V I R G E M

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Coluna ereta. Cabeça erguida. Pernas alongadas. Ponta de pé firme no chão. Braços curvados em ângulo perfeito. Um giro de graus exatos, nenhum centímetro a mais ou a menos.

Movimento fluído e delimitado. Nem um único fio de cabelo fora do coque enxuto e banhado em gel - na quantidade perfeita de gel.

Quem a via dançando, costumava dizer que lhe despertava leveza.

Mas ela sabia melhor que ninguém que não havia nada de leve no balé. Era somente cálculo, esforço, estabilidade e, principalmente, perfeição. Era criar a ilusão de graciosidade onde havia apenas árduo treino contínuo para alcançar a excelência.

E ela era mestre em excelência.

Tão crítica quanto esforçada, recusava-se a fazer qualquer coisa pela metade - ou extra.

Era exato. Medido. Sublime.

No entanto, ela preferia deixar que acreditassem na bela imagem de formosura que criara.

Ninguém precisava saber que sua pele ficava encharcada de suor, nem que seus pés eram cobertos por feridas abertas e muito menos sobre a anorexia que ela alimentava dentro de si. As coisas ruins, ela guardava para si mesma trancadas a vinte chaves.

Tudo que precisava passar, estava ali no palco: Ilusão de perfeição.

As Leis do KarmaWhere stories live. Discover now