Uma vida bem vivida é quando as pessoas lembram de você pelo bom legado que deixou para a humanidade."
- Vitorio Furusho
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ROSE
Assim que ouvi a porta se fechar atrás de nós, sacudi a cabeça, tentando abarcar a visão que se estendeu diante de mim.
Havia pensado numa variedade de segredos por trás daquela porta selada. Porém, nada remotamente semelhante ao que eu estava vendo naquele momento.
Era um jardim.
Que, naturalmente, não chegava nem perto de parecer com um jardim comum.
Olhei ao redor, embasbacada. Todo o local era abarcado por uma gigantesca e verdejante sebe, que se estendia como uma amurada em todo o entorno.
Havia cores. Centenas de cores vivas. As plantas e estátuas ostentavam algum espantoso tipo de vivacidade, como se cintilassem à luz do sol.
E eu sentia tudo.
Havia uma forte vibração no ar, que se estendia ao longo de meu corpo como um manto ancestral. Era uma energia estranha... uma magia que se condensava sobre minha pele.
De alguma forma, era omo se todo o lugar fosse parte de minha mente. Como se a terra sobre meus pés, o ar sobre meu rosto, o fogo das pilastras e a água na fonte fossem extensões de minha própria existência.
Uma tranquilidade surpreendente me dominou. Meu coração saltou, como se algo em meu íntimo rejubilasse por finalmente estar em seu verdadeiro lar.
- Mamãe... - ofeguei – isso é...
Senti as mãos de minha mãe afagarem meus ombros trêmulos.
- Eu sei – sussurrou carinhosamente – é incrível. Indescritível – ela baixou o rosto, recostando a testa ao lado de minha cabeça – consegue sentir?
- Sim... - senti uma estúpida vontade de chorar – Eu posso... sentir tudo, mãe... - a encarei, abismada – é isso... que eu vou ser?
Ela assentiu, baixando uma íris prateada em minha direção.
- Você escolheu prosseguir com esse legado, querida – observou – então, mais do que nunca, terá que aprender o que significa ser parte dos elementos. Á partir de agora... precisará entender que você será essa força incorpórea. Você criará – baixou o tom – e você terá capacidade de destruir. Compreende a importância disso, Rosie?
Era realmente maior do que eu havia pensado. Percebia a importância de me dedicar áquilo. Aquele poder... era especial demais para ser usado levianamente.
- Compreendo... mãe – concordei, ainda esgazeada pela beleza do jardim – eu... estou disposta a aprender... - fitei-a – eu... nem sei o que dizer...
Mamãe me soltou, posicionando-se diante de mim, quase no centro do jardim secreto.
- Eu também tive medo no início – admitiu, me lançando um sorriso contido – olhe ao seu redor, querida... sinta isso... aceitando este poder... aceitará ser a personificação destes elementos. Estará sujeita a responsabilidade... e á honra... de carregar esta herança. É realmente um fardo muito pesado para uma jovem bruxa... então jamais lhe pediria que esteja pronta – ergueu-me a mão – apenas... suplico que faça o possível para, um dia... finalmente estar.
Hesitei por um segundo, suspirando fundo.
Por fim, tomei a mão dela na minha.
Arquejei, espantada com o calor resplandecente que o toque provocou em minha palma. Admirada, senti a suave brisa aumentar, fazendo os cabelos negros de mamãe esvoaçarem elegantemente, abrindo-se como um leque em meio ao ar.
Inspirei, estremecendo com a sensação extraordinária. Era como se eu experimentasse um sopro de vida pela primeira vez.
Tão rápido como havia me tocado, ela recuou a mão, encarando-me.
- Ah – um arquejo de surpresa passou por seus lábios – você é mesmo extraordinária, minha pequena...
Ergueu o braço para sudeste, na direção de um espelho de moldura dourada – e que eu tinha certeza de que não estava ali segundos atrás.
Aproximei-me do reflexo, automaticamente enrijecendo.
Assim como minha mãe, minha aparência havia mudado completamente. Meus olhos estavam dourados – não um dourado opaco, e sim um tom quase amarelo vivo, tal como as pedras de âmbar.
E meus cabelos... minhas longas mechas ruivas... haviam se tornado avermelhadas, como as labaredas de uma fogueira ardente.
Sacudi a cabeça, tocando meu rosto.
Senti que mamãe se aproximava, postando-se atrás de mim, abraçando-me carinhosamente. Defronte ao espelho, éramos como o quadro vivo de duas criaturas inumanas.
Porém, enquanto minha mãe ostentava uma aura quase sobrenatural, eu mal passava de uma pequena e amedrontada rebenta – o filhote indefeso de uma Wicca poderosa.
- Mãe... - ofeguei.
Ela acarinhou minhas mechas cor de sangue.
- Você é corajosa, minha menina – sussurrou com seu tom de soprano – fez por merecer seu lugar na Grifinória – riu-se, fazendo seu gracejo sacudir a folhagem das árvores próximas – e, quem diria... acho que mereceu receber este presente tão especial.
Recostei a cabeça nela, franzindo o cenho.
- Acho que posso conviver com esse poder – mordi o lábio – mas com esse cabelo...
Bastou para que nós duas gargalhássemos.
A reação do jardim ao som foi impressionante. Jurei ver alguns botões de flores se abrirem repentinamente por magia, todos virando-se disciplinadamente em nossa direção.
Guinchei, choramingando.
- É lindo – me senti engasgar com um soluço – mãe... - assenti comigo mesma, finalmente convicta – é exatamente isso que eu quero ser.
A mulher de cabelos negros voltou a se inclinar, plantando um beijo carinhoso em minha cabeça, relampejando o reflexo com uma intensidade tenebrosamente bela.
Nunca existiu sobre a Terra alguém com semelhante convicção na voz. Ou com igual determinação no olhar.
- E você será, minha pequena rosa – sussurrou = e você será.
Minha jornada estava prestes a começar.
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Gênese - A Saga da Rosa (Temporada I)
Fanfic"Da Terceira, Uma Quarta Sangue que obliviou as Trevas Nascida da intempérie Do Cavalo primeira primícia Em peleja terá enredamento Escravo, Semente e matriarca confrontará Chama segunda do Dragão na nova Esfera Com sangue selar...