Klaus estava correndo na minha frente, liderando toda a corrida matinal com uma boa diferença entre os outros.
Praguejei e tentei acelerar, forçando meu limite para ultrapassar dos dois garotos que estavam na minha frente e alcança-lo.
Ele ultrapassou a linha de chegada e começou a andar devagar, tirando a xuxa do cabelo e o amarrando novamente. Grunhi e me joguei contra ele, derrubando nós dois no chão.
- Pelo amor dos céus! – Ele disse após rolar algumas vezes no chão.
- Você tem sorte de eu não lhe dar um soco, imbecil! – Falei enquanto levantava e me aproximava mais dele.
- O que você acha que eu fiz agora, criatura?
- Cara, ela acabou de chegar aqui, o que você acha que ta fazendo?
- Ah – Ele disse quase num suspiro, se virando lentamente e se levantando. – Isso é problema meu.
- KLAUS E NADI.
Era nosso supervisor, um homem alto de ombros largos, careca, rosto quadrado, olhos minúsculos e cheio de cicatrizes. Marcado pela barba mal feita e pernas longas.
Um homem de humor inflável que se aproximava bufando de nós dois.
- Senhor – respondemos nos colocando em posição de respeito, punho sobre o coração.
- O QUE DIABOS VOCÊS ACHAM QUE ESTÃO FAZENDO?
- Estamos treinando – falei.
- Manobra evasiva numero trinta e três, senhor – Klaus completou.
Ele nos encarou. Primeiro olhou diretamente para o Klaus e então, ganhei sua atenção, sendo obrigada a olhar aqueles minúsculos olhos cor de lama.
- OS DOIS, PARA O GALINHEIRO, AGORA!
Nenhum de nós dois reclamou, apenas baixamos a cabeça e fomos seguir aquela estupida ordem.
O Galinheiro era um espaço cercado por colunas de ferro e uma cerca de proteção do mesmo material emaranhado nela. Não havia cobertura, quem ia parar lá tinha que se preparar para aguentar o sol e o calor de quase 40º sem queixa-se. E, é claro, você não podia ser visto parado, ou contava mais tempo de estadia lá, as pessoas eram mandadas pra lá pra ficarem ativos, treinando, parando somente para as refeições e tomar agua.
- Você não pensa em nada, garota – Klaus disse ainda de cabeça baixa, com a voz carregada de ódio.
- Eu? Sério? EU? – O encarei perplexa – Você sai daqui no meio da noite, carregando nosso equipamento e eu que não penso em nada? Adivinha quem ia ser culpada se alguém lhe pegasse!
- Ooh, grande coisa, uma semana no Galinheiro, que medo – ele fez uma voz zombeteira.
- NÃO É SÓ ISSO!
- Claro, nosso querido histórico vai ficar manchado, NOSSA, QUE TERRIVEL!
- Cala boca Klaus ninguém é obrigado a não se importar como você.
- É, eu não me importo e eu não sie porque você se importa Nadi. Você é inteligente, raciocina, pensa por si mesmo na maioria das vezes... Como você ainda consegue se importar com esse treinamento idiota?
- Porque ele importa – respondi já vendo a estrutura de metal aparecer sobre uma baixa do terreno.
- Pra um bando de desconhecidos que vivem uma vida que nunca conheceremos. Além disso, vivemos sobre uma premissa que nem sabemos se é verdadeira ou não. Podemos ser o lado errado e nunca percebermos, porque estávamos cegos demais ouvindo uma mesma reza. – Klaus abriu a porta do galinheiro e se encostou um pouco nela – Eu não quero passar minha vida aqui Nadi.
Abaixei os olhos evitando encara-lo, mas engoli seco e por fim o olhei.
Klaus tinha cabelo longo, castanho escuro, olhos de tamanhos medianos, marrons bem claro, um nariz forte e convexo, seu maxilar era um pouco quadrado e bonito, combinava com sua boca grande e lábios fartos. Seus ombros eram largos e todo seu corpo parecia proporcional, inclusive sua cintura mais fina. E a pele morena clara combinava com sua personalidade e aparência.
Ele estava me olhando, realmente me olhando, como se eu fosse tudo ali naquele momento.
- Nem eu, mas...
- NADI! – Ouvi uma voz familiar me chamar.
Era minha mãe, ela estava na parte mais alta do terreno, perto do Galinheiro e de um dos dormitórios, acompanhada por mais um guerreiro e uma garota com uma espécie de coberto nos ombros.
Olhei para o Klaus e nós dois corremos até ela.
- No Galinheiro? De novo? – Ela começou quando me aproximei. – Quantas vezes esse mês, Nadi?
- Cinco – respondi sem encara-la.
- Quem é ela, tia? – Klaus disse antes que minha mãe pudesse voltar a brigar.
A garota nos encarou, seu rosto era um pouco redondo, os olhos puxados, o cabelo negro bem curto e seu corpo parecia pequeno e delicado, mas todo cheio de cicatrizes de pequenos furos uns perto dos outros.
- Nova recruta, ela foi resgatada de um covil daqueles sanguessugas. – Ela respondeu me encarando, como se dissesse: "depois conversamos".
- Isso são mordidas? – Klaus perguntou olhando para as cicatrizes.
Dei uma cotovelada nele e o olhei feio.
- Tudo bem – ela disse pra mim -. São sim, mas a maioria é antiga, o que faz parecer pior do que são.
- Vamos – o guerreiro disse puxando a garota pelo ombro.
- Até mais tia! – Klaus disse com um sorriso bobo no rosto.
Eu só pude ver minha mãe dizendo sem voz, apenas mexendo os lábios: "Você está encrencada".
Aposto que sim.
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Descendentes
VampireO normal sempre pareceu o bastante para Caroline. Ela nunca se viu sonhando em nada além de sair daquela merda de escola e ser finalmente independente. Não havia necessidade de fantasias quando sua própria vida parecia ter saído de um filme dramátic...