Capítulo Quatro

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- Lembrem-se meninas. Sorrisos abertos, seios empinados, narizes limpos. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês. - A Senhora Margot, mãe das garotas, falava, como se estivesse dando ordens a um pelotão de soldados. - Alguma última pergunta?

Sim, Amelie queria dizer. E se eu não quiser me casar? E se eu não quiser ser controlada por mais um homem? E se eu não quiser ser um presente de troca, uma oferenda, um símbolo, uma metáfora? E se eu só quiser ser uma mulher?

- Ótimo. - Continuou a mãe. - Não se esqueçam de perguntar quais são os negócios da família, certo? Agora vão!

Uma de cada vez, as três irmãs entraram no salão. A primeira foi Alice. Seus cabelos tinham sido tingidos de preto e pranchados, presos em um penteado elaborado. Seu vestido vermelho carmesim era curto e brilhava com as luzes douradas dos candelabros. Suas pernas bronzeadas faziam todas as outras mulheres do salão parecem pálidas e sem graça.

A segunda a entrar foi a brilhante Amber. Com os curtos fios loiros emoldurando seu rosto perfeito, lábios vermelhos como sangue e um vestido branco provocador, ela desfilou de forma impecável pelo tapete importado. Olhares de desejo e inveja a miravam, mas sua aura alegre e brilhante não os deixava entrar.

A terceira e última era Amelie. Mal pisara no salão e já se arrependera. A luz era tanta que a cegava, mas, ainda assim, podia sentir os olhares em sua pele. Enquanto caminhava o mais graciosamente que conseguia, ouvia os sussurros de comparação. Eles a atingiam como agulhas em uma boneca, fincando sob sua pele, a fazendo sangrar.

Ela tentou seguir suas irmãs, mas percebeu que era tarde. Ambas já tinham sido engolidas pela burguesia curiosa. Engoliu em seco, desesperada.

Estava pesando em esconder-se na varanda quando uma mão forte a segurou pelo ombro.

- Papai! - Exclamou em um sussurro, os olhos quase lacrimejando de alivio.

- Como está estupenda hoje, meu anjo! - Ele respondeu, também em sussurros.

Seus olhos carregavam rugas profundas, mais de preocupação que de idade. Seus dedos tinhas calos e eram duros e frios, mas Amelie não se importou. Segurou suas mãos firmemente e implorou com o olhar. Sabia que palavras não seriam necessárias.

- Aí está você, querida! - Sua mãe exclamou, o sorriso aberto costurado no rosto, a muito deformando por botox. - Tem alguém querendo te conhecer!

Enlaçando os braços, Margot e Amelie saíram do perto do pai.

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