G Ê M E O S

83 21 20
                                    


Quando ela era bem criança, queria ser astronauta. 

Cresceu um pouco e resolveu ser atriz. Não demorou muito para que desejasse ser veterinária. E muito menos para que começasse a se interessar por história. No colégio, descobriu a biologia. E mais tarde, viu que ser cineasta era uma opção. 

Começou a faculdade de jornalismo, continuou depois em administração, tentou publicidade e acabou sendo operadora de telemarketing, sem um diploma.

Um emprego um tanto ingrato, mas feito para ela. 

Sua amiga dizia:

- Você é boa em convencer as pessoas, uma lábia incrível! Vai ser paga para fazer o que você já faz de graça.

E ela dizia:

- Amiga, você sabe que adoraria conversar mais, mas não dá pelo telefone da empresa.

Então, sua amiga fazia questão de lembrá-la que era ela quem tinha ligado. E ela ria alto enquanto girava na cadeira e lia mais uma página da revista sobre a mesa.

Revezava seu trabalho com jogar paciência no computador e ler a revista de fofoca que ela roubara de sua mãe; até abandonar pela metade como fazia com tudo. Em pura inquietação, ligava para um novo cliente, prendia o cabelo pomposo em um rabo de cavalo, girava na cadeira e comentava o último capítulo da novela por sinais com a colega do lado. 

Seu chefe dizia que ela tinha que seguir um script de vendas, mas ela não conseguia nem seguir o roteiro de sua própria vida. Contornava a situação, enrolava as pessoas e seguia seu caminho cheio de possibilidades.

 E continuava a girar e girar e girar até se enroscar no fio do aparelho e nas próprias palavras.

As Leis do KarmaWhere stories live. Discover now