E S C O R P I Ã O

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(AVISO DE GATILHO: menção de estupro)

'Fria' era a palavra que ela mais tinha ouvido a seu respeito nos últimos anos. 

Mas ela nunca foi capaz de se relacionar com tal descrição. 

Não entendia como poderiam se referir ao seu interior como frio, sem sentimentos, só porque ela guardava as palavras para expressá-los dentro de si. Havia um oceano profundo nela, água sob um imenso abismo repleto de escuridão, que borbulhava algumas vezes na superfície e transbordava além do seu pequeno corpo em lágrimas. 

Lágrimas contidas, reservada para momentos de solidão que, nos últimos anos, eram inúmeros  já que passava grande tempo na solitária.

Então... Seria o seu corpo frio? Ela desejava. 

Infelizmente, sua pele era quente, calorosa, como um aconchego debaixo de um cobertor.

 Talvez se ela fosse gélida, como um cadáver, ele teria saído de cima dela na primeira vez. Ou na segunda. Ou em qualquer outra. Mas ela exalava calor e, como diziam, atração.

Nos jornais, na época de sua prisão, a apresentavam como uma assassina de sangue frio. 

E nisso também ela nunca se encaixou. Não havia mais sangue no seu corpo, ele já tinha sido espremido dela. Agora só lhe restava veneno correndo por suas veias, proveniente de seu pulsante coração negro, que servia de combustível para um rancor insaciável. 

De qualquer maneira, sangue nunca era frio. Nem mesmo de estupradores, como ela pôde aprender em primeiras mãos.

Mas a vingança... Ah, isso sim era um prato que se comia frio e esse fato ela não podia negar. 

Era uma refeição fria, porém muito satisfatória.

As Leis do KarmaWhere stories live. Discover now