Elisa exausta as seis da tarde, estava esticada no sofá, tentando juntar as peças. A campainha tocou e logo atendeu. Eric, calvo e de óculos, estava do outro lado da porta com um olhar invasivo. O vizinho dos fundos sempre fora assim, sempre se insinuava para ela.
—Como você está? Ana me contou de seu filho.
—Estou indo Eric. Obrigada por perguntar.
—Qualquer coisa, conte comigo – olhou mais uma vez para as pernas dela.
—Pode deixar – ela fechou a porta desanimada. A esperança de ser seu filho a porta mais o cansaço do dia, só ali no final, chorou as lágrimas que segurara o tempo inteiro de busca.
Daniel estava a sua porta, não sabia se batia ou ia embora. Eram oito da noite e há vinte minutos estava parado olhando a porta, já decorar os enfeites que haviam nela, três borboletes azuis, uma de cada tamanho. Quando estava desistindo a porta se abriu de repente e foi enlaçado em um abraço, que retribuiu.
Havia alguém na porta, uma pessoa parada, ela viu e não pensou duas vezes, era o Vitor! Tivera tanto certeza que abraçou sem olhar, depois se deu conta do que fizera. Elisa se afastou envergonhada, ao sentir o perfume masculino e o braços fortes, além da altura.
—Perdão, foi apenas uma esperança.
—Essa nunca deve morrer! Posso entrar? Acho que posso ajudar se souber mais detalhes – Elisa brilhou.
Todas as perguntas dele, ela respondia de forma entusiasmada como se aquilo fosse trazer o seu filho mais. Confiou em Daniel quando voltou no dia seguinte para jantar e ajudava a espalhar para fotos do menino. Não alheio ao sofrimento dela, ele pensava no cargo e na promoção que lhe esperava ao resolver esse caso. Além do sorriso dela ao falar do filho. Sua necessidade de vê-la e ajudar cresceu, aquele era o verdadeiro significado de unir o útil ao agradável.
E assim passou uma semana...
Uma semana de dor, saudades e lamentos, mas todos os choros foram consolados por um ombro amigo. Elisa estava grata pela companhia e pelos vizinhos, mas Vitor era o mais importante. Aquela falta estava a defiando, senão fosse pelo Daniel teria feito uma besteira. Com piadas bobas e papo fluido, comiam e riam, apesar de não saber como conseguia. Mas naquela noite ele estava serio.
—O que houve? - perguntou após o jantar silencioso.
—Foi confirmada a minha suspeita. - Elisa teve o coração parado por um instante – A quadrilha está sendo intimada após o tempo de investigação.
—O que? Qual quadrilha?
—A que trafica crianças – Daniel passou a mão pelo cabelo, era difícil falar isso para ela. As lagrimas logo vieram aos seus olhos. - Você entendeu, Elisa? Vitor não foi o único. Estamos a um passo de encostrá-lo.
Ela que estava sentada a mesa, levantou-se e andou pela cozinha, a cada passo colocando o pensamento em ordem. Daniel ficou em pé também, esperando a reação da mulher agitada. O que recebeu foi um abraço apertado como forma de agradecimento. O tempo parou ali, quando sem soltar do abraço eles se olharam e seus rostos se aproximaram lentamente e um beijo tímido aconteceu. Depois, explodiu! Ele se tornou quente enquanto seus pensamentos iam para diferentes direções, até sumirem.
Elisa rompeu a ligação e sorriu. Imaginou que havia esquecido com fazia aquilo e lembrou que era ótimo. O sorriso se estendeu a ele, que viu o alivio no olhar dela, a esperança de ter o filho novamente.
—Quando? - ela brincava com o colarinho de sua farda. Ele ainda a segurava.
—Amanha no aeroporto – quando decifrou sua expressão, negou – Nem pense, Dona Elisa. Você tem que estar inteira para o Vitor. - ele fez um carinho em seu rosto e ela o beijou de novo.
Feliz era pouco para o que ela sentia, euforia chegava perto...
—Lá está o avião. Vamos homens! - gritou o capitão das operações especiais, colocando o plano em prática. Logo, o avião estava cercado pelos policiais e qualquer atitude do piloto, era arma de Daniel que daria jeito.
—Desça já – não havia como escapar.
A aeromoça abriu a porta do avião com a escada já posicionada. Todos prenderam a respiração, a pista era certa. Aquele era o avião, mas a demora deixava a questão em xeque. Daniel sentia o coração bater mais rápido, devia isso ao seu trabalho, principalmente a Elisa. O colega fez sinal e a primeira criança desceu. Atrás dela, em fila mais dez. Foram acolhidas pelos policiais, que cobriam a retaguarda e um equipe medica. Daniel ansiava, mas não conseguia ver o Vitor, memorizado pelas fotos. Será que ele não estava ali? Será que já saria do país? Será que com ele acontecera coisa pior?
Um menino moreno, de pele clara e assustado foi o último a descer as escadas. Um sorriso largo surgiu no rosto de Daniel, aliviado. Da mesma forma, foi até a equipe médica e entraram no ônibus, que seguira para o conselho tutelar. As crianças estavam a salvo!
O que intrigou Daniel era quem o colega segurava pelo pescoço, numa chave de braço. Eric, que conhecera num dia que jantara com Elisa e logo depois Ana. Os dois faziam parte da quadrilha e eram responsáveis pelo transporte das crianças. A raiva subiu lhe ao rosto e ele se aproximou correndo.
—Como puderam...? - outro policial o segurou. Não houve resistência de sua parte, mas a mão do fuzil coçava, era apenas escorregar o dedo e ....
O reencontro com o filho foi épico! O abraço não parecia ter fim, após uma semana de saudades e pensando no pior, Elisa voltou a chorar, mas agora de felicidade! Louvores se elevaram aos céus e Vitor queria apenas a sua cama. Dormir no chão sujo ao lado de outras crianças, seria algo que o menino nunca iria esquecer. O alivio de ver sua mãe, sua casa, aquele...
—Quem é esse, mãe? - Vitor olhava intrigado para Daniel, que não saíra do seu lado. Depois que chegara ao conselho e viu a sua mãe, o homem não saiu do lados deles.
—Esse é Daniel. Ele me ajudou a te encontrar – Elisa enxugava as lágrimas. - Agora vá tomar um banho, que farei a janta.
Vitor assentiu e saiu. Exausto, o banho ajudaria, mesmo depois do interrogatório da mãe sobre o cativeiro. Não houve abuso nenhum, apenas a sujeira e o isolamento, também a comida ruim. Elisa abraçou Daniel.
—E agora? - perguntou Daniel segurando sua cintura. As coisas voltaram ao normal, mesmo que o filho precisasse de apoio psicológico, ela estaria com ele. Três semanas pela frente de férias para aproveitar e um policial ao seu lado. Elisa suspirou aliviada e vislumbrou um futuro bom e lindo.
—Vamos ver no que dá – e o beijou para selar o dizia. - Agora, o que você fez aqueles dois?
Daniel sorriu de lado, mas não respondeu, era informação para uma mãe...
Até o próximo...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Mulheres
Short StoryQuem disse que mulher é o sexo frágil, nunca conviveu com uma. Quem disse que mulher é "bicho esquisito", está chegando perto conhecê-las. Quem disse que lugar de mulher é na cozinha, não sabem que ela pode ser multi tarefas. Mas na verdade, ninguém...