C Â N C E R

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Os olhos daquela mulher eram profundos como o oceano; sempre contornados pela sombra de uma olheira incurável. 

Seu peito farto abrigava um coração já muito remendado que acabava sempre com um pedaço a menos, mas nunca se extinguia. A pele pálida, de quem não gostava de se colocar ao sol, contrastava com os cabelos negros que aos poucos perdiam a cor indicando a passagem dos anos.

Mas ela nada ligava para sua aparência naquela fase da vida, onde passava grande parte do seu tempo dentro de casa com cortinas e portas fechadas. Suas únicas testemunhas oculares eram os objetos que se empilhavam e se acumulavam em todos os cômodos da casa; caixas, livros, utensílios, roupas, brinquedos, lixo. 

Tudo lixo que ela não conseguia se desfazer. 

Assim como os sentimentos negativos e memórias distantes que guardava dentro de si. 

Sua casa era seu templo, seu bem mais precioso. 

Era uma casca onde ela podia se encolher e se esconder, confortada e acolhida por tudo que um dia representou algo em sua vida. Por isso mesmo, ela não saia. Cansada de buscar algo novo para reparar o que estava no passado, se alimentava de memórias

Era mais confortável continuar naquela vida de acumuladora de objetos e mágoas.

As Leis do KarmaWhere stories live. Discover now