Descendentes

Cap. 7 - Nadi

Somos caçadores.

Seres humanos com um pouco mais de força e agilidade que os demais, criados desde que aprendem a respirar para combater e aniquilar qualquer demônio do sangue.

Nós somos a melhor linha de defesa contra eles.

A única.

Devemos manter o equilíbrio e a paz entre as espécies mesmo que isso signifique abrir mão de nossas próprias vidas, pois esse foi dever sagrado que nos foi dado desde o começo.

E isso significa não ser mandada para o Galinheiro por mau comportamento cinco vezes em apenas 22 dias.

- Você ainda me paga – disse assim que o encontrei, vendo-o com aquele sorriso bobo que me fazia querer bate-lo diretamente sem eu rosto. – Minha mãe não só me repreendeu como decidiu conversar com o conselho para me privar dos meus privilégios de saída.

Klaus parou.

Parei também.

- Nadi...

Respirei fundo.

- Não adianta pedir desculpas agora.

- Me desculpe – ele disse mesmo assim.

- Valeu a pena? – Perguntei me virando para encara-lo.

- Sempre vale – ele disse sem hesitar, dando de ombros. – Isso aqui é uma prisão e qualquer paliativo é melhor do que aceitar essa merda de realidade!

Ele só podia...

- Olha aqui, Klaus – caminhei na direção dele, tocando meu dedo indicador em seu peito enquanto deixava meus olhos demonstrarem toda raiva que eu sentia. – Eu não sou a porra de seus pais e nem iria querer ser, mas... MERDA! Você sabe a sorte que tem?

- Sorte?

- É, sorte! Você teve seus pais atacados por vampiros! Sua família toda foi devastada e você mesmo só não morreu porque nós, "prisioneiros" dessa merda de realidade, chegamos lá a tempo e lhe salvamos!

- Nadi...

- E não só o salvamos como lhe trouxemos aqui e você foi criado não só por dois pais bastante amorosos como por todos nós!

- PARA SER MAIS UMA ARMA NESSA MALDITA GUERRA!

Ele trincou os dentes.

- Eles nos tratam como se fossemos descartáveis! Como se não fossemos indivíduos e sim coisas que devem ter suas vontades reprimidas enquanto treinam a vida toda para morrer!

- NÓS SOMOS UM MEIO, KLAUS!

Ele abriu a boca para me responder, mas continuei antes que ele tivesse uma chance.

- Você prefere que todos morram? Que esses demônios idiotas façam da humanidade seu zoológico? Seu parque de alimentação? Que todos percam sua liberdade e suas vidas?

"Ninguém além de nós está preparado para enfrenta-los, Klaus! É claro que ninguém aqui gosta disso mas nós fazemos o melhor com o que temos em nossas mãos, mas sem nunca esquecer nosso real dever! "

Respirei.

Eu devia estar vermelha de raiva e um pouco descabelada, mas, foda-se.

Ele precisa entender.

Klaus cerrou os dentes, abrindo a boca quase em seguida e a fechando como se obrigasse a si mesmo a calar a boca.

Talvez ele tivesse entendido.

- Só que você esqueceu uma coisinha, Nadi.

Prendi a respiração.

- Foda-se a humanidade!

Ou talvez não...