Dezoito

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Rebekah

Depois de mais de sete meses, finalmente, poderei voltar para casa. Continuarei visitando a instituição para receber apoio psicológico e participarei de grupos de apoio aos Narcóticos Anônimos (N. A.). Não é uma luta fácil e será ainda mais difícil, agora, que terei uma maior facilidade para ir atrás das drogas.

Mas eu não vou. Sou muito mais forte que aquele maldito vício. Não quero mais fazer meu irmão sofrer, não quero mais envergonhá-lo. Desejo do fundo do meu coração que Klaus um dia olhe para mim e sinta orgulho de quem eu sou.

E serei forte principalmente por mim mesma.

Nesses meses aqui, pude refletir bem sobre a vida que estava levando e cheguei a conclusão, que preciso me amar e não me deixar levar pelo o que as pessoas dizem ou pensam sobre mim.

Durante minha vida toda, pensei que eu era a culpada por quase ter sido abusada quando criança, Esther foi quem mais contribuiu para esses meus pensamentos. Por isso, quando cresci, iniciei uma vida de promiscuidade, buscando tirar o nojo que sentia dos toques daquele homem, mas bastava o ato acabar para que eu sentisse mais asco ainda.

Foi assim que comecei a cair na perdição das droga. Começou com alguns cigarros de machonha até chegar na heroína. Pensei que poderia sair quando quisesse, meu maior engano.

Quando se prova uma vez é impossível parar. Seu corpo e sua mente entram em um estado de letargia, que faz toda dor desaparecer e tudo ficar bem. Mas é tão passageiro, que você sempre vai atrás de mais e tudo se torna ainda mais fácil quando se tem dinheiro para isso.

Meus primeiros dias aqui foram terríveis. Pensei que morreria pela falta da droga. Tinha constantes crises de ansiedade e não conseguia dormir, comer ou me alimentar direito. Não foi nada fácil e muitas vezes pensei em jogar tudo para o ar e acabar de uma vez por todas com esse sofrimento, mas sempre que isso acontecia, lembrava-me dos rostos de meu irmão e meu sobrinho.

Klaus mais que ninguém sofreria se algo assim acontecesse, se culparia pelo resto da vida.

E ouvindo as inúmeras histórias dos outros internos, sei que posso vencer essa maldição. Basta eu ter força de vontade e dizer sempre não quando eu quiser fraquejar.

"Pronta para ir para casa?" Doutor Marcel pega minha mala e caminhamos pelo longo corredor cheio de quartos da ala feminina.

"Estou nervosa. Acha mesmo que estou pronta, doutor?" Pergunto aflita e o doutor abre um daqueles sorrisos confiantes.

"Está sim, Rebekah. Você é mais forte do que imagina." Ele para e segura meu ombro. "Lembre-se do que conversamos, use seu tempo livre e sua energia para fazer algo produtivo. E pode me ligar a hora que precisar de alguém para conversar."

"Obrigada, doutor Marcel." Agradeço por tudo o que tem feito, por sempre me ouvir e não me julgar, por todas as palavras de incentivo, mas também as broncas, que me dá quando preciso.

O vento morno da manhã com seu cheiro de grama molhada, tem um efeito calmante sobre meus nervos. Aprendi a gostar da natureza e acho que comprarei uma chacara ou qualquer coisa parecida, que me permita ter árvores e plantas para cuidar.

Meu irmão está parado ao lado de seu carro e abre os braços ao me ver. Corro ao seu encontro e me jogo em seus braços quentes, que me envolvem com todo o amor e carinho de um pai cuidadoso. Porque é isso que Klaus é. Muito mais que irmão, ele assumiu o papel de pai, que nunca tivemos.

"Gabriel está ansioso para ver a tia. Acordou antes das seis." Seus olhos são risonhos e tem uma calma e alegria, que antes não tinham.

"Nem dormi direito a noite de tão ansiosa. Estou com muitas saudades dele." Klaus beija minha testa e olha para o doutor Marcel.

Série Corações Feridos: Você nunca estará só (Vol. 2)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora