A CAIXA E A PROMESSA

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CAPITULO V

*

Japorã tornou-se repentinamente pequena demais. Após os últimos incidentes ficou claro, era preciso respirar novos ares, tentar a vida em outra cidade já não lhe parecia tão absurdo. Elizeu já havia partido há algum tempo, mas deixou seu contato em Ferrara.

A bicicleta, velha companheira foi vendida por uma ninharia, os poucos pertences reunidos podiam ser carregados em uma só viagem por um homem a pé, uma mochila tipo escolar mesclada de amarelo e preto, levava quatro ou cinco jeans desbotados e uma mais nova para dias de festas ou momentos importantes, algumas camisetas e duas camisas sociais.

Embrulhados em uma sacola de mercado um par de sapatos, bastante maltratados pelo uso frequente, nas laterais da mochila nos pequenos bolsos foram colocados os poucos pares de meias, roupas íntimas e a escova de dentes com um creme dental.

Em uma das mãos uma sacola grande de papel, propaganda de uma loja qualquer, vez ou outra tocava o chão, dentro dela um cobertor, presente de sua mãe que parecia adivinhar as noites que viriam.

Ao despedir-se, as emoções eram contidas na aparente sensação de tranquilidade, no abraço sem dizer adeus, Jet jurou baixinho em seu ouvido e Gis prestou bastante atenção.

"Serei a partir de hoje a persistência em pessoa, nada e nem ninguém abaixo de Deus vai determinar o fim, não importa quantos anos demore nem o sacrifício necessário, eu voltarei e serei parte de sua existência até o fim de nossos dias.

Gisele fingiu não entender a promessa e preferiu ficar em silêncio a levantar novamente o mesmo assunto, já encerrado por ela. Jet percebeu que sua jornada seria mais dolorosa do que o imaginado, a começar por ter de deixá-la para trás, sentiu naquele momento que a distância e a saudade ainda lhe causariam muita dor.

Como diz o ditado, que "a esperança é a última que morre", Jet esperava que Gis tentasse impedir sua partida, sem sucesso ouviu apenas:

"Vá com Deus e volte logo querido amigo!"

Após as despedidas Gisele, Ciliane e Vera observam Jet que aos poucos desaparece no horizonte.

"Sinto pena, espero que ele volte conformado," disse Ciliane olhando para Vera, que permaneceu em silêncio.

Gisele submerge em pensamentos, relembrando as palavras de Jet, não disse nada, mas compreendeu perfeitamente a promessa, esforçava-se buscando acreditar que fora apenas o calor do momento e a emoção da despedida que o levou a tais palavras. Mas algo lhe fazia sentir que a persistência de Jet seria realmente duradoura.

O pai desejava sorte e como sempre, o aconselhava dizendo que sem dúvidas nada seria fácil, mas a persistência lhe renderia frutos, enquanto a mãe desmanchava-se em lágrimas pedindo a Deus proteção ao filho onde quer que ele fosse.

O ônibus estacionou na plataforma, meia hora antes da partida e Jet embarcou assim que pode. Sentado há alguns minutos Jet olha para fora e alguém acena para ele:

"Será verdade, é ela! E agora?"

O coração quase sai pela boca, as pernas estavam bambas e Jet tremia descontrolado, ao desembarcar do ônibus Jet olha para Gis e a vida parece renascer dentro de si, ainda na plataforma ele procura não fantasiar sobre o motivo de sua amada estar ali, mas é impossível controlar a esperança, fagulhas pareciam percorrer por todo seu corpo.

Gis aproxima-se e diz:

"Quase não dá tempo, mais alguns minutos e..."

Jet abraça Gisele e fica em silêncio por alguns segundo, sentindo o calor de seu corpo dominar por completo sua alma, em pensamentos agradece a Deus pelo milagre. Gisele percebe o quanto ele está emocionado e compreende os pensamentos de Jet.

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