A Pestilência Nefasta da Tribo Ka'yngua

Perdido à própria sorte

A infelicidade e a desgraça parece agora mais ligadas a minha existência do que vermes que acompanham a carne putrefata. Ao procurar fazer meu caminho de volta a vila jesuítica dos espanhóis acabei me alongando muito mais do que esperado. Navegar pela mata fechada não é exatamente minha melhor habilidade, diversas vezes senti estar andando em círculos sem fins, é mesmo uma péssima sensação de se ver sozinho, cercado por árvores por todos os lados sem poder enxergar uma diferença na paisagem sequer.

O trauma das experiências que vivi esses dias, pior do que todos os males que me assolaram em toda minha vida, continuam a me atormentar. Ainda posso escutar o som da carne humana sendo dilacerada a mordidas e os horríveis gritos de dor daqueles que sofrem com tão temível fim. Talvez por isso tenha essa sensação inquietante de que estou sendo perseguido. Cada segundo sozinho na mata me parece aproximar mais daquelas terríveis criaturas do que as afastá las. Posso ouvir em meus sonhos o lento e apavorante grunhido em monotom que as bestas satânicas exalam, seu cantorio macabro da morte.

Para agravar uma situação que já é devastadora, meu ferimento de batalha parece piorar. Cada segundo que fico sem atenção médica e perdido na floresta, correndo e suando, enquanto mal posso limpar a ferida, parece apodrecer mais. O que antes eram riscas vermelhas em carne viva dada a extrema força e crueldade da morte ambulante, agora eram grandes manchas cinzas, com se um enorme braseiro tivesse cozinhado em meu braço.

Sinto as oscilações de temperatura exatamente como os nativos enfermos tinham. Preciso fazer meu caminho a vila jesuítica e pesquisar sobre o tratamento, tentar achar que ervas eram usadas para amenizar os sintomas e procurar demais informações sobre do que tratam esses zumbis e bokors. Depois poderei finalmente voltar a vila e alertar a todos sobre as terríveis coisas que esperam na mata fechada.