Capítulo Dois

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Sentada na privada fria, Amelie esperava a banheira se encher por completo. O vapor beijava sua pele e a abraçava de forma acalentadora, seu cabelo bagunçado pesava em um coque desajeitado no topo de sua cabeça e suas pernas peludas doíam por ter corrido no jardim.

Inspirando longamente, ela tirava restos de terra debaixo das unhas. Aquele baile, ela sabia, não passava de uma desculpa.

Pensar que suas duas irmãs estavam no quarto ao lado, aprontando-se para serem expostas para burgueses famintos, a deixava nauseada.

Ao invés disso Amelie pensou nas belas flores que rascunhara. Pétalas coloridas, minúsculas e delicadas, como ela própria. A única diferença, entretanto, era que as pétalas podiam voar com um sopro, livres como o vento. Já ela estava aprisionada a aquela casa enorme, fadada a se sentir solitária não importa quanta mobília compre ou quantos empregados contratem.

Afundando uma perna na água morna, pensou em como seria se fosse livre, como os irmãos mais velhos. Afundando o tronco na banheira, desejou mais uma vez ter nascido um garoto, para poder caçar e correr na grama. Afundando o peito, imaginou se em sua próxima vida teria essa oportunidade. Submergindo a cabeça, perguntou-se se valia a pena voltar a respirar.

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