Cap. 06 - Mateus

4 0 0
                                    

Eu estava jogado na merda do chão em uma droga de posição fetal.

Me movi rapidamente de qualquer jeito, batendo minha canela em um móvel de madeira qualquer, o que me fez soltar um palavrão enquanto me virava pro outro lado.

All estava me olhando, com aquela maldita postura de "eu sou superior".

Tentei me levantar e acabei tropeçando em meu próprio pé, trotando alguns passos antes de conseguir equilíbrio e me erguer direito. Quando levantei a cabeça dei de cara com a garota com seus enormes olhos arregalados, com seus cabelos negros oleosos caindo sobre seu rosto.

- Oi – disse sem pensar.

- Oi – ela respondeu ainda me encarando.

Acabei caindo no chão alguns segundos depois, sentindo minhas pernas dormentes. Eu estava muito fraco.

Ela se inclinou sobre a cama para voltar a me encarar, agora com olhos assustados.

Sua imagem ainda revirava meu estomago.

All suspirou.

- Carol...

- Caroline – ela o interrompeu.

Ele suspirou novamente.

- Você ouviu o que eu disse?

- O que você acha?

- Que não, que você não me entendeu.

Ao que tudo indicava, eu havia perdido a parte boa do trama, o pequeno conto do All sobre a transformação que ela passara. Sobre o que seria essa nova vida que a esperava logo após aquela curva sangrenta e nojenta...

Pura idiotice.

Ele gostava de exagerar.

- Eu entendi, só não sei como reagir.

- Carol, eu posso ler...

- É CAROLINE, DROGA!

All a olhou com ódio e praguejou, saindo quarto apressado e batendo a porta com toda sua força, mas não antes de dizer:

- Vai se fu*** Carol.

Ela gritou e bateu na cama.

Desisti e finalmente deixei meu corpo cair no chão e o cansaço me possuir.

- Hey... – Falei desanimado.

- Oi.

- O que ele te disse é verdade.

- Que eu sou uma vampira? Duvido, isso nem existe.

- Então por que você ta assim?

- Assim como?

- Ah, sei lá... Suja desse jeito... Além de, hã, estar com essa sede, sentindo frio, com o corpo pesado e... Pálida desse jeito?

- Porque eu estou doente e a droga do meu irmão só me trouxe isso – Ela disse me jogando uma bolsa de sangue. – Idiota.

Tentei alcançar a bolsa de sangue, praguejando minha condição que me obrigava a me arrastar para pegar aquela merda infectada por aquela garota nojenta.

- Isso é uma bolsa de sangue, sabia? Não é algo lá muito fácil de se encontrar, seria legal se você tivesse cuidado e não ficasse jogando isso por aí. Além disso, você precisa dela... – Falei sem conseguir controlar a raiva e frustação na minha voz - Sério, não ta sentindo nem a mínima vontade de rasgar esse saco e tomar tudo de uma vez?

- ...Não – ela respondeu após hesitar -. E isso não é sangue, droga!

- Ahaam, quer ver? – Eu disse levantando a bolsa de sangue um pouco.

- Não.

Sorri torto e mordi a bolsa de sangue, agradecendo cada segundo que aquele liquido escarlate tocava minha língua e descia por minha garganta.

Ela gritou, mas quase não a ouvi até terminar minha refeição.

Eu ainda estava com fome.

- VOCÊ É DOIDO? IDIOTA? PSICOPATA? – Ela ainda gritava – Isso não era sangue, tem nem como... AI MEU DEUS, SEU OLHOS!

Oooh, meus olhos estão completamente vermelhos, que medo.

Alfonse é realmente a pior pessoa do mundo para explicar alguma questão... Ou pra fazer qualquer coisa, mas é claro que ele não acha isso, não, a culpa é sempre do outro que não soube entender toda a magnificência dos pensamentos dele... É claro.

Culpa total da irmã dele que foi jogada nesse mundo e se nega a acreditar em algo que ela viveu vendo em filmes B sem noção.

- PARA DE GRITAR! – Explodi – Você ta do mesmo jeito, idiota!

- NÃO!

- SIM!

Ela me encarava com medo, com os ombros tremendo e a mão coçando de forma agoniante o pulso esquerdo.

- Então levanta e vai embora, corre de medo! Ah, pera aí, você não consegue, né? Seu corpo ta pesado, suas pernas parecem dormente e... É, se mover é impossível.

Agora seu olhar era de raiva.

- Meu celular ta do teu lado, no criado mudo, da uma olhada aí pra ver se eu estou mentindo.

Ela estendeu a mão lentamente para meu criado mudo, o tateando até achar meu celular, sem tirar os olhos de mim, mexendo nele por alguns segundos antes de parar de repente e larga-lo.

- QUE... MERDA.

A garota pegou o celular novamente e ficou o encarando enquanto passava a mão nos cabelos e no rosto, lentamente.

-NÃO, NÃO, NÃO, NÃO...

E ela jogou o celular para o outro canto do quarto.

DescendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora