CAPITULO IV
*
Quase uma hora da madrugada, Jet despede-se e ganha a rua á pé, Vera insistiu para que seu amigo ficasse até o raiar do dia, mas sem sucesso. O breu da noite cobre todos os arbustos às margens das ruas por onde anda, era sempre o mesmo caminho, porém aquela madrugada o estava causando calafrios. Ao sair de uma rua mal iluminada um rapaz caminha a poucos metros a frente de Jet, suas roupas eram simples, com um leve casaco marrom aparentemente confortável que demonstrava que o homem saíra ás pressas de casa, sua gola estava levantada e sua calça jeans aparentemente nova em nada combinava com o sapato social, "ele deve ter perdido a hora e calçado o que encontrou e com certeza está com pressa," deduz Jet, pelos passos longos do caminhante à frente. Jet procura não interceptá-lo, os dois inevitavelmente entram em uma via longa e escura que dava acesso a outro bairro, do lado esquerdo uma plantação de milho cobria todo o terreno e do lado direito uma reserva de mata fechada causava ainda mais pavor em Jet, apenas as faixas no asfalto refletiam levemente a luz da lua, mesmo ambos apertando os passos a via era muito longa e já consumia alguns minutos. No horizonte enegrecido a silhueta de algumas pessoas se confundia com o capim que movimentava-se com o vento fresco. Porém tratava-se de três homens com bicicletas que pareciam aguardar alguém. Os homens estavam próximos a um poste com iluminação e logo viram o rapaz à frente de Jet, um deles perguntou a seu companheiro:
"É ele?"
"Deve ser" respondeu.
"Então vamos nessa!"
O rapaz estacou-se apavorado a quase cem metros dos homens e ainda no escuro, Jet que estava a alguns passos atrás também parou olhando a sua volta procurando uma rota de fuga se caso fosse necessário.
A voz que parecia comandar gritou auto e em bom som:
"Eu avisei, agora é tarde não adianta correr."
Quando os homens subiram nas bicicletas e desceram a rua em direção aos dois, o rapaz voltou correndo e passou desesperado por Jet que sem pensar saltou e embrenhou-se no mato o suficiente para não ser visto, mal deu tempo de esconder-se e o rapaz foi alcançado, sem perguntas seguram-no e um deles deferiu-lhe dois golpes de faca no abdômen, o grito de morte da vítima ressoou agonizante e em seguida implorou aos assassinos:
"Misericórdia, por tudo o que há de mais sagrado tenham misericórdia, sou um trabalhador."
O pobre homem estava de joelhos no asfalto segurando os cortes na barriga quando os dedos da mão esquerda de um dos assassinos seguraram os cabelos da vítima com violência, puxando a cabeça para trás e simplesmente o degolou sem piedade. A fúria era tanta que mesmo com corpo no chão e já sem vida os assassinos o chutavam impiedosamente. Jet tremia como jamais tremeu na vida, foi tudo tão rápido e o medo tão grande que Jet suava abundantemente mesmo não estando calor, enquanto perguntava a si mesmo em silêncio absoluto:
"Será que eles me viram e vão me procurar?"
O choro horrorizado com a barbárie teve de ser contido, a cena horripilante o fez perder as forças e sentar-se onde estava, os assassinos partiram rapidamente sem deixar pistas. No escuro quase absoluto Jet esforça-se, levanta e caminha até o corpo na esperança de encontrá-lo ainda vivo, ao se aproximar levou a mão direita no pescoço do homem na intenção de verificar os batimentos cardíacos da vítima, mas tudo o que conseguiu foi sentir o sangue ainda quente esvair-se do corte profundo.
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VOCÊ PRA MIM
RomanceAs emoções se misturam num compendio onde tudo faz sentido, o mistério prende o leitor de forma enigmática por traduzir em palavras um amor cindido e complexo, que só quem viveu é capaz de compreender.