Fugir a noite

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Todos escutaram o plano de Wren uma seis ou sete vezes. Mas nenhuma delas fez com que Noah achasse coerente. Fugir da cidade? Ir para Los Angeles? A cidade fica do outro lado do país!

O garoto dos cabelos castanhos continuou em silêncio. Ele estava prestes a perder os dois melhores amigos e não poderia reclamar. Noah se sentia egoísta por querer que eles ficassem até que ele decidisse qual das faculdades frequentará.
O menino teria até o fim do verão para isso. Achou que antes de ver cada pessoa que conhece se dividir pelos cantos da América, pudesse viver bons momentos junto a eles. Mas agora ele tomou consciência de que tudo não passava de uma simples esperança, e que em menos de uma semana seu grupo social acabará.

─ Você tem certeza disso? ─ Noah questionou sentado na poltrona branca. Seus cotovelos estavam forçados sobre as coxas, e o rosto despejado nas mãos.

─ Sim, eu tenho! Nós iremos após a formatura. Metade da cidade estará no evento, nem perceberam que desaparemos. ─ A menina do cabelo castanho dizia baixo, como se contasse um segredo, e todos correspondiam com as cabeças.

Alison foi a primeira à apoiar, queria ver a amiga viver seu conto de fadas bem longe da melancólica Rosewood. E óbvio que Aria e Ezra estariam seguros debaixo das asas de Wren.
Por um momento tudo estava dando certo, e os trilhos da vida pareciam finalmente terem se encaixado. Tudo exceto Noah, que agora estava tão vazio quanto o vento.

─ Irei garantir que tudo esteja pronto quando chegarem em LA, e pedirei a um dos advogados da empresa para ficar atento, caso os pais de alguns dos dois se intrometa no caminho. ─ Wren explicava tudo calmamente, fazendo com que cada palavra entrasse na cabeça dos jovens em sua volta. Aria sorriu de canto a canto, expressando uma alegria não vista a muito tempo. Ela passou a mão na própria barriga e deixou uma pequena lágrima espancar, mas limpou antes que alguém visse.

{...}

Após abrirem os presentes eles se sentaram ao chão da sala e conversaram até o sol da tarde ser trocado pela escuridão da noite. Logo as pessoas começariam a chegar e o ambiente familiar se transformaria naquele caos que Noah nunca se acostumará. Seus fios emaranhados, boca ressecada, e as olheiras quase roxas abaixo dos olhos, o deixava realmente amedrontador. Ele queria apenas descansar, esquecer a noite que passou em claro tentando superar o efeito do álcool e de seus apenas trinta e cinco minutos de sono que foram incapazes de curar sua ressaca. Noah precisava da maresia, dos buracos na areia da praia e do som que as onda faziam ao se quebrarem, do sal que grudava sua pele como se pertencesse a ele, e de todo aquele restante da chuva que o fazia falta.

─ Acho que eles chegaram. ─ Alison falou esboçando o tédio em seu rosto. Era metade do pessoal com bebidas e coisas que certamente ela ─ nem ninguém ─ não consideraria saudável.
Nesse momento Noah puxou o capuz do moletom preto e tampou sua cabeça se levantando. Ele percebia Norman entre as pessoas. Se divertindo, bebendo, com duas meninas debaixo dos braços. E a frente de Norman o Aspen. Atualmente seu maior pesadelo era dar de cara com o irmão gêmeo. Ou que alguma de suas oferecidas os confundissem. Noah e Norman eram idênticos um ao outro, tirando o estilo de vida que os dois levavam. O menino esperava passar longe de todo o drama adolescente que transbordava do irmão, e se possível o evitar também.

Então ele passou correndo ao lado de Aria e Spencer ─ que pareciam discutir ─ e fugiu para a única casa que era bem-vindo.

Por vez, ele foi percebendo o carro dos pais de Ezra estacionado de frente à casa, mas não preocupou-se, pois Joshua e Holly sempre gostaram dele.

Noah estava entrando, gritando o nome de Josh quando viu Connor sentado no chão e Holly com as pernas em sua volta. Ele começava a ficar em pé pela primeira vez e sorria como se essa fosse a coisa mais importante da vida, e talvez fosse.

─ Ezra não está aqui, Noah. ─ Ela atestava entre um sorriso, sem desviar a atenção de seu único filho de sangue.

─ Eu sei, vim atrás do Wes, já que Emma deve estar na festa.

─ Só se for a festa do quarto dela.

─ Ah... ─ O garoto deixou escapulir seguido de um suspiro, não conseguia disfarçar

─ Mas pode ir lá, ela sempre dorme depois que eles acabam e seja lá quem for, fugirá em segundos.

Noah concordou com a cabeça enquanto ia até Connor que o olhava com seus pequeninos olhos azuis brilhantes. Ele levantou o garoto, pôs a mão em suas costas, e foi o balançando delicadamente para cima e baixo. Noah beijou por longos segundos a bochecha do menininho antes de se despedir, e em seguida o devolveu para a mãe no chão.

Ao passar pelo garoto dos cabelos loiros e físico forte, ele tirou o capuz e olhou para baixo. Noah não era nada comparado a ele. Seus músculos não eram definidos como os dele, muito menos quando vestia uma regata seu peitoral transparecia como o do garoto. Ele não chegava aos seus pés. Ele não teria chances.

Parado de frente para a porta ele deu tempo suficiente para que ela se vestisse e as vozes em sua mente ─ dizendo que ela não o queria ali ─ se calassem. Então sem perguntar ele entrou no quarto escuro, seguindo o caminho indicado pela luz que passava entre as persianas na janela, como um inseto atraído pelo brilho.
Noah caminhou até a cama aonde Emma estava deitada e foi tirando o tênis um pouco mais, a cada passo, até chegar à cama e deitar ao lado da garota.

─ Estava certo. ─ Emma falou pegando o braço do garoto e o passando em sua volta. Entrelaçou sua mão a de Noah, sentindo o frio de sua pele lutar contra o calor da dele
─ Eles fogem a noite, enquanto você me abraçaria para dormir.

Sleep on the floor • [E.A] (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora