O inverno começava a apertar rigorosamente em Santorini. As pessoas se demoravam menos nos banhos, nas ruas às compras, em lugares abertos. Comiam e dormiam mais. Produziam menos. É fato!
Esse clima sempre fora o predileto de Cameron. A fazia se sentir mais acomodada.
Apesar de se sentir quase um móvel da casa pela pouca movimentação durante mais da metade da estação, aquele inverno estava sendo diferente.Era dia de fisioterapia e Louíse não estava muito disposta a sair de casa. Uma reportagem num programa qualquer de rádio avisava que teriam quase dez horas de chuva. O frio vinha de brinde. Fazia muito frio naquele dia.
- Louíse, já são 08 e 25 levanta e se arruma por favor. Vou pôr seu café na mesa e vê se não demora porque senão vai esfriar.
- Huuum (resmunga) não quero café hoje Cameron! Estou sem fome e indisposta pra sair de casa.
Louíse se arrasta literalmente pra fora da cama com a cara amassada. Dá uma breve olhada por cima do corrimão das escadas procurando ver Cameron. Queria convencê - la de que poderia faltar. Estava fazendo um ótimo trabalho, já conseguia andar sem manquejar e sem precisar se apoiar nas coisas.
Um dia de descanso não vai invalidar o restante né?Todas as vezes que Cameron a levava fazia questão de assistir as sessões pra ver como ia seu desenvolvimento. Queria acompanhar de perto pra ter certeza do sucesso do tratamento.
Dez minutos e Louíse sai do banho com uma toalha enrolada no corpo. Separa um moletom preto e um casaco de três camadas de tecido com forro em lona. Fora de moda mas aquece. Isso que importa - estarei quentinha dentro dessa roupa. Dizia consigo mesma segurando o moletom na altura dos ombros.
Num puta de um susto, Louíse larga a roupa no chão encarando Cameron, ali parada pálida e estática em sua frente. Por um longo período e pela primeira vez em sua vida, Cameron sente um arrepio que ia da nuca ao final da espinha ao vê- la só de toalha em sua frente.
Louíse, face vermelha, mãos suando, nó na garganta, expostamente sacudida com a presença de Cameron, que por sua vez da um passo atrás procurando a porta por onde tinha entrado. Estava confusa e sem jeito. Desconcertada.
Cameron se vira para a entrada do quarto e sai como se tivesse esquecido algo no fogo - às pressas.
Louíse, ainda sem entender o que foi todo aquele furacão de emoções dentro de si. Um misto de sentimentos que iam e vinham. Tentava ignorá - los mas à medida que se aproximava daquela mulher alta, cabelos longos e claros, bem incorpada, olhos expressivos, sorriso largo, ficava mais difícil repudiar seus sentimentos.****
< um Meriva branco, uma mulher aparentemente com seus 50 anos, bem vestida e devidamente maquiada no banco do carona ao lado de um homem com mãos no volante. Discutiam vorazmente. A mulher gesticulava e gritava. O homem, mas calmo porém, rebatia na mesma intensidade os insultos dirigidos a ele, tinha cabelos grisalhos e era mais baixo que a mulher. Num giro de 360 graus o carro capota várias vezes depois de colidir com outro carro e uma nuvem de fumaça sobe do veículo fazendo - o desaparecer na mente de LOUÍSE. >
- Louíse! Louíse! Em que planeta vc está? Precisamos ir.
Diz Cameron a tirando do transe em que se encontrava.- Desculpa! Eu.....Não .... Não (o silêncio se instala por alguns segundos e logo é interrompido pelo toque do celular de Cameron que o pega e vai atender no cômodo debaixo).
Louíse ainda absorta em seus pensamentos se levanta pega sua bolsa a tira- colo e desce a escadaria ao encontro de Cameron.
- Era do hospital, hoje tenho reunião de equipe as quinze horas com duas supervisoras insuportáveis. Um saco!
Louíse não estava nem na metade das escadas quando Cameron explica sobre o telefonema e gesticula para que andasse mais rápido. Teria que se virar em duas para dar conta da correria. Seria um dia cheio!Entram no carro em silêncio e assim permanecem. Cameron ocupava sua mente com a reunião, as megeras infernais (também conhecidas como supervisoras da secretaria de saúde) e seus demais compromissos até o fim do dia. Já Louíse, perdida em seus devaneios, apenas observava a palidez da paisagem lá fora, enquanto iam pela rota de Terásia. A tentativa frustrada de decifrar a cena do acidente com o casal em sua mente a deixava confusa. Mais do que estava. E por falar em confusão, ainda tentava esquecer o episódio de minutos atrás com Cameron. Era embaraçoso olhar nos olhos dela. Porque já não conseguia esconder o que sentia.
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Almas de Pipa
RomanceStatus: Ainda em andamento. Almas de Pipa conta a história trágica e não menos mais emocionante de amor que você já leu. Melanie, Jessie e Cameron têm suas vidas marcadas por um amor não rotulado mas de certa forma incomum, pelo menos de seu ponto...