Ainda existe amor em nós

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Valdirene não acreditava no momento em que vivendo. Precisava se beliscar para acreditar, acordar. Fora convidada para participar de um programa de auditório para falar de seu maior sucesso no mundo literário.

Baiana, mãe de dois filhos e pequena empresária, tinha um mercado próprio, se aventurou no mundo da escrita para dar asas aos seus sonhos, tanto aqueles conquistados quanto aqueles que não era possíveis. Depois de três anos lutando pelo seu lugar ao sol, ela conseguiu o reconhecimento que tanto desejava.

Abriu mão de tanta coisa pelo caminho, por vezes deixou de trabalhar, outras deixou as amigas esperando no bar, e muitas vezes, deixou o marido de lado. Ele não acreditava que aquilo iria longe, nunca levou fé no lado autora da esposa, porém aquele sonho ela não conseguia largar e agora colhia os frutos.

No último ano, segurou as pontas sozinha com as crianças e os negócios. Via Naldo apenas nas visitas aos filhos, mas as faíscas em seus olhos não se apagavam. Com certeza, ele estaria ali, ao seu lado, dando a coragem necessária para enfrentar o publico. As noticias eram que ele não se envolvera com ninguém e ela também não conseguia tal proeza.

"Dez anos não são dez dias..."

Os pensamentos voavam até se acomodar no sofá, no palco bem decorado, a direita da entrevistadora Fátima. O ambiente claro e sem teto, com as pessoas olhando apenas para as duas, no centro. Valdirene escolheu o pretinho básico para a ocasião, mas sua maquiagem estava de acordo com a pele negra e o sorriso imenso no rosto.

- Aqui estamos com a Valdirene, uma autora nacional de romances eróticos, que ganhou o publico! Tudo bem cm você? - Fátima começou bem.

- Sim. Obrigada - Val estava com vergonha ainda de se ver na frente de tanta gente.

- Como é estar no topo da lista de vendas?

- Para um país como o nosso, que menos da metade da população lê, é uma honra atingir essa meta. Estou muito feliz. - o sorriso abriu ainda mais.

- Há algum segredo, para quem quer ser autor?

- Não. Apenas comece, pesquise e escreva. A pratica sempre leva a melhora.

- Os romances eróticos têm em sua maioria, o publico feminino. Por que isso acontece? - Valdirene estava se acostumando a conversa. Fátima a deixava confortável.

- Nós mulheres - fez um gesto englobando as duas. - Usamos outros sentidos para nos excitar. Enquanto o homem é mais visual, nós usamos a audição e o tato. Então, a nossa imaginação voa quando lemos algo que descreva essas cenas.

- E em sua vida pessoal? Ela é parecida com as suas histórias? Cada autor escreve um pouco de si em seus textos...

- Bem... - lembrou os momentos lindos com o seu esposo, momentos de intimidade e felizes, quando as crianças nasceram. - As vezes, escrevemos nossos sonhos.

A plateia estava atenta a cada resposta, quando um homem ficou em pé e pediu a palavra. Todos o olharam.

- Ela é a melhor pessoa que eu conheço.

- Qual é o seu nome senhor? - Fátima ajeitou o cabelo atrás da orelha, incomodada com aquele momento inesperado.

- Naldo e sou ex-marido dela. Besta que sou.

O silêncio tomou o estúdio e Naldo saiu do seu lugar, chegando perto de Valdirene. Lhe abraçou arrancando palmas do publico e lágrimas da produção.

- Enfim. Li seu livro. E você escreve muito bem, meu amor, desculpa ter demorado tanto para perceber isso. Eu sei que reclamei demais, mas esse tempo me provou que não podemos ficar separados. Porque o amor que sentimos há de prevalecer.

Valdirene riu da música citada de seu grupo favorito. O sorriso antes murcho, voltou ao rosto e não saiu mais.

A entrevista continuou, ela passou todas as informações do livro e autografou tanto para Fátima quanto para os fãs que estavam na plateia. Feliz de ter seu reconhecimento e também seu homem a sua espera. Quando acabou e as câmeras foram desligadas, ela agradeceu e seguiu até ele.

Os ombros largos e os braços definidos marcavam na camisa preta, o corte rente e os olhos castanhos claros a encantavam, alto e na medida para ela, com a barriga reta e pelos que levavam ao caminho que ela queria seguir. O abraço foi forte e o beijo saudoso. O tapa foi leve porém firme no peito dele, que o fez rir.

- Bobo...

- Apaixonado por você!

Obrigada Valdirene13 pela inspiração.

(Música Ainda existe amor em nós - Sorriso Maroto)

Até o próximo...

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