Fabinho

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    Fábio me levou no cemitério em qual Felipe repousava. Meu atual namorado parou o carro e foi direto para o porta malas.
    -Teitei, aqui.
    -O quê?
    Fábio me entregou um buquê lindo, todo decorado. Sorri.
    -Você não pode visitar seu ex noivo sem levar umas flores, né?
    -São lindas, Fábio.
    Ele sorriu e pegou minha mão, me levando até a porta. Parei ali.
    -Vem, amor.
    -Não consigo.
    -Já estamos aqui, não vai entrar? Estou com você.
    -Não...
    -Calma, Tatá. Vem cá, vamos devagar.
    Aceitei sua mão novamente e entrei. Segui o caminho que lembrava e depois de procurar um pouco, Fábio leu:
    -Gutnick?
    -Sim! Achou?
    -Esse aqui.
    Me aproximei e levei minha mão sobre a lápide. Li seu nome e acariciei ali. Li seu ano de nascimento e ano de morte, reparei em cada detalhe.
    -Oi, Lipe.
    -Vou deixar vocês dois em paz.
    -Obrigada.
    Fábio sentou em um banco ali perto e deixei as flores sobre a lápide.
    -Quanto tempo, amor. Como você está? Eu estou levando. Sinto que não vivo mais desde que você foi embora, mas estou bem dentro do normal. Viu esse homem aqui? Estamos namorando. Ele é bom comigo, cuida de mim, e tem paciência com nossa história. O nome dele é Fábio. Você está namorando também? Queria saber.
    Meus olhos pesaram e apoiei meus braços no túmulo alto, em mármore impecável.
    -Fico imaginando se, aonde quer que você esteja, você está com nossa menina. Está? Como ela é? Você fala de mim para ela? Qual nome escolheu? Também imagino como seria se pudesse ter criado ela com você aqui. Deveríamos estar juntos, nós três. Quem sabe, quatro? Poderíamos crescer a Família.
    Parei para respirar fundo, já que a voz embargada só piorava.
    -Eu te amei por anos e anos da minha vida, Felipe. Ainda amo. Eu preferia ter ido junto com você, mas já que fiquei... Quero viver minha vida aqui. E acho que não te deixei em paz nos últimos anos. Me perdoe pelas noites de bebida e pelas manhãs de ressaca, sei que detesta isso. Me desculpa não ter seguido como atriz, sei que gostava de me ver atuando. Tenho tanto para me desculpar... Quero ser feliz com o Fábio. Ele foi a única pessoa que realmente lutou contra minha grosseria, é amor. Vou seguir aqui, siga aí. Você e nossa bebê. Ela nem é mais bebê, né? Eu amo vocês demais.
    Deitei minha cabeça sobre o túmulo e chorei. Soluços de dor cortaram minha garganta e, como meu anjo realmente, Fábio percebeu e correu para me abraçar de lado.
    -Está tudo bem, meu amor. Passou.
    Chorei em seu peito e acabamos sentando no chão. Fábio me apertou. Aos poucos, parei de chorar e só continuei aproveitando seu carinho.
    -Está tudo bem?
    -Sim. Eu contei para ele que estamos namorando. Eu quero que ele namore lá também-ele sorriu.
    -Será que ele aprova?
    -Você me faz bem. E Felipe me amava. Deve te aprovar.
    -Só uma coisa: ele ainda te ama.
    - Sim... será que minha filha me ama também?
    - Tem como não amar uma mãe dessas?
    -Não pude criar ela, talvez seria uma mãe horrível e você estará  falando besteira.
    -Duvido muito. Quer ir embora agora?
    -Vamos ficar mais um pouquinho? Parece que estou sentindo ele aqui, e estou gostando disso.
    -Você quem decide, meu amor. Acha que isso te fez bem? Ou eu errei muito?
    -Fez bem.
    -Agora, Teitei, deixa o Felipe descansar. Ele passou esses anos todos cuidando de você, e agora é minha vez. Podemos continuar vindo aqui para você poder conversar com ele, podemos falar dele vez ou outra, você pode continuar amando ele e me falando sobre, mas o importante é você superar e parar de sofrer.
    -Prometo.
    -Excelente, pequena.
    Lhe dei um selinho e recebi um sorriso de volta. Fábio fez carinho em meu cabelo e fechei os olhos, apenas aproveitando.
    -Vamos embora, anjo?
    -Sim...
    Fábio ficou em pé e puxou minha mão, me levantando junto.
    -Quer ir almoçar em que lugar hoje?
    -Pode escolher.
    -Ok.
    Beijei seu rosto e seguimos para seu carro. Antes, óbvio, me despedi de Felipe.

🌼

    Fábio me levou em um restaurante novo, com opção vegetariana para mim. Com já nossos pratos na mesa, a diferença era gritante.
    -Você tinha que comer qualquer outra coisa mais forte, sei lá. Pode ficar fraca.
    -Já estou há um bom tempo nessa dieta e está tudo certo. Para de exagerar.
    -Nunca. O resto dos meus dias vão ser só de preocupação contigo.
    -Tadinho, vai viver disso agora. Eu faço muita merda-Ele riu.
    -Você está até se comportando bem n9s últimos dias.
    -Vou voltar para casa com uma estrelinha na mão?
    -E uma carinha feliz na agenda.
    Ri e Fábio sorriu, exibindo suas covinhas lindas. Isso só me faz sorrir mais.
    -Se um dia eu terminar contigo, acho que vai continuar na família. O João te ama demais, sabia?
    -Também amo ele.
    -Não, Talita. Aquele menino chega em casa esfregando na minha cara que ganhou estrelinha da Tia Tatá e eu não. Você nunca me deu estrelinha.
    -Fica chateado com isso?
    -Fico. E me comporto tão bem.
    Gargalhei e, com a caneta da comanda, rabisquei uma na mão dele.
    -Feliz? Agora tem uma.
    -Vou me exibir para o João hoje.
    -E vocês têm a mesma idade, certo?
    -Quase.
    Peguei sua mão e fechei meus olhos de leve, tentando associar tudo que estava se passando pela minha cabeça.
    -Tudo bem, amor?
    -Tudo bem demais. É até esquisito para mim.
    Recebi um selinho seu e lhe devolvi um sorriso leve, mas sincero.
    -Seu aniversário está chegando, hein.
    -Ah. O que você, Bruna e Ney estão planejando? Eu não quero nada exagerado.
    -Ih, podia confiar. Vai ser só um bolo para nós quatro e três coxinhas. Três porque você não come carne.
    -Babaca.
    -Juro, a festa não vai extrapolar.
    -Mesmo?
    -Sim! Tatá, eu estava pensando... A festa vai ser sábado. Queria fazer um jantar lá em casa na sexta.
    -Só nós dois?
    -Não. Chamar minha mãe, meu padrasto, minha irmã... E queria que você chamasse seus pais. Acho que você sente falta disso. Tipo, eu nem sei sobre sua família. Tem irmãos?
    -Um irmão. Mais velho. Ele é casado e tem um filho da idade do João, mais ou menos.
    -Sério? Tatá, meu sobrinho é minha vida. Já tentou se aproximar do seu?
    -Eu não conheço ele. O menino nasceu pouco depois que... Enfim. Já que não fui conhecer ele, meu irmão e minha cunhada se afastaram. E meus pais, sei lá. Não quero, Fábio.
    -Amor, hoje você foi visitar o Felipe. Está superando. Porque não tenta com sua família? Aproveita enquanto seu sobrinho é pequeno, curte a infância dele. Quem sabe não vira um amiguinho do João?
    -Eu não quero. Nem sei o nome do meu sobrinho. E sinto vergonha dos meus pais.
    -Porque?
    -Não sei bem se é vergonha... Mas só não quero esse contato agora.
    -Outro dia então?
    -Sei lá, Fábio.
    -Não seria uma má ideia, não é? Futuramente.
    Ironicamente, sorri para ele.
    -Do jeito que você fala, parece que eu amo essa distância.
    -Pequena, não falei nesse sentindo.
    -Chega, Fábio. Chega.
    Suspirei e terminamos nosso almoço em silêncio. Saímos juntos do restaurante, mas sem contato físico. Entrei em seu carro e cruzei os braços. Usei de todos os truques possíveis para não deixar a emoção me ganhar.
    -Anjinho, vai ficar chateada comigo?
    -Não quero conversar, Fábio.
    Uma lágrima escorreu e ele secou com um beijo demorado ali.
    -Eu te amo, Tatá. Amo. Tudo que eu faço é pensando e no seu bem e na sua felicidade. Se enchi seu saco com esse assunto da família, é porque acho que te faz falta. Mas se não quer, tudo bem. Respeito sua escolha. Só não fica chateada nem triste comigo porque dói demais te ver assim.
    Virei meu rosto e me rendi a um beijo seu. Fábio segurou minha mão e, ao se afastar, acaricinhou meu pulso.
    -Você não tinha falado que me ama antes.
    -E você tem alguma dúvida?
    -É para ter ou não?
    -Não.
    -Então tá.
    Ficamos apenas em uma intensa troca de olhares, presos no momento. Sei que Fábio esperava ali uma declaração Minha, mas realmente não tive vontade de falar. Acredito que ele tenha entendido o meu motivo e a apenas apertou minha mão.
    Do restaurante, seguimos para o apartamento de Fábio. Lá, ele deitou no sofá e me chamou para deitar junto, e assim o fiz. Acabei dormindo em seus braços.

🌼

    Acordei muito desnorteada. Senti não estar em casa e resmunguei ao sentir a falta dos braços de Fábio na minha cintura.
    Quando consegui abrir os olhos, vi estar na cama de meu namorado. Procurei um relógio em volta: oito da noite.
    Ainda sonolenta, desci para a sala de novo. Fábio estava no telefone, de costas para a escada, em sua varanda.
    -Ela está confirmada?...Não, só preciso da resposta dela. É extremamente importante para mim...E a gravação seria quando então?... Aham...
    -Fabinho.
    Ele virou e sorriu de leve, esticando um braço pra mim. Aceitei e o abracei, afundando meu rosto em seu peito.
    -Tá ótimo então, Miá. Valeu. A gente se fala amanhã... Falou.
    Fábio desligou e beijou minha cabeça.
    - Quem era?
    -Miá. É uma agente também, minha sócia.
    -Ah, tá.
    -Do que você me chamou agora pouco?
    -Ahn?
    -Me chamou de Fabinho? -ele riu.
    -Chamei. Porque?
    -Achei engraçado. Está ficando dengosa. Parece um gatinho. Só falta ronronar.
    -Não gosta?
    -Ah, meu Deus-ele sorriu-Admiro sua mudança, anjo. Estou idolatrando seu novo jeito. Pode ficar dengosa o quanto quiser.
    Me aconcheguei mais e sorri. Ainda me sentia meio anestesiada pelo sono, suspirei de surpresa com ele me pegando no colo.
    -Me deixa no chão.
    -Você está nem ficando de pé com esse sono. Vamos deitar.
    - Tá.
    Deitei nele e me deixei descansar. Fábio acariciou minha mão e, ao chegarmos no quarto, me colocou na cama de novo.
    -Dorme, amor.
    -Vem cá... dorme comigo.
    Ele deitou ao meu lado e me fez carinho.
    -Tatá...
    -Oi.
    -Nada, deixa.
    Senti que ele me escondia algo. Seu olhar desviou rápido, sua fala saiu gaguejada e ainda tinha aquela ligação que presenciei. Fábio estava realmente armando algo.
   

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