e por sexta feira estava cansada demais para dramas maternais.

—Esse é meu filho! Traz ele de volta! Vão buscá-lo!

—Acalma-se senhora, me acompanhe por favor.

Daniel, fardo e portando armas no coldre, a guiou para uma das sala dos inspetores. Essa também de paredes amarelas, uma mesa sintética com um computador apenas. Elisa sentou na cadeira acolchoada azul e aceitou o copo d'água que ele lhe estendeu.

O policial esperou, sentando-se na cadeira do outro lado da mesa. Aquela mulher estava fora de si, teria que dar-lhe um calmante. Começou a abrir a gaveta e procurar algo assim, mas ali não havia nada. Deu outro copo e vendo a calma retornar a ela, se arriscou.

—Como a senhora sabe que ele sumiu? - o olhar que recebeu foi o pior que os gritos de antes.

—Ele sempre mantinha contato com. Sempre! Tenho provas no celular.

—Não duvido senhora, mas há um protocolo. O inspetor lhe contará como funciona – Daniel se manteve calmo, não adiantava discutir mais.

—Não quero saber de protocolos! Quero o meu filho! - gritou mais vez, toda a delegacia ouviu.

—O que está acontecendo aqui? - o inspetor corpulento entrou na sala observando a mulher histérica. O policial o olhou ajuda. - Senhora se acalme e sente por favor, me conte toda a história. - pediu a Elisa que havia se levantado para atacar o policial e fez sinal para Daniel se levantar, o que foi feito.

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