Após anos de mau agouro nas novas terras coloniais que vivo desde que migrei de Portugal, finalmente fui agraciado com um pouco de sorte, ao receber a bela notícia que a importante família de Guimarães de Assis, chefiada pelo rico fazendeiro Bernardo Guimarães de Assis, convocou uma investida ao interior do continente em busca de riquezas naturais e mão de obra e eu fui escolhido dentre esse seleto grupo.
Nossa bandeira consistia de outros homens do velho continente como eu, alguma sorte de mestiços e demais homens livres e uma considerada porção de negros da terra e escravos para o trabalho braçal, sendo essa última três partes maior do que todo o resto da expedição.
Ainda não estava completamente habituado com a realidade escravocrata dessas terras, tendo passado maior parte de minha vida em Portugal onde tal atividade é notoriamente reduzida. Me espanta saber inclusive que por aqui, região da capitania de São Vicente, a serventia é de certa forma redutiva se comparada ao que é praticada na região ao norte do país na Capitania de Pernambuco, onde o engenhos de açúcar prosperam em maior número que aqui.
A mim, a nobre escolha de participar dessa expedição ao mato veio mais do conhecimento erudito do que ao conhecimento da mata e flora natural da região, esse segundo sendo relegado aos negros da terra e sertanejos livres. Não que eu seja em si um notório literato, apenas obtive minha educação básica na metrópole quando jovem, o que me coloca numa posição superior a vasta maioria dessa região onde reside homens de tão pobre espírito e eruditismo. Mesmo entre os ricos fazendeiros que tantos recursos tem a sua disposição, fazem pouco da necessidade de informação, visto como um passatempo custoso, o que me parece alarmante para o desenvolvimento cultural dessa região, mas estou divagando.O importante é que tal posição me reserva o cargo de Escrivão Oficial da expedição, por ser o mais hábil a escrever em língua da pátria materna e entender, no limiar da possibilidade, o dialeto corrompido que aqui se fala. Entre os provinciais se fala um dialeto crioulo geral que corresponde foneticamente ao idioma tupinambá dos nativos, do qual eu sirvo como um parco intérprete para a língua materna.
Entendido isso, decidi a dedicar meu tempo vago a colecionar as memórias de antes e durante tal longa jornada, a fim que meus escritos possam servir de guia para novos aventureiros letrados que venham a se aventurar em tão selvagens terras.
A partir de duas semanas de hoje, será iniciada a bandeira que nos levará à tão excitante jornada e, abençoado pela providência divina que guiou nossos caminhos até agora, trazer fartos lucros e ganhos pessoais a seus participantes. Deverá eu nunca mais passar dificuldade em tão infecunda terra para trabalho honesto como vem sido meus dias na colônia, se assim Deus Todo Poderoso desejar.
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A Pestilência Nefasta da Tribo Ka'yngua
TerrorÉ convocado na Vila de São Paulo de Piratininga uma bandeira em direção a oeste do rio Tietê e Paraná com o objetivo de procurar riquezas naturais e escravizar índios. Após uma grande escalada de violência os bandeirantes entram em contato com uma m...