Capítulo Oito

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Algum tempo tinha passado, apesar de Amelie não conseguir medir o quanto. Tinha sido arrastada de um lado para o outro pela mãe, que a apresentou para praticamente todos os jovens solteiros do salão. Ela tinha caminhado tanto que toda a sujeira do salão ficou grudada na barra de seu vestido.

            Ela respirou fundo, o ar da noite consideravelmente gelado. Não o suficiente para fazê-la desejar um casaco, mas ainda capaz de esfriar os seus pulmões.

             - Amelie, chuchu, cadê você? -  A mãe bradou de dentro do salão. Mesmo com o burburinho dos convidados sua voz era ouvida bem alta e clara.

            Amelie se encolheu mais na a parede do lado de fora do baile, prendendo a respiração quando viu a sombra da mãe se instalar na varanda a sua frente.

             - Ora, Senhor Torres, que susto o senhor me deu!

             - Perdoe meu descuido, Senhora Cloverfield. Vim para tomar um pouco de ar.

             - Sim, entendo... -  a mãe murmurou - Bem, então não lhe perturbarei.

            Amelie suspirou de alivio quando viu a sombra da mãe se afastar.

             - Pode sair agora... -  A voz masculina falou.

            Ela timidamente espiou pela parede. Elias a olhava com uma taça de vinho na mão, os braços cruzados e um sorriso travesso no rosto pardo.

             - Como sabia que eu estava aqui? -  Amelie indagou, ainda meio escondida.

             - Não sabia. Foi só um palpite de sorte.

            Ele saiu para a sacada, andando lentamente pelo piso de pedra polida. Apoiou os braços da cerca de pedra e inspirou profundamente.

             - Por que está se escondendo de sua mãe, senhorita?

             - Ela quer que eu me case com um dos aliados comerciais da família.

             - E qual é o problema? -  Ele a olhou sobre o ombro.

            Amelie estava com as costas nuas apoiadas na parede de pedra fria. Olhou para o céu, ricamente estrelado pela distância da cidade grande. Viver em uma ilha tinha algumas vantagens, e aquela era definitivamente a mais bonita.

             - Você já sentiu que nasceu no tempo errado? Quer dizer, eu amo muito minha família, claro, mas... sei lá...

            Elias se virou para ela.

             - Todo mundo se sente assim vez ou outra. É perfeitamente compreensível.

             - Você acha? -  Ele acedeu.

             - Eu sei.

            Mais uma vez virou para fitar o mar. A sacada, fria e solitária, oferecia a vista para o mar mais limpo e estupendo que Elias já tinha visto. Os peixes coloridos passeavam tranquilamente entre os pedregulhos, amontoados perigosamente próximos a beirada do terraço.

             - É estupendo. Sem dúvidas a melhor vista do mundo... -  Ele exclamou sem fôlego.

            Amelie se aproximou dele, olhando pela imensidão do mar a sua frente.

             - Está enganado. -  Falou simplesmente.

             - Estou? -  Ele ergueu uma sobrancelha.

             - Está.

             - Então prove.

            Ela pensou por alguns instantes, checando o perímetro duas ou três vezes. Depois, enlaçou os dedos finos no pulso do homem.

             - Venha rápido, antes que sejamos vistos.

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