Madison estava se mostrando extremamente inteligente.
O disfarce era perfeito, continha todos os elementos de vestuário da criadagem. Seria impossível suspeitar de sua farsa, caso não conhecesse todos os criados do palácio, o que não era plausível. Nestes momentos, um Oráculo vinha bem a calhar.
Aquela noite teria uma vasta importância, que já me havia sido anunciada ha muito tempo. Nelifa, jamais faria uma aliança se não pudesse escolher seus termos e claro, que não se satisfazia até que meu nome estivesse entre eles. O Oráculo e as diferenças de pensamento me trouxeram empecilhos banais, motivados pela infantilidade e psicopatia de minha mãe. Já entendia meu destino há muito tempo e sabia que o tratado não chegaria a se consumar por completo, mas anuncia-lo e escreve-lo em tinta preta, fora perturbador.
Em uma de minhas primeiras visões, conheci aquele momento, em detalhes e a cores. Mas na época, não compreendia seu verdadeiro significado, o verdadeiro peso. Hoje, a sensação de dejavu que me perseguia durante toda a vida se intensificou, com a pena em mãos e o olhar dos três homens sobre mim. Relembrar que seria vendida, inegavelmente me perturbava.
Aquela venda não se completaria, se tudo corresse como planejado.
Em meus pensamentos, a vi caminhar pelo castelo, atrás da belíssima criada que sempre esbarro. Madison mantinha o olhar sobre a coroa, fixo na pedra. Era dela que Oráculo me falava constantemente. Repetia que a noite de suma importância chegaria mais cedo do que pensava, minha era de governar estava próxima. Oráculo me contou o suficiente, para que a trouxesse até mim sem muito esforço. Precisava ajuda-la, o fim de Nelifa estava mais próximo a cada segundo.
A presença dos Escolhidos no castelo confundia-me, trazendo visões constantes. Cinco guardas, marchando tão errado que provocavam risadas nos demais, os ocultaram perfeitamente. Todas as manhãs, novos pelotões cobriam as baixas de soldados, as trocas de turnos e divisões constantes, nem sempre bem treinados. A outra garota, de pele escura e olhos confusos, perambulava sorrateiramente, se esgueirando como um fantasma pelo castelo em pedaços. Estavam seguros, ao menos por enquanto.
Madison evitava a todo custo que visse seu rosto, o olhar sempre preso ao chão ou às prateleiras entupidas de livros jamais lidos. Era visível que tentava esconder a ansiedade, limpando constantemente alguma poeira invisível do uniforme. Gostaria de ver pessoalmente as feições que me assombravam, mas compreendia sua postura exitante.
— Finalmente! Venha cá querida. — Pela primeira vez, ela teve a audácia de me encarar, a expressão séria. Seu lábio inferior tremeu levemente.
Sorri, minha boca se retesando de forma sádica. Ela nem sequer desviou o olhar, o que me provocou um arrepio de satisfação. Corajosa, apesar de não levar este atributo junto ao pulso.
— Mandou chamar, Vossa Alteza?
O erro me pareceu grotesco, intensificado pela falta de costume. Jamais, nenhum criado me chamara de Vossa Alteza. Não era apenas uma princesa, mas sim, o Oráculo Detentor da Palavra, um título do qual não poderia fugir.
— Mandei. — Levantei-me, arrumando a barra de meu vestido vermelho entre as pernas. Segurei, usando de uma graça forçada, os papéis que compunham o contrato da minha venda, jogando meus fios incrivelmente negros para o lado. O cheiro de meus óleos de banho pairou no ar, no breve momento em que Madison exitou, encarando a carta. Por fim, ajeitou uma mecha de seu cabelo e a segurou com as duas mãos. — Leve isto aos aposentos da rainha. Vossa Majestade sabe o que é, mas não se encontra em seu quarto, deixe isto na cabeceira de sua cama.
— Claro Alteza. — Sorri, ao ver seus olhos brilhando, quando percebeu a oportunidade perfeita em suas mãos.
Ela esperou outra ordem em silêncio. Apenas assenti e Madison pediu licença, se afastando devagar, visivelmente controlando sua ansiedade para não correr em disparada. Em poucos segundos, atravessou as grandes portas da biblioteca, desaparecendo da minha vista.
Ela conseguiria.
Oráculo me assegurou isso, mas mesmo se não tivesse dito nada, assim que colocasse os olhos sobre a garota, perceberia.
" Eles estão em boas mãos. Confio que os ajudará a passar por tudo isso. " A voz de Oráculo invadiu minha mente, doce, um calmante para o momento perturbadoramente importante.
" É claro. Já me mostrara o que precisarei fazer, seguirei com o planejado. " A respondi, levantando-me e caminhando casualmente até uma prateleira. Retirei dela, um grimório grosso e empoeirado, observando sua capa encouraçada por um longo momento.
" Você nunca me foi uma preocupação, é uma raridade entre seu povo em todos os âmbito. Ao contrário de sua mãe, que sempre fora um problema. Ela não durará o suficiente para que sua fúria recaia sobre você, ou sobre o reino."
" Sim, não faz muito tempo que me mostrara como Nelifa morrerá. "
" Sua interferência será necessária nesta queda, mesmo que indiretamente. " Não a respondi, mergulhando em um silêncio pensativo. Detestava quando precisa interferir, quando o destino escorria entre meus dedos, necessitando de um rumo. Por fim, ignorei-a e busquei satisfazer um pouco da minha curiosidade.
" Mostre-me a garota Oráculo. "
" Com todo o prazer. "
Minha visão anuviou-se, até que a biblioteca se tornasse escuridão e a escuridão se iluminasse com pequenas velas, revelando um corredor ainda naquele andar. A garota caminhava com a carta aberta em mãos, o cheiro e a textura do papel velho inundando meus sentidos. Madison caminhava devagar, os olhos pregados nos pergaminhos, envolvida na leitura.
Ela lentamente parou de caminhar, assim que sua atenção encontrou os últimos versículos do contrato. Parecia mais que surpresa. Não haviam meias palavras ou floreios em meio ao texto, apenas diplomacia pura e única, objetiva, o que talvez a tenha chocado. Não precisava estar em sua pele, para relembrar o que transmitira à Madison tamanha indignação.
Para firmar esta aliança, com a certeza de que ambas as partes cumpriram suas devidas funções, ofereço-lhe por fim, minha filha, a princesa Emanuelly Referny, Oráculo Detentor da Palavra e escrivã real, para casar-se com o príncipe Phillip, herdeiro do trono de Iefer.
Um sentimento avassalador invadiu meu corpo, as sensações de indignação, raiva, formigando por baixo de minha pele. Suspirando profundamente, pisquei, voltando à escuridão e da escuridão de volta à biblioteca. Inconscientemente, abri um sorriso. Com o grimório entre os braços, levantei o olhar para as grandes portas da biblioteca e as transpassei de forma imponente.
Não era necessário perseguir a garota pelo castelo. Aquele formigamento incômodo sob minha pele, respondera quaisquer duvidas que houvessem sido deixadas para trás.
Eu tinha total certeza que Madison faria todo o possível para destruir Nelifa por mim.
Ahhhh, olha só, temos uma mudança de visão nesta história! Isso está se tornando recorrente nessa história e olha, eu estou adorando rever outros pontos de vista e coloca-los em pratica novamente! O que acharam disso, dessa mudança? E sobre a Emanuelly, ela será boa ou nem tanto assim? Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, e não se esqueçam da estrelinha que ajuda tanto essa escritora! kakakaka
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As Sete Pedras (Livro 1) - Coroa de insanidade.
FantastikSete cores. Sete Pedras. Sete adolescentes. e o destino do universo em mãos. Milhões de anos depois do universo sofrer sua primeira grande guerra cósmica e um dos Quatro Pilares do Firmamento serem destruídos, nasceram sete jovens, escolhidos e...