PERFUME NO TRAVESSEIRO

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CAPITULO II


*


Gisele não demonstrava interesse além da amizade, já bastante sólida para o pouco tempo que se passou, e não surgiam sinais de que nasceria ali um relacionamento cindido entre os dois. Hernandes sumiu e após quase cinco semanas sem aparecer, Jet julgou que tudo seria mais fácil sem ele por perto, era só tomar coragem e contar a ela como se sentia e o quanto a amava. Nada poderia dar errado, afinal de amigos para namorados faltava pouco.

22 de janeiro, o dia veio ensolarado e quente, o céu estava azul e Nelson, pai de Jet, preparava o café, o aroma adocicado tomava conta da casa simples de madeira, sempre ao fim do preparo Nelson dirigia-se até a cama dos filhos, acordava-os e dizia brincando:

"Filho....filho , estou aqui e não vou deixar ninguém te acordar.

A brincadeira a principio parecia de muito mau gosto e irritava profundamente quem era acordado, mas com o tempo Jet percebeu que na verdade era um amor puro e incondicional que movia seus pais. Ao levantar-se e contemplar o dia lá fora o humor de Jet melhorou e até mesmo a preguiça típica de todas as manhãs parecia não ser tão inconveniente.

Sobre a mesa, além dos pães preparados por sua mãe no dia anterior, havia doce caseiro de abóbora, e manteiga que complementariam o café fresco. Jet sentou- se ouvindo seu pai falar sobre os planos para o dia de trabalho, e enquanto cortava o pão de sua amada mãe respondia o pai quase que automaticamente, estava aéreo, nem bem acordava e Gis já fazia parte de seus pensamentos deixando tudo a sua volta em segundo plano.

O dia seria duro e Jet sabia, há seis meses trabalhava para o pai de auxiliar de pedreiro, no fim do dia tudo estava doendo e Jet parecia ter carregado um elefante nas costas, seu pai fazia pequenas pausas para fumar, o que não era privilégio nenhum. Como a caixa de massa estava quase sempre vazia e o andaime quase sem tijolos, era obrigação de Jet manter tudo abastecido para o pai que trabalhava contando histórias e dando conselhos.

Jet analisou o pai o dia inteiro e no final do expediente decidiu contar ao nobre ancião sobre Gisele, seu amor repentino, a fim de ser aconselhado com a voz da experiência.

"Pai preciso lhe contar algo, estou um pouco perdido e seus conselhos podem ajudar-me, disse Jet apreensivo.

"Fale, disse o pai secamente, ficando em silêncio.

O receio de Jet aparentemente se confirmara, pela forma com que o pai lidava com as preocupações do filho provavelmente não compreenderia os sentimentos que ora lhe roubavam a paz. Vendo o pai taciturno quase tristonho decidiu abrir-se:

"Bem há algum tempo..."

Jet contou tudo ao pai e disse o quanto gostaria de abrir-se para ela, falou também sobre Hernandes e seus medos. Assim seu pai o aconselhou dizendo:

"Primeiro meu filho você tem que saber como é a família da moça e independente de como eles sejam, respeite-os e principalmente ela, eu como pai sei o quanto dói ver um filho sofrendo... Segundo, se você gosta dela e acha que vale a pena então corra o risco ou fique na dúvida. Uma coisa é certa: você nunca vai compreender as mulheres, independente da idade, cada uma é uma caixinha de surpresas, às vezes boa, às vezes ruim você decide se vai se arriscar. Terceiro, seu amigo não é um bom homem e você sabe disso, então aproveite todas as oportunidades para deixar isto claro para ela, mas não conte declaradamente, pois a mente acredita mais naquilo que os olhos vêem e menos no que os ouvido ouvem."

A conversa com o pai o encorajou, ao chegarem em casa às seis horas da tarde Jet tomou um longo banho e em seguida ligou para Gis decidido a lhe declarar tudo. Uma voz melancólica atendeu ao telefone, quando Jet identificou-se, Gis sem qualquer formalidade disse:

VOCÊ PRA MIMOnde histórias criam vida. Descubra agora