Lonely Night

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Ao encostar em Fábio, meu namorado resmungou um pouco. Me encolhi na cama para que ele não acordasse, mas logo depois um barulho estrondoso da chuva ecoou pelo quarto. Dei um grito de susto e Fábio acordou.
‎-Pequena?
‎-Oi...
‎Ele esfregou o rosto, tentou acender a luz do abajur e ao perceber a queda da luz, sentou na cama. Sua confusão ainda aparente. Sentei também, junto com ele.
‎-O que está fazendo aqui?
‎-Foi um erro, eu sei. Desculpa. Vou voltar pra sala.
‎-Não, não! Não falei nesse sentido. Desistiu do sofá?
‎-Eu tenho medo dessas chuvas.
‎-Ah, amor. Pode ficar aí. Quer alguma coisa?
‎ Fábio bocejou e me aproveitando de seu momento, levantei da cama e fui para a sala. Parecia mais escuro do que antes. Com mais medo ainda, sentei no sofá, abracei minhas pernas e escondi meu rosto nas pernas, umas lágrimas de desespero me tomando.
‎Ouvi passos na escada e não quis olhar. Poucos segundos depois, reparei que a sala estava mais clara. Levantei o rosto assustada, olhando a iluminação toda. Lâmpadas escuras, em tons mais laranjas acenderam em cantos da sala. Logo senti a mão de Fábio no meu ombro.
‎-Tem algumas lâmpadas de emergência. Prefere assim para dormir?
‎-Obrigada.
‎-Nada, Tatá. Tem medo de escuro também?
‎Apenas assenti e ele sorriu de leve. Puxei meu edredom de novo e deitei encolhida em minha almofada. Mesmo com minha demonstração de que queria dormir, Fábio continuou em pé me olhando. O ignorei.
‎-Eu queria muito te pegar no colo agora e te proteger dos seus medos. Cuidar de você...
‎Mesmo contra minha vontade, um soluço escapou de minha garganta. Sentei no sofá e sem olhar para Fábio, umas lágrimas grossas escorreram por minhas bochechas.
‎-Você nunca me perdoou. E saber disso me dói muito. Eu carrego esse fardo todo dia, e eu não consigo esquecer que já dei um beijo fora do nosso relacionamento. Mas sempre que lembro disso, eu penso "calma, o Fábio entendeu. Ele te perdoou.". Mas na primeira chance, você jogou isso na minha cara, como se eu tivesse amado aquele dia.
‎ Sequei meu rosto com as costas da mão e funguei, buscando ar para continuar. Fábio sentou no sofá, ainda longe.
‎-Eu não te trairia de novo. Eu disse que aquela mulher morreu, lembra? Mas eu sinto que você não está me dando nenhum voto de confiança. Porque me chamou para morar aqui? Sua ideia é tratar sua mulher assim? Eu estou me entregando de corpo e alma. Você sabe meus piores segredos. Mas eu ainda não sei tudo sobre sua vida. Não sei nem quem são seus amigos! A impressão que eu fico é que você tem vergonha de mim.
‎Levantei o olhar para Fábio, mas não mantive por muito tempo. Meu namorado também se emocionara.
‎-Eu não tenho vergonha de você, meu amor. Eu te amo.
‎-Não quero conversar.
‎-Tem certeza?
‎-Me deixa sozinha. Só pensa um pouco no que eu disse.
‎-Tatá, vou subir. Mas só quero que você saiba que te amo demais. Demais mesmo. E não tenho vergonha de você. E se precisar de mim, pode subir.
‎Não respondi e deitei no sofá. Fábio subiu depois de um tempo me olhando. Sozinha de novo, chorei até dormir.

🌼

Acordei com um barulho vindo da cozinha. Levantei, sonolenta, e caminhei até lá. Fábio estava ali, arrumando a mesa. Recebi um sorriso leve por parte dele.
‎-Bom dia. Vai tomar café?
‎-Pode deixar que eu coloco. Vou beber pouco.
‎-Ok.
‎Peguei uma caneca de tamanho descente e virei um pouco da bebida negra no copo. Adocei com açúcar e assoprei um pouco.
‎-Quer torrada? Tem aquela geleia de morango que você gosta.
‎-Estou sem fome...
‎-Vai dar aula sem comer nada?
‎ Apenas encolhi um pouco meu ombro e tomei um gole da bebida quente. Fábio suspirou.
‎-Come alguma coisa, Tatá.
‎-Não quero.
‎-Coloca uma fruta na sua bolsa então? Para não ficar com fome.
‎Dei de ombros. Mesmo sem minha real resposta, Fábio embrulhou uma maçã em um papel laminado e me entregou. Agradeci baixinho e fui me arrumar. Coloquei um vestido e olhei o resultado no espelho. Não gostei do resultado e troquei. Reparei que, por mais que eu trocasse, só Fábio me fazia sentir linda com ou sem qualquer coisa. Suspirei.

🌼

-Fábio-

Acordei meu afilhado, o coloquei em seu uniforme, mesmo que ainda sonolento e o fiz tomar café. Quando terminamos, fui no quarto de novo.
-Tatá! Vamos? Eu e João já estamos prontos.
Como não obtive resposta, entrei. Minha namorada não estava nem no quarto, nem no banheiro. A procurei no quarto que João dormia e em todos os outros cômodos do segundo andar.
‎Quando não a achei, bufei. Tatá realmente fugira de mim. Liguei para seu celular, rezando para que atendesse. Mas caiu na caixa postal. Bufei e desci.
‎Tudo bem. Tatá tinha que estar na escola. Desci e chamei meu afilhado para ir.
‎-E a tia Tatá?
‎-Ela já foi na frente, João.
‎-Ah, então tá. Vocês fizeram as pazes?
‎-Estamos conversando.
‎-Entendi...
‎-Pegou tudo que vai precisar?
‎-Sim.
‎Sorri e seguimos para o carro. Durante o caminho, fomos conversando. Prometi que o levaria para ver Alice de tarde e conversamos sobre outros assuntos também.
‎Ao deixa-lo em sua sala, fui até a sala dos professores. Mas, para minha surpresa, minha menina não tinha nem chego na escola ainda.
‎Voltei para meu carro e liguei para ela. Quase pulei quando atendeu, não esperava.
‎-Amor?
‎-Desculpa. Sou eu, Bruna.
‎-Ah, Bruna. O que está fazendo com o celular de Tatá?
‎-Ela estava até tonta de sono. Aí a fiz deitar e agora está dormindo. Vi o telefone tocando, decidi atender.
‎-Ah, sim. Ela está bem?
‎-Não mesmo.
‎-Aonde vocês estão?
‎-Tatá que veio para cá, meu escritório. Tem certeza que quer falar com ela? Minha amiga está tão sensível.
‎-Tenho, Bru. Já fiz muita besteira.
‎-Certo. Vem pra cá.
‎-Estou indo. Até.
‎-Até.
‎ Desliguei o telefone e dei a partida. Usando o radio do carro, liguei para Miá. Avisei que não conseguiria ir. Depois liguei para minha mãe, em busca de saber algo de Alice. A melhora ainda era pouca. Suspirei.

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