Prazer, anjo

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    -Com licença, com licença. Talita, porra!
    Bruna me puxou pela mão, me tirando daquele tumulto. Ri, mas recebi um olhar me repreendendo.
    -Está maluca? Estava quase dentro da boca daquele cara!
    -Ele é gato, não viu? Tô começando a achar que você não gosta da fruta e tá com ciúmes de mim.
    -Puta que pariu, sua idiota. Eu namoro um homem, lembra?
    -Deve ser fachada.
    -Me lembra rapidinho porque eu sou sua amiga?
    -Porque eu sou incrível. Agora vou voltar para aquele pedaço de mau caminho.
    -Você não vai.
    -Está achando que é quem pra mandar em mim?
    -Sua melhor amiga. Aquele cara estava quase passando a mão onde não devia.
    -Sou solteira, amor! Se eu deixar, o cara passa a mão em lugares piores.
    -Você está tão bêbada.
    -Mas consciente. E sei que você está atrapalhando minha noite.
    -Amor, eu sei que você tem seus problemas pessoais, mas vamos embora. Já não estou me sentindo bem aqui. E segunda feira nossa rotina volta, lembra?
    -Eu tenho que aproveitar agora! Eu odeio minha vida. Odeio tomar conta de criança birrenta e chata. Odeio não ser a atriz que eu queria. Odeio, entendeu? Então você está me atrapalhando, Bruna Maia.
    -Você quer saber, Talita? Problema seu mesmo. Estou indo embora e vou dormir na casa do meu namorado hoje. Quando acordar passando mal amanhã, porque até hoje você não aguenta, eu não vou estar lá pra bancar a idiota pra você. E nem precisa me ligar que eu não quero saber de você amanhã.
    -Nem eu, Bruna! Não aguento mais seu jeito certinho. Me deixa viver, porra. Eu beijo quem eu quiser, eu dou pra quem eu quiser. Não preciso de você, vou estar com aquele cara amanhã.
    -Se você acha que isso é viver, aproveita. Vê se não engravida.
    Ela saiu, me deixando ali sozinha. Fingi não me abalar e voltei para a balada. Por sorte, encontrei com aquele mesmo cara no caminho.
    -Sumiu, linda. Tudo bem com sua amiga?
    -Ela é muito babaca às vezes. Está tudo bem.
    -Quer voltar de onde paramos?
    -Quero.
    Me entreguei de novo, deixando nossas línguas em uma dança boa. Aos poucos, ele foi me conduzindo para uma parte mais afastada da boate. O cara, o qual nem sei o nome, me apertou em uma parede e levou sua mão até meu seio direito, o apertando. O empurrei de leve.
    -Desculpa. Eu não transo com qualquer um.
    -Você vai ver que não sou qualquer um, linda.
    -Eu odeio que me chamem assim.
    -Tudo bem. Qual seu nome?
    Ele voltou a se aproximar, seu membro já se mais animado. Me senti enjoada.
    -Saí daqui, cara! Eu não quero.
    -Shiiiu. Não precisa falar.
    Quando ele se aproximou, tentei morder seu braço. Por fim, deu errado e causei raiva nele.
    -Ah, é assim?
    Ele me pegou nos braços, me sacudindo.  O imbecil me apertou tanto que meus olhos encheram. Senti vontade de não ter tratado Bruna mal.
    -Por favor, para.
    -Não chora, nem faz escândalo.
    -Para. Me solta. Por favor.
    A dor só piorava. Apertava os olhos para não ter que encarar ele. Aos poucos, ele foi me erguendo. O cara se aproximava de mim, aumentando meu nojo e desespero cada vez mais. Meus pés já saiam do chão, por ele estar me erguendo. Do nada, o homem me soltou e caí sentada. Quando tive coragem, abri os olhos e o vi sendo arrastado por dois seguranças. Um outro homem, também desconhecido, abaixou na minha frente.
    -Você está acompanhada?
    Só neguei com a cabeça, sem encara-lo. Baixo, disse:
    -Obrigada.
    -Não ia ver a cena e deixar passar. Ele te machucou, não? Posso ver?
    -Tudo bem, sei me virar.
    -Me desculpa, mas um cara pode ser indiciado pela Lei Maria da Penha e estupro por abusar de você.  Não, não sabe se virar.
    -E o que você sabe da minha vida pra dizer isso, seu idiota?
    -Ei, calma. Falei brincando. Humor, conhece?
    -Não.
    O encarei pela primeira vez. O homem em minha frente deu um sorriso, me estendendo a mão. Levantei sozinha e ele me seguiu. Meu vestido saiu do lugar e ele  colocou a mão onde o cara apertou. Resmunguei de dor e me afastei.
    -Ficou muito feio. Vamos no bar ali pegar um gelo.
    -Eu tenho em casa.
    -Você é bem casca grossa, hein.
    -E o que você tem a ver com isso? Licença.
    Saí correndo daquele lugar. Não aguentava mais um minuto ali. Quando virei para trás, o homem que me ajudou tinha saído junto.
    -Fica longe de mim, porra!
    -Espera. Só queria oferecer para te levar.  Você está alcoolizada, não vai dirigir, né?
    -Já ouviu falar em táxi?
    -Ah, bom... Então, posso pegar seu número? Gostaria de saber se você vai ficou bem.
    -Não dou meu número assim. Olha cara, não pedi sua ajuda. Você que quis. Agora me deixa em paz!
    -Você que sabe. Mais cuidado na próxima vez.
    Nem respondi e suspirei ao ver um táxi, que diminuiu a velocidade, parando o carro na calçada. Abri a porta logo.
    -Ei! Caso nos vejamos por aí... Meu nome é Fábio.
    -Ok, Fábio.
    -Não vai me falar o seu?
    Sorri, ironicamente.
    -Anjo.
    Ele riu e entrei no carro.

🌼

     Fui direto para a casa de Neymar. Desci do táxi, caminhei até a casa dele no condomínio e toquei a campainha. Ouvi que eles estavam na sala.
     Fiquei uns bons 5 minutos em pé na porta e nada. Toquei a campainha de novo. Depois de uns minutos, a porta abriu.
     -Estou me sentindo ridículo fazendo isso. Bruna disse que não vai falar você nem fudendo. O que houve nessa festa hoje, Tatá? A Bru chegou tão chateada, não quer conversar. Vocês brigaram?
     Só de ouvir isso, cai num choro de soluços. Estava tão assustada, tão frágil. Bruna e Neymar são os únicos que me fazem sentir a vontade para ser a Tatá com sentimentos de verdade.
     -Tatá... O que houve?
     Lá de dentro, ouvi Bruna dizer:
     "Não quero nem saber! Não deixa ela entrar, amor!"
     Neymar tentou disfarçar, mas ouvi e doeu.
     -Na festa... Um cara abusou de mim... Ele me machucou.
     Meu choro só piorava. Lembrar de tudo me fez piorar. Bruna deve ter me ouvido falar, porque apareceu, vindo devagar para a porta. Neymar colocou a mão no meu ombro.
     -Te bateram?
     Mostrei meus braços e vi a surpresa na cara dele.
     -Puta que pariu. Bruna, pega gelo e bolsa de primeiros-socorros. Entra, Tatá.
     -Bruna...?
     -Entra, Talita.
     A frieza dela foi horrível, mas entrei. Com a mão nas minhas costas, Neymar me conduziu até o sofá na sala.
     Sem perguntarem nada mais, os dois cuidaram dos meus machucados.

🌼

     Estava no sofá com um vestido de Bruna. Meu cabelo preso em um coque e sem maquiagem nenhuma no rosto. Ia dormir ali aquela noite.
     Neymar já tinha ido dormir antes, já Bruna nem sei. Ela subiu sem falar comigo, simplesmente. Não consegui deitar. Mesmo coberta, estava tremendo. Quando fechei meus olhos para dormir, tive um pesadelo e acordei. Sentei abraçando as pernas, chorando baixinho. Minha vida afundava cada vez mais na merda.
     -Não está conseguindo dormir?
     Apenas neguei, sem levantar o rosto. Bruna sentou do meu lado.
     -Eu avisei, não foi?
     -Para, Bruna. Não acha que estou sofrendo o bastante? Quer pisar mais em mim? Eu vou embora, sei nem porque vim pra cá.
     Levantei, mas ela pegou minha mão.
     -Desculpa. Nem imagino o que você está sentindo. Que barra, amiga. Vem cá.
     Abracei Bruna e ficamos quietas. Depois de alguns minutos, relaxei.
     -Posso dormir, Bru?
     -Descansa, meu amor. Vou ficar aqui.
     -Obrigada.
     Fechei os olhos e dormi no colo da minha amiga.
    
    
   

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