Almas de Pipa

Capítulo Treze - Marina

Não haviam de se demorar na estrada se saíssem bem cedo de casa, o que não ocorreu, uns trinta e dois minutos a mais do que o normal devido o trânsito até a Marina. Era sábado, quase 10 horas da manhã e pouco mais  de 2/3 da população se encaminhara para o mesmo lugar que elas.
Uma das rotas até o centro de Alimo ainda estava interditada por causa de um acidente ocorrido na noite anterior. Nada de feridos, porém a segurança dos transeuntes vinha em primeiro lugar, logo, mais umas duas horas estaria liberada.

Fazia sol, diferente de Terásia Alimo era quente! Eram ilhas quase vizinhas, não fosse por duas ilhas entre elas. Dua Lipa cantando IDGAF lindamente no MP3 do carro e Louíse abre a janela do seu lado, observa a paisagem majestosa a sua disposição.
- Cameron, isso é lindo demais, não. Isso é magnífico!!! - solta com um sorriso exuberante.

- Sempre que podia vinha pra cá. Mas ... (Um homem corre a frente do carro obrigando - a a brecar com ímpeto).

- Seu louco! Presta atenção por onde anda imbecil! -Cameron grita.
- Você está bem Lô?

- Sim, eu tô bem. Mas o que esse maluco tá fazendo? Quase se mata ou porvoca um acidente grave.

- Não sei o que deu nele, mas nem ligou, parece que estava fora de si. Saiu andando como se não tivesse acontecido nada. Eu hein!

Estacionam numa vaga perto de um bar em frente á sorveteria local mais frequentada, compram dois copos de 200 ml de açaí e seguem viagem, Cameron ainda assustada, liga o som baixo dessa vez. Não queria se distrair novamente. (Sempre que coisas do tipo aconteciam ela se culpava por tudo. Mesmo não tendo culpa de nada, sentia como se tivesse tido chance de evitar as coisas, era uma questão mais pós trauma do que intencional).

- Chegamos! - Cameron abre a porta e sai em direção á praia. Se senta numa das cadeiras de plástico de um quiosque, pede duas cervejas e uma garrafa d'água. Louíse parece extasiada com a paisagem á sua frente ignorando completamente as recomendações de Cameron para espalhar um pouco de protetor pelo corpo branco e pálido, que exibia num biquíni branco de crochê e renda por baixo de sua canga.
- Aloooô?! Ei Lô ouviu o que eu disse? Passe o protetor, você parece um fantasma de tão branca! (Risos)

- Tá, eu ouvi, eu ouvi engraçadinha. Onde você o colocou? Achei que estava na bolsa.

- Coloquei ... no porta - luvas huuum droga! Não, devo ter colocado na bolsa azul atrás de você.

Mexe daqui e ali e acha. Senta entre as pernas da mulher que lhe fizera perder o fôlego na noite anterior e pede pra passar o protetor em suas costas.
Cameron pega o protetor e começa a espalhar o conteúdo vagarosamente em suas costas. O sol aquecia e a brisa refrescava. Enquanto as ondas quebravam lentamente fazendo a linha do horizonte desaparecer com estalar de dedos, Louíse observa atenciosamente como se nunca tivesse visto tal coisa.

-

Esse lugar ... Não sei porque mas me traz algo estranho. Não é bem um sentimento, mas uma sensação. - diz Louíse perdida em devaneios.

- Talvez já tenha vindo aqui antes meu bem.

- Será?

- Pode ser. Se você tem uma conexão com esse lugar pode ser sim que já tivesse vindo aqui antes.

- Queria tanto poder lembrar, saber da minha vida, os lugares que já frequentei, as comidas, as pessoas. (As mãos que antes estavam abraçadas às pernas, agora apoiam o rosto), Queria meeesmo saber!

- Eu sei, mas tenha esperança. - Cameron se levanta e a puxa pela mão em direção a água. - Venha, vamos entrar!

- Eeei, eu não sei se consigo. Não sei nadar, eu acho.

- Se não entrar não vai saber.

- Aff! Só um pouco!

Praia lotada, sol de verão, não era bem o cenário que Cameron fazia questão desde que perdera o filho, mas Louíse trouxera de volta sua vontade de viver, de ser feliz outra vez, de voltar a sorrir, de se jogar de novo pra vida e aproveitar tudo o que ama como se fosse a última vez.
Porque uma vez, foi de verdade sua última vez. E isso doeu mas não mais que o fato de não ter aproveitado tanto com Lu, seu único filho. E quando percebera era tarde demais.

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