A Primeira Carta

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Oi, meu amor...

Faz tanto tempo que eu não te vejo, que não falo com você. Faz tanto tempo que não te provoco riso, faz tanto tempo desde tudo e nada.

Como você está?

Eu sei que eu que disse "adeus" quando você disse que ainda nos encontrariamos por aí, sei que parte de tudo isso ter um fim absoluto é culpa minha, mas quero que saiba que, durante todos esses dias, eu nunca me esqueci de você e de seja lá o que foi aquilo que tivemos.

E eu ainda me preocupo com você. Muito.

E eu acho que eu me preocupo porque sei muito mais do que eles sobre você.

Sei das suas crises, dos seus momentos, dos seus problemas, das suas piadas incompreensíveis, do seu jeito arrogante que definitivamente não é de fato o seu jeito e sim um escudo que você vestiu para que ninguém mais o machucasse. Sei do seu problema com álcool e sei que as madrugadas são frias e você chama por alguém que te ouça, que te segure, que cuide de você.

Eu fui esse alguém.

E eu me preocupo... quem é que você chama agora? Quem é que te salva?

Será que você está mesmo bem?

Eu estive longe por tantos dias... dias que, unidos, formaram semanas, que logo viraram meses.
E ao todo, são cinco meses e nove dias desde a última vez que nos falamos.

Não sei você, mas esses dias tem sido difíceis para mim.
Eu venho bebido mais que o normal e dormido menos que o de costume. Venho frequentado festas que jamais imaginei e beijado bocas que jamais serão a sua, acho que isso que vem me destruindo lentamente.

Procuro em tanta gente um espelho teu... já dancei para outros olhos contemplarem, permiti que outras mãos me tocassem, que outras bocas conhecessem a minha.
Procuro em tanta gente um espelho teu e não vejo nada, não sinto nada.

Eu não sei como as coisas estão por aí, tão longe de mim e de todo o amor que eu te dei e o que eu guardei para dar mais tarde.
Não sei se você sente muito por tudo ou se sente saudade.

Não sei...

Talvez você tenha se esquecido de mim, de nós, do vento frio, da minha cama; que se tornou sua também, dos meus amigos que, assim como a cama, também se tornaram seus ou da cadeira no meio daquele quarto empoeirado e mal-frequentado.
É... eu sei, você esqueceu.

A falta de visão que nos levou a tomar decisões erradas, precipitadas... estávamos destruídos e achamos que preencheriamos nossos buracos com os destroços um do outro.

Profecias erradas.

E eu costumo me destroçar em madrugadas frias como essa, quando escuto músicas que você ouvia e penso em quem você é e como você era no início de tudo aquilo.
Era um vício difícil de deixar.

Mas essas canções já foram ouvidas tantas e tantas vezes que já perderam seu sentido, sua essência.
Essas letras, melodias, essas canções de amor já não me dizem mais nada.

Poderiam dizer teu nome.

Gostaria de saber o que você sente quando se lembra de mim.
Gostaria de saber se sente um terço de tudo aquilo que eu costumo sentir.

Acho que não, afinal, o fim de tudo foi porque você não sentia na mesma intensidade que eu.
Pra ser sincera, comigo e contigo, nem sequer deve ter sentido algum dia.

E em meio a esse turbilhão de pensamentos que surgem quando lembro do teu nome, eu apenas quero seguir em frente.
Voltar não é o que quero, duvido que você queira também, mas todo o amor que eu não pude dar ainda está guardado no meu coração e eu vou carregá-lo pro resto da vida, junto de todas as memórias, momentos, piadas, sorrisos, danças, beijos, enfim. Junto de tudo aquilo que remete a nós dois.

O destino não nos quis juntos pra sempre como eu gostaria que fosse, mas você sabe que a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi conhecer você.

Vejo que esse texto não teve função alguma e que falei, falei, falei um pouco mais, e não disse nada que você já não soubesse.

De qualquer forma, achei que te devia uma conversa após esse sumiço, mesmo que, aqui dentro, eu saiba que você sequer sentiu a minha falta.

Sobre meu "adeus", desconsidere.
Ainda espero te encontrar em uma dessas voltas que a gente dá.

O mundo é pequeno, a vida é longa, a gente se vê por aí.
Até lá, um beijo.

Daquela que, por tanto tempo, a todo tempo, te amou.
Izabella A.

Uma Saudade SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora