Dois

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Caroline




Eu poderia simplesmente deixar essa mesa e ir para o meu apartamento, mas a educação que recebi e o respeito que tenho por meus avós não me permite mandar tudo isso para o inferno.

"Então você é modelo." O tal convidado de meu avô toca em minha mão por cima da mesa e trato logo de puxá-la. "É uma profissão bastante liberal não é mesmo?"

Sei muito bem ao que ele se refere. Modelos que se prostituem por dinheiro e bons contratos. Acompanhantes e prostitutas de luxos. Por causa disso, babacas como ele acham que todas somos iguais.

"Você parece conhecer bem esse mundo." Dou-lhe meu melhor sorriso e sussurro só para que ele ouça. "Deve ser frustrante só conseguir mulheres através de dinheiro."

Ele fecha a cara e volta a atenção para seu prato. Alguém deveria lhe dizer para fazer uma dieta; uma barriga daquele tamanho deve ser cheia de pelos e tão oleosa quanto seu cabelo lambido para trás. Não sei como uma mulher tem estômago para se deitar com esse energúmeno.

Só de olhá-lo eu sinto vontade de vomitar.

Uma hora depois e finalmente todos foram embora, restando somente meus avós e eu.

"Que homem mais nojento." Vovô revira os olhos. "Espero que não esteja querendo me casar com ele. Prefiro a morte."

"Anda lendo muitos romances." Vovô Finn beija minha testa. "Vou me deitar. Estou cansado."

Ele olha para a esposa que não retribui o gesto, balança a cabeça e sai da sala. Quando não escutamos mais seus passos, vou até vovó Sofia e a abraço.

Seu cheiro de flores do campo é como um calmante natural e sempre me sinto em casa quando estamos assim. Ela sim é meu referencial de figura materna desde que a minha mãe se casou novamente e formou uma nova família.

"Vocês ainda não se acertaram não é?" Sentamos no sofá e seguro as mãos pequenas e macias.

Vovó me dá um sorriso triste e seus ombros caem.

"Quando alguém faz mal a um filho seu é o mesmo que fazer a você. Eu não consigo perdoar o que Finn fez ao meu filho." Os olhos castanhos claros brilham de dor. "Minha neta cresceu em um orfanato, a mãe presa em um manicômio. Finn não é mais o homem bom por quem me apaixonei. Eu já não o reconheço e não confio nele." Ela enxuga uma lágrima que rola por seu rosto. "Não estamos mais dormindo no mesmo quarto."

Isso sim me pega de surpresa. Não pensei que a relação deles estivesse assim tão insustentável.

"Eu sinto muito vovó." É a única coisa que consigo dizer. Nunca fui boa em consolar ou dar bons conselhos a ninguém. Tyler e Meredith, meus melhores amigos, sim são bons com esse tipo de coisa.

Hoje mesmo vou ligar para aquela bicha enrustida do meu primo e intimá-lo a convidar nossa avó para um almoço. Quem sabe assim ela não se anima mais!?

(...)

Estou exausta. Meus pés doem horrivelmente, mas mesmo assim coloco meu melhor sorriso no rosto antes de entrar na passarela. Desfilar é a minha grande paixão e os flashes das câmeras não me incomodam, nem mesmo os olhares de cobiça sobre meu corpo por causa do maiô vermelho que uso.

Sorrisos pra lá, sorrisos pra cá, então, encontro os olhos verdes do insuportável do Mikaelson. Ele está sentado na primeira fileira da direita, bate palmas e me dá um sorriso, ao qual ignoro.

Quem ele pensa que é para aparecer aqui depois de ter me assediado, me ignorado no dia seguinte e ainda sumir do mapa por mais de três semanas?

Estúpido. Se acha que vou ser mais uma a passar por sua cama está redondamente enganado. Já basta ter sido um insignificante passatempo de apenas uma noite na vida de Kai.

Série Corações Feridos: Você nunca estará só (Vol. 2)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora