Pensamentos I

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Enquanto me preparava para o jantar o meu telemóvel toca. Atendo e é a minha secretária:

Secretária (Carla): Não te esqueças, amanhã às 10h30 tens encontro com uma cliente na sala 8 da Boa-hora.

Eu (Rita): Ok, não passo no escritório antes, vou directa para lá.

Carla: Está bem. Ficas com o nome?

Rita: Não tenho onde escrever. Amanhã ligo-te a perguntar.

Carla: Está bem. Até amanhã.

Desliga o telefone. Era um dos casos de apoio jurídico gratuito. Já não era obrigada a prestá-lo, mas fazia-me sentir mais humana para quebrar aquele sentimento de indiferença que sentia desde que pertencia a um dos escritório de advogados mais famoso do país.

Miguel: Vamos?

Pergunta o Miguel enquanto me acabo de arranjar. Ia levar-me a jantar fora. O Miguel era meu namorado desde a Universidade. Vivemos juntos à quatro anos. Estudamos juntos, começamos por uma amizade e depois mais tarde ele declarou-se, um dia bêbado depois de uma festa. Fiquei confusa na altura, nunca tinha pensado nele dessa maneira, mas com o tempo e depois de alguma insistência dele percebi que se tinha de estar com alguém era com ele porque era a pessoa que eu gostava mais naquela altura sem dúvida.

Levou-me a jantar ao topo de um prédio, num dos restaurantes da moda. O restaurante tinha esse lugar para ocasiões especiais. Quando fomos para lá perguntei-lhe qual era a ocasião especial e ele disse que era celebrar o nosso amor.

Miguel era advogado como eu. Trabalhamos em escritórios diferentes, ele no do Pai dele, eu tinha sociedade naquele em que trabalhava. Ele jogava Golf e adorava Surf. Eu não gostava de uma coisa nem de outra então passamos muito tempo separados quando ele estava nessas actividades. Mas timos uma relação estável. Sem discussões, sem cobranças de nada.

Naquela noite quando estamos quase a acabar de jantar ele ajoelha-se e pede-me em casamento. "Afinal era isto a ocasião especial". Sempre me fazia surpresas assim. Os olhos dele vidrados como se fosse o momento mais importante da vida dele e eu a sentir pânico por não saber o que lhe responder. Disse sim. Porque lá está, se sentia algo por alguém naquele momento era por ele.

Nessa noite depois de fazermos amor eu não conseguia dormir, levanto-me e vou para a janela da sala ver a cidade. Começo a pensar no que se passou a noite e o passo que estamos a dar. Eu não sabia se o que eu sentia por ele era o máximo de amor. Só tinha sentido uma vez algo muito forte, o que eu achava que podia ser  amor. Foi por uma amiga minha de infância, de adolescência, de juventude... que já não via à mais de quinze anos. Natália era o nome dela. Vivíamos numa aldeia em que éramos as únicas crianças, portanto éramos obrigadas a sermos amigas e fazíamos tudo juntas. Obrigadas não, mas não tinha sido fácil ser de outra maneira. Meus pais foram imigrantes, quando eu tinha seis anos regressaram a Portugal, a uma aldeia no interior, aldeia deles e onde timos casa. Meu irmão do meio já tinha 16 anos, minha irmã mais velha 18. Foram estudar para fora. Não ficaram lá em casa. Tinha essa diferença de idades dos meus irmãos porque eu já não era para nascer. Então chegamos a aldeia, idade para ir para a escola, única colega era a Natália, não havia mais crianças naquela aldeia. Era uma aldeia de emigrantes, e pessoas que se mudaram para as cidades próximas a volta. O pai da Natália era agricultor, tinha animais, a mãe tinha falecido à um ano. Vivia sozinha com o Pai, os irmãos dela também já tinham emigrado. Tinha dois rapazes e duas raparigas. As raparigas sendo mais velhas e depois da mãe deles falecer levaram com elas os rapazes para ajudar o pai a criar os irmãos. Ele pediu para deixarem a Natália para não ficar tão sozinho.

Meu Amor (História Lésbica) -completa-Onde histórias criam vida. Descubra agora