O amanhecer finalmente surgiu no horizonte.
As nuvens negras haviam cessado, dissolvendo-se pouco a pouco e permitindo que a luz da manhã iluminasse as paredes cheias de trepadeiras do castelo, quase que como um prelúdio do que aconteceria. Meu corpo pulsava, cheio de uma energia que não parecia pertencer a mim, era quente como fogo, fervorosa...
Era prepotência minha pensar, que talvez estar caindo de um precipício fosse a razão do dia ter amanhecido?
A cachoeira que surgia de dentro da montanha, onde o enorme castelo fora construído, imponente, chilreava alto, o volume de água sendo expulso de dentro das rochas, chutado para fora e produzindo um som alto ao atingirem o chão. A trilha sonora perfeita.
Minha morte estava tão próxima... Esteve por perto durante toda a missão, durante os poucos dias em que corremos em busca da Esmeralda, tentando de todas as formas recupera-la e manter-nos a salvo ao mesmo tempo, mas nunca havia encarado tão de perto a completa inutilização de meu corpo, a falta de uma escapatória. Recebera tantas segundas chances.
Mas o precipício não me concederia uma segunda chance.
Me doía profundamente, juntando-se aos inúmeros pesos que já povoavam meu coração, pensar que talvez tudo tenha sido em vão. Se ao menos não tivesse sido orgulhosa, poderia ter deixado outra pessoa carregar o colar que nos levaria para casa e que parecia desaparecer de meu pescoço enquanto caía. Assim, ao menos os outros teriam uma chance.
O toque de meus cabelos sujos contra o rosto, açoitados pelo vento cortante, era de alguma forma reconfortante. O vestido de criada em frangalhos esvoaçava à minha volta, lentamente, como se o tempo estivesse passando mais devagar. A mudança na velocidade das coisas não era mais por conta da adrenalina... Mas sim, por conta da aceitação.
Me surpreendi ao perceber o quão fácil é estar à beira da morte.
Já havia atravessado mais de dez metros do ar, inconscientemente sabendo que meu corpo se deslocava como uma bala. Mais dez, quinze metros e o baque dos meus músculos contra as pedras da cachoeira me levaria ao fim. Talvez meu corpo fosse levado pelo rio até outro reino, à algum oceano, ou afundasse e fosse decomposto por peixes e micro-organismos antes que a água tivesse forças para levar-me.
Os pensamentos me confundiam, surgindo e desaparecendo como uma profusão de vozes e sons diferentes. Pensar estava me trazendo um tipo de paz, que jamais experimentara antes.
Como contariam à minha família? Sequer diriam a eles o que realmente aconteceu ou deixariam meus amigos e familiares na escuridão, sem uma resposta ou uma pessoa voltando para casa? Quais consequências minha morte acarretaria em mamãe, em Wesley, Ray ou Eve... Ficariam desolados com minha falta, ou é prepotência imaginar que ficariam?
Cinco metros percorridos com a ajuda da gravidade.
Como as famílias dos outros Escolhidos lidariam com seus filhos desaparecendo misteriosamente, sem deixar rastro algum, sem possibilidade de um funeral digno? A quem implicariam a culpa, se a verdadeira culpada também não havia sobrevivido? Talvez, isso acalentasse o peso que a morte teria em seus corações.
Minha culpa. Sustentar aquela dor, aquele novo peso já na minha morte, seria algo pesaroso. Se houvesse algum outro lado, um lugar de paz e felicidade onde os mortos descansavam, tinha certeza de que a culpa que carregava junto ao peito não me permitia passar a eternidade lá.
Dez metros percorridos. Apenas um momento para o fim.
Meu corpo fora iluminado pela luz da estrela, quente, aquecendo-o como uma mãe, que repetia ao filho que tudo ficará bem. Fechei os olhos, sem oferecer resistência alguma. Os rostos de todas as pessoas importantes em minha vida, meus familiares, os Escolhidos, meus amigos, repetindo como um filme em looping, cada vez mais rápido
E então a dor me atingiu.
A pontada nas costas fora tão intensa que me arrancou um grito, o único sinal de que morrer me incomodava de alguma maneira. Senti meus ossos se estilhaçando como vidro, a pele rasgando, o sangue colorindo a água de rubro, um calor absurdo irrompendo de meu corpo. Lágrimas, sombrias, carregadas de dor.
Mas a morte não veio. Foi substituída pela inconsciência.
Será que o fim é realmente o que parece ser? Que capítulo final misterioso não concordam, pequenininho, cheio de devaneios, para permitir que vocês entrem na mente da Madison, entendam tudo o que ela sente. Essa é a minha interpretação de como deve ser morrer, na visão de uma pessoa que não crê em nenhuma divindade espiritual! Espero que tenham se identificado, mas essa nota já está ficando muito comprida, deixarei as considerações finais mesmo para o epílogo. Só saberemos o que realmente aconteceu na próxima edição de As Sete Pedras, KKKKK. Deixem suas opiniões e teorias nos comentários e não se esqueçam daquela estrelinha linda que me ajuda demais mesmo!
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As Sete Pedras (Livro 1) - Coroa de insanidade.
FantasiSete cores. Sete Pedras. Sete adolescentes. e o destino do universo em mãos. Milhões de anos depois do universo sofrer sua primeira grande guerra cósmica e um dos Quatro Pilares do Firmamento serem destruídos, nasceram sete jovens, escolhidos e...