Segredo

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   Conta um segredo
Como aqueles que nós vivemos juntos
Esquece o enredo
Diz que ainda tem lugar pra nós

-Fábio-
  
       Acordei antes de Tatá. Minha namorada dormia tranquilamente em cima de mim, de forma que não sentia meu corpo. Com cuidado, a deitei do meu lado. Com a troca, ela piscou.
       -O que...?
       -Dorme, amor. Estou aqui. Só te tirei de cima de mim.
       -Mas eu quero ficar assim.
       -Meu corpo está doendo, anjo. Dorme.
       Ela só assentiu. Mesmo resmungando tanto, ela dormiu em seguida. Sorri com isso. Esperei a sensação passar e, com o braço que continuou em baixo dela, mexi em seus colares. Por sorte, Tatá usava o cadeado ali. Usando minha outra mão, abri o colar e deslizei-o para mim. Tatá sentiu.
       -Para...
       Esperei ela dormir de novo e peguei a chave. Com aquilo em mãos, corri para o compartimento que achei. Abri fácil, tomando cuidado com o barulho. Novamente, lembranças. Dois álbuns de foto, exames e até mesmo um pendrive. Não pensei duas vezes. Peguei meu notebook na bolsa e o coloquei para ler os arquivos. Primeiro, abriu um vídeo.
       Estavam juntos em um parque. O sol batendo forte, Tatá com uma camisetinha branca e o cabelo mais loiro. Felipe filmava.
       -Tatá, dá oi para o vídeo!
       -Felipe, para!
       -Uma atriz com vergonha de câmeras?!
        Ela riu, fugindo um pouco. Seu sorriso me trouxe um certo conforto. Depois, Tatá pulou na câmera e ele parou de filmar.
        Começou outro. Felipe se filmava deitado na cama.
      -Oi, mãe. A senhora recebeu os últimos vídeos e fotos? Espero que sim. Nova Iorque é lindo demais, estamos amando. Só essa pessoinha aqui que está se sentindo mal hoje. Amanhã vamos tentar comer melhor por aqui. Né, amor?
     -Você exagera um pouco. Mas é. Oi!
     Felipe beijou a cabeça de Tatá, que sorriu de leve. O dengo de sempre.
     -Então é isso, mãe. Beijo. Vê se arruma esse celular logo. Mandar vídeo no e-mail dá trabalho.
     Eles sorriram e desligaram.
     Outro. Já estavam no Brasil, reconheci a sala de Tatá. Felipe filmava de novo. Minha menina entrou no cômodo, carregando um balde de pipoca.
     -Amor, o que tem aí?
     -Pipoca. E doce de leite.
     -Sabia que essa pipoca vem com sal?
     -Sei ler. Mas ficou bom. Quer provar?
     -Não, fica só para você. Tira esse balde da frente, posso filmar nosso bebê?
     Ela sorriu e tirou. Sorri com a cena. Óbvio, não era nenhuma barriga enorme, mas já começava a apontar, o que realçou a beleza dela.
     -Amo vocês dois demais.
     -Também te amamos. Mas já falei para acreditar que é uma menina. Eu tenho certeza.
     -Não duvido, mamãe.
     Ela revirou os olhos e sentou no sofá comendo. Felipe riu e desligou.
     Depois, vieram apenas slides de fotos. Os dois estavam almoçando na mesa da sala, felizes. Olhei as datas. O dia do acidente.
     Olhando tudo aquilo, tive uma ideia. Guardei tudo com carinho em seu devido lugar de novo e tranquei. Peguei meu celular e liguei para o psicólogo que conversou comigo no hospital.
     Assim que desliguei a ligação, Tatá entrou no closet, esfregando o rosto.
     -Que susto, Fábio. O que está fazendo aqui?
     -Eu... Amor, me desculpa. Estava com o braço no seu pescoço, mas quando fui tirar, puxei com uma certa força e arrebentei seu cordão com a chavezinha.
     -Ah, sério, amor?
     Enquanto falava, comecei a forçá-lo nas costas. Por sorte, o senti divido em dois.
     -Sério. Me desculpa. Vim aqui achando que teria algo para consertar. Vou levar e arrumo, ok?
     -Pode deixar o pingente comigo? Tem valor simbólico.
     -Claro. É uma chave para alguma coisa?
     Lhe entreguei a chave, guardando o colar no bolso. Tatá sorriu amarelo.
     -Não. É falsa. Obrigada.
     -Imagina.
     -Vou fazer nosso jantar hoje, tá?
     -Porque não descansa hoje?
     Ela beijou meu rosto e sorriu.
     -Quero fazer.
     -Tá bom então. Fica a vontade.
     Tatá desceu e suspirei de alívio. Arrumei a cama, tomei um banho e coloquei uma roupa que levei. Depois,  desci. Por mais que ela negasse talentos na cozinha, a vi cheia de jeito preparando algo.
     -Está fazendo o que, baixinha?
     -Fábio! É surpresa. Só desce quando eu te chamar.
     -Então tá bom, me desculpa.
     -Anda, sobe de novo!
     -Tá, tá! Se precisar de qualquer coisa, chama.
     -Pode deixar.
     Fui empurrado para o quarto de novo. Já estava sem o que fazer há uma hora, meu celular perdendo a graça. Esperei mais uns minutinhos e desci de novo.
     -Amor meu, está tão chato lá no quarto. Posso ficar com você?
     Tatá estava com a cabeça deitada em sua mão, sobre a bancada, escrevendo em um caderno. Reconheci-o como o diário que vi na cama dela um dia.
     -Eu vou arrumar tudo já, já. Você me atrapalha estando aqui.
     -Tudo bem, já vou sumir.
     -Ótimo.
     -O que está escrevendo?
     -Meu diário. Sei que parece infantil.
     -Não é. Posso ver?
     Tatá tirou o caderno da mesa, abraçando-o. Me senti culpado na hora, mas por tudo.
     -Não. São meus pensamentos. Não quero que você leia.
     -Tudo bem, calma.
     -Desculpa, é que... Fábio, você sabe como eu sou.
     -Sei, meu amor.
     A abracei e coloquei o diário na mesa. Acariciei o braço de Tatá, que sorriu.
     -Te amo.
     -Também, pequena.
     Lhe dei um selinho e sorrimos.
     -Agora, sobe de novo. Vou arrumar a mesa. Vou te chamar depois, tá?
     -Prometo que vou ficar sossegado lá em cima, imóvel no quarto. Sem fazer nenhum barulho.
     -Tá, anda.
     Ela começou a me acompanhar até o andar de cima e estranhei.
     -Não ia arrumar?
     -Vou pegar um vestido. Não dá para ser um jantar romântico enquanto eu usar essa roupa- Ri
     -Eu te acho linda de qualquer jeito.
     -Não quero saber. Vou colocar meu vestido.
     -Tudo bem, já vi que não tenho opinião.
     -Nenhuma, obrigada por reparar.
     Chegamos ao quarto e enquanto ela pegava seu vestido, fiquei esperando na cama. Ela logo saiu, o escondendo atrás das costas.
     -Posso ver qual é?
     -Você não me viu com esse ainda.
     -Então posso ver?
     -Não! Vai arrumar uma ocupação, Fábio. Vou ficar chateada se estragar meu jantar.
     -Tudo bem, anjinho. Te amo.
     -Nem adianta fazer doce.
     Ela desceu, mas vi um sorriso leve em seu rosto. Sorri com isso e fui tomar um banho também.
     Quando saí, me vesti um pouco melhor e fiz uma breve pesquisa na internet. Depois, com os resultados anotados em um papel, fiz uma ligação.
     Estava desligando já, finalizando o pedido, quando senti braços em volta de minha cintura. Sorri e desliguei.
     -Falando com quem?
     -Trabalho, anjo.
     -Que saco você. Não leva esse celular lá para baixo. Depois temos que falar como está a gravação do filme...
     -Depois. Você está de repouso. Agora me solta, quero te ver.
     Tatá me soltou e virei. Quando a vi, arregalei os olhos num susto. Não parecia ela.
     -Está tão ruim assim? Esse vestido é antigo, eu achei que...
     Lhe beijei, para impedi-la de pensar uma besteira. O vestido era branco, com uma saia pouco mais cheia e detalhes de leve com renda.
     -Ficou linda demais. Está mesmo parecida com meu anjo.
     -Gostou? É muito diferente...
     -É sim. Se você gosta dele, pode usar mais. É lindo. Mas você fica linda sempre também, que chato, hein-Ela sorriu.
     -Para. Vem, vamos descer. E você também está lindo. E cheiroso.
     Beijei sua cabeça e descemos. Tatá tinha arrumado uma mesa toda em vermelho e reparei em como ela soube arrumar uma mesa digna de cena de novela. Isso fora as velas que acendeu.
     -Se nada der certo... Pode trabalhar com isso.
     -Minha arrumação é melhor que a comida
     -Duvido que seja tão ruim igual você fala.
     -Não é nada demais. Mas ainda falta um pouco para ficar pronto. Quer beber o que?
     -Mas eu não jo...
     -Eu fiz suco. Uva ou de abacaxi com hortelã. Queria ver se ainda sei fazer.
     -Que orgulho de você, meu amor. Já começou bem.
     Ela sorriu divertida e entrou, voltando para a cozinha. Depois voltou com os sucos.
     -Tatá, eu queria te propor uma coisa.
     -O quê?
     -Você realmente quer mudar de vida, né?
     -Óbvio. Quase tive coma alcoólico. Não quero passar por isso nunca mais.
     -Que bom, amor. Mas eu acho que essa casa te mantém ligada nisso tudo. Vem comigo lá para casa, Tatá. Vai ser mais fácil.
     -Morar junto?
     -É. Não estava nos meus planos dormir em um papelão na rua e te dar o apartamento. Quer vir morar comigo?
     -Mas... Mas é tão cedo, estamos namorando passou pouco tempo.
     -E daí? O tempo não é nada. Quanto tempo você e Felipe namoraram antes de virem para cá?
     -Uns 5 meses...
     -E porque comigo você não quer vir, pequena?
     -Eu quero. E muito.
     Ela sentou na cadeira ao meu lado, mas olhava além de mim ou para o colo. Só não me encarava.
     -E o que te impede?
     -Fico com medo de largar, sei lá.
     -Quer um tempo para me dar essa reposta?
     -Não! Eu vou. Podemos ir amanhã?
     -Calma, pode pensar. Não precisa ser agora também.
     -Mas eu quero. Desculpa esse doce aqui. Não tenho medo.
     -Não mesmo?
     -Nem um pouco.
     -A gente enrola mais um pouco, pensa em detalhes. Vemos como vai ser essa mudança e você vê o que quer mudar lá em casa e decidimos se aquele apartamento é suficiente.
     Ela riu e sentou em meu colo, me dando um selinho. Sorri com isso, a aproximando.
     -Seu jeito metódico é engraçado.
     -Nome disso é organização, conhece?
     -Não.
     Lhei deu um beijo, fazendo um sorriso aparecer. Tatá sorriu e levantou do colo.
     -Vou lá ver o jantar. Já volto.
     -Quer ajuda?
     -Não, sei o que estou fazendo.
     -Ok, Cheff.
     -Sou mesmo.
     Tatá sumiu pela porta da cozinha e estava bebendo meu suco, mal um minuto tinha se passado, ouvi um grito seu.
     -Tatá? Amor, o que houve?
     Assim que cheguei, minha namorada chupava um dedo e me olhou. Sorri.
     -O que houve?
     -Queimei meu dedo...
     -Não sabia o que está fazendo?
     -Sabia.
     Sorrindo ainda, peguei sua mão e lavei com água gelada. Sequei com cuidado, para não apertar.
     -Vai dar bolha, né? Vou ter que amputar meu dedo-Gargalhei.
     -Só vai ficar vermelho, Tatá. Só isso. Já, já vai parar de arder. Quer ficar colocando gelo?
     -Não, tudo bem.
     -Nunca se queimou assim, boba?
     -Eu não cozinho. Como ia queimar?
     -Verdade. Pode deixar que eu termino. A comida está no forno ainda?
     -Sim. Eu ia pegar e esbarrei naquela grade. E eu estava usando um pano-Ri-Para de rir de mim.
     -Você é hilária. Não tem jeito nenhum com a cozinha. Qualquer dia vou deixar você com João e ele vai cozinhar um miojo para vocês.
     -Engraçadinho.
     Beijei seu rosto, segurando o riso, e terminei de mexer ali para ela. Estava esperando o molho da lasanha ficar pronto quando a campainha tocou.
     -Está esperando alguém?
     -Sim. Abre lá para mim.
     -Quem é?
     -Vai lá, anjo.
     Ela desceu do banco que estava sentada e foi atender. Desliguei o fogo e fui até a sala, encontrando uma Tatá que namorava as flores que pedi.
     -Amor! São para mim?
     -Óbvio, pequena. Gostou?
     -Muito. São diferentes...
     -Elas tem um significado, olha. O Cravo significa amor verdadeiro. E essas Tulipas são amor irreversível.
     -E você sabia isso tudo?
     -Google. E a moça da floricultura que fez um atendimento por telefone-Ela sorriu - Pelo menos eu estudei.
     -São lindas, amor. De verdade. Obrigada.
     Ela me abraçou, me dando um selinho. Ver Tatá feliz me faz tão bem. Agradeci mentalmente por ver aquele sorriso.
     Nosso jantar foi incrível. O tempo todo ri com Tatá, que estava reamente incomodada com aquela queimadura ridícula no dedo.
     Também falamos do filme e lhe contei que estávamos adiando um pouco as cenas dela, mas que voltariamos logo.
     -Falando no filme... Sabe quem tem me perguntado sobre você?
     -Quem?
     -A Ingrid. Disse que não pode te visitar porque estava ocupada com a filha e trabalhos, mas ficou preocupada contigo.
     -Ainda não me acostumei com isso. Meu coração ainda para quando você fala dela, e isso é sério. Você está rindo tanto de mim hoje.
     -Você está falando essas coisas de propósito para me fazer rir.
     -É, e esse é meu nariz de palhaço. Já é até grande.
     -Para de bobeira.
     -Aham, já parei.
     Revirei os olhos e ela sorriu, enlaçando nossas pernas em baixo da mesa. Sorri.

🌼

     Depois do jantar, Tatá ficou com sono. Vi até que ela tentou alguma coisa para cima de mim, mas a peguei no colo e sentamos no sofá. Ela se aninhou em mim e decidimos assistir um filme que passava em um canal qualquer da TV.
     -Amor, vamos mesmo morar juntos?
     -Eu fiz a proposta, você pode pensar.
     -Você sabe que morar junto é casar, né? Tecnicamente... Meu Deus, sou ótima para falar besteira-Sorri.
     -Quer casar, baixinha?
     -Não quis dizer isso! Só que todo mundo vai pensar, então eu... Então eu vou ficar quieta.
     Tatá realmente ficou com vergonha e corou. Sorri.
     -Me fala, amor.
     -Deixa acontecer. Vamos indo.
     -Tudo bem. E você está com vergonha e não quer falar a verdade.
     -Eu sempre falo uma besteira assim.
     -E filho, amor? Já pensou em ter um menino Vascaíno lindo?
     -Quero ser mãe. Mas quero uma menina.
     -Tudo bem, desde que seja Vascaína.
     Tatá riu e deitou mais em mim, pegando minha mão.
     -Um casalzinho então. O menino vai ser o mais novo. E vamos ter 4 gatos e 1 cachorro.
     -Meu Deus. Vou arrumar mais um emprego e uma casa maior.
     Ela riu e enlaçamos nossos dedos, trocando carinhos.
     -E aquele diário, Tatá?
     Minha namorada saiu do meu colo e bufou, cruzando os braços. Mexi no assunto que não devia.

     Me lembro do teu corpo
    E cada canto teu
    Há mais do que eu sei
    Tão vivo em mim

       Sandy rainha, né. Pessoal, o segundão já começou com mais de 50 questões de matemática e atrapalhou meus planos com a outra fic. Só pra pedir que não desistam de mim que prometo compensar um dia na vida😂💖
    
    
    
    
    
       
      

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