Dez

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Boa noite. Amanhã eu respondo os comentários do capítulo passado. Obrigada pelo carinho com a história. ❤

Tenham uma boa leitura e uma semana abençoada.

😚😚









Klaus


Depois de sessenta dias, pela primeira vez, sou liberado para visitar minha irmã. Estou ansioso e feliz, mas antes, o doutor Marcel, responsável pelo caso de Rebekah, conversou comigo e me disse que ela está respondendo bem ao tratamento, inclusive tem ajudado bastante a cuidar da horta e do jardim da instituição.

Ele também me explicou sobre a necessidade da minha participação nas reuniões familiares, para que eu aprenda a como ajudar Rebekah em todo esse processo, principalmente, quando ela sair daqui.

"As reuniões familiares servem para que paciente e família reconstruam seus laços afetivos, mas também sejam sinceros, exponham seus problemas familiares e externos, buscando soluções para que venham a ter uma boa convivência, de modo que deixem o passado ruim para trás e foquem em um futuro produtivo."

"Rebekah contou sobre nossa infância?" O médico afirma com um aceno de cabeça. "Nunca mais tocamos no assunto. Ela sempre fugia."

"Na décima terapia em grupo, Rebekah criou coragem e colocou tudo para fora. Foi ouvida e no final recebeu apoio de todos." Doutor Marcel levanta de sua cadeira e faço o mesmo. "Acho melhor irmos, deve estar ansioso para revê-la."

"Muito." Saímos de seu escritório e ao chegarmos na área externa, o cheiro das flores e o vento morno da manhã me trás uma sensação agradável. Tinha vindo aqui no dia da internação de Rebekah, mas estava com a cabeça tão cheia, que não prestei atenção em nada ao meu redor. Tudo o que sei da clínica é através da investigação que Beau fez sobre a seriedade do trabalho dos funcionários daqui.

Tem um grupo de pessoas correndo em uma estradinha em volta do jardim. Na frente deles tem um homem alto e magro, que imagino ser algum professor de educação física.

Andamos mais um pouco e mesmo de longe, a vejo sentada debaixo de uma árvore. Está de cabeça baixa e rabiscando algo em uma folha. Como se sentisse observada, Rebekah levanta o rosto e abre um lindo sorriso ao me ver.

Ela larga tudo no chão e corre ao meu encontro. Seu pequeno corpo se choca contra o meu e a abraço com toda a saudade e amor que sinto. É como ela fosse o bebê que eu era acostumado a segurar quando as babás deixavam e Esther não estava por perto.

"Ah, Klaus como eu sinto sua falta e do Gabriel." Ela levanta a cabeça e passo a mão em seu rosto molhado pelas lágrimas.

"Também sentimos a sua." Beijo sua testa e ela volta a esconder o rosto em meu peito. "Como está se sentindo?"

"Limpa." Ela murmura depois de alguns minutos em silêncio e desfaz o abraço, segura minha mão e me puxa até o lugar em que estava antes. Sentamos um de frente para o outro. "Aqui é legal, calmo. Mas os primeiros dias foram horríveis. Tinham momentos em que eu só queria pular esses muros altos e fugir. Procurar matar quem estava me matando." Ela funga e passa as mãos no rosto. "Mesmo com as medicações e as terapias, eu achava que não suportaria ficar sem aquelas porcarias."

Seguro suas mãos trêmulas e a ofereço meu melhor sorriso. Tudo o que ela menos precisa é perceber meu medo e insegurança. Medo do que o futuro nos reserva. Insegurança sobre a sua força de vontade para deixar tudo de ruim para trás. Mas ela me tem e eu nunca vou deixá-la lutar essa guerra sozinha. Estarei sempre ao seu lado para ajudá-la a levantar, a resistir.

"Mas tem gente pior do que eu aqui." Rebekah volta a falar. "Cada história terrível. Tem quem entrou nesse mundo por curiosidade, achando que conseguiria sair quando quisesse, outros como eu, que por burrice procuram naquelas porcarias um refúgio."

"Vai sair dessa. Só basta ter força de vontade." Acaricio seu rosto, que já está mais corado e redondo. "Precisa ficar boa para voltar para casa."

"Como está meu sobrinho?" Ela escuta atentamente enquanto conto as aventuras de Gabriel na escola, as descobertas e amizades que ele vem fazendo, a forma como vem se soltando e se sentindo mais seguro a cada dia que passa. E grande parte desse bom desenvolvimento tenho a agradecer a um pequeno furacãozinho loiro e falante. "Quero muito conhecer essa Melissa que está fazendo tão bem ao meu loirinho."

"Depois de cinco minutos na presença dela você jamais vai ter desejado isso." Nunca vi uma criança falar tanto como aquela, acho que talvez ela tenha tomado água de chocalho.

"E como vai o lance com a sua futura noiva e mãe de seus cinco filhos?"

Abro um grande sorriso só em lembrar de Caroline, da luz que a rodeia, da paz e intranquilidade que sinto quando estou ao seu lado, da forma como meu coração e corpo reagem ao simples som de sua risada ou ao seu perfume. A cada dia, eu descubro novas qualidades e defeitos daquela loira cheia de si, mas mesmo assim, eu só passo a amá-la cada vez mais.

"Estamos indo bem. Semana passada tivemos nosso primeiro jantar e ontem fomos ao teatro." Rebekah arqueia as sobrancelhas loiras. "O que foi?"

"Você ama mesmo essa mulher, foi até ao teatro com ela." Reviro os olhos e ela bate em meu ombro e pisca os olhos. "E aí, já transaram?"

"Não." Dou de ombros e ela me olha desacreditada. "Por mim já teria acontecido, mas vai ter que partir de Caroline. Ela tem uma visão distorcida dos homens que se aproximam dela."

"Você é o único homem em quem eu confio de olhos fechados." Rebekah deita a cabeça em minha perna e seus olhos azuis me miram com carinho. "Só peço que nunca deixe essa mulher machucar seu coração, irmão, que não mendigue amor, que não se humilhe para tê-la. Não quero nunca vê-lo chorar por mulher alguma. Já basta todas as lágrimas que derramou por minha culpa."

"Eu te amo, baixinha." Aperto seu pequeno nariz arrebitado e ela bate em minha mão.

Eu tinha sentido tanta falta desses nossos momentos de leveza, das nossas conversas, dessa Rebekah de olhos mais cheios de vida, livre daquelas drogas que acabavam com nossas vidas e paz de espírito.

Nós estamos apenas no início da guerra, mas já estamos vencendo lentamente as batalhas. É um processo que vai durar a vida inteira, mas tenho esperança que tudo dará certo, que Rebekah será muito mais forte que o desejo por consumir aquelas porcarias.

 É um processo que vai durar a vida inteira, mas tenho esperança que tudo dará certo, que Rebekah será muito mais forte que o desejo por consumir aquelas porcarias

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